JCEDITORES – Um estudo recém-publicado na revista Risk Analysis revelou que o arroz integral apresenta, em média, 40% mais arsênio inorgânico – um composto químico tóxico – do que o arroz branco nos Estados Unidos, com implicações particulares para a saúde infantil. A pesquisa destaca que crianças, devido ao maior consumo de alimentos em proporção ao peso corporal, enfrentam riscos elevados de exposição ao arsênio, reforçando a necessidade de cuidados no preparo do arroz para proteger esse grupo vulnerável.
O arsênio, encontrado naturalmente no solo e na água, acumula-se na casca e no farelo do arroz, preservados no arroz integral, mas removidos no arroz branco durante o polimento. O estudo mediu concentrações médias de arsênio inorgânico de 154 partes por bilhão (ppb) no arroz integral, contra 92 ppb no arroz branco. Embora esses níveis estejam geralmente dentro dos limites de segurança, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que a exposição prolongada ao arsênio inorgânico pode causar sérios problemas de saúde, especialmente em crianças, cujo desenvolvimento físico e cognitivo é mais sensível a toxinas.
Riscos Específicos para Crianças
Crianças pequenas são particularmente vulneráveis ao arsênio devido a fatores como:
- Maior ingestão relativa: Crianças consomem mais alimentos por quilo de peso corporal do que adultos, o que amplifica a exposição a contaminantes como o arsênio. Por exemplo, o arroz é um ingrediente comum em papinhas e cereais infantis, aumentando o risco em dietas onde ele é frequente.
- Impactos no desenvolvimento: A OMS aponta que a exposição crônica ao arsênio em crianças pode levar a problemas neurológicos, como dificuldades de aprendizado e redução do quociente de inteligência (QI), além de maior risco de doenças crônicas na vida adulta, incluindo câncer de pulmão, bexiga e pele. Mesmo níveis baixos, se acumulados ao longo do tempo, podem ser prejudiciais.
- Sistema imunológico e metabólico em formação: O arsênio pode interferir no crescimento e no fortalecimento do sistema imunológico, aumentando a suscetibilidade a infecções e outras condições de saúde.
A Agência Americana de Alimentos e Medicamentos (FDA) estabeleceu um limite de 100 ppb para arsênio inorgânico em cereais de arroz destinados a bebês, reconhecendo que crianças pequenas enfrentam maior risco. O estudo observa que, embora a média de arsênio no arroz integral (154 ppb) exceda esse limite, a exposição real depende da quantidade consumida e da frequência. Para famílias que dependem do arroz como base alimentar, especialmente em dietas infantis, o risco cumulativo pode ser significativo.
Impactos a Longo Prazo do Arsênio
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o estudo detalham que a exposição prolongada ao arsênio inorgânico está associada a diversos problemas de saúde a longo prazo, com efeitos particularmente graves em crianças, que consomem mais alimentos por quilo de peso corporal.
Esses impactos incluem:
- Câncer: A OMS classifica o arsênio inorgânico como carcinogênico, com exposição crônica associada a maior risco de câncer de pulmão, bexiga, rim, fígado e pele. Para crianças, a exposição precoce pode aumentar a probabilidade de desenvolver essas doenças na idade adulta, mesmo com doses relativamente baixas acumuladas ao longo do tempo.
- Doenças Cardiovasculares: Estudos citados pela OMS indicam que o arsênio pode contribuir para hipertensão, doenças cardíacas e derrames em adultos expostos desde a infância. A exposição prolongada danifica vasos sanguíneos e interfere na saúde cardiovascular, com efeitos que podem se manifestar décadas após o contato inicial.
- Problemas Neurológicos e Cognitivos: Em crianças, o arsênio pode prejudicar o desenvolvimento cerebral, resultando em redução do quociente de inteligência (QI), dificuldades de aprendizado e problemas de memória. A pesquisa destaca que esses efeitos são cumulativos, sendo mais graves quanto mais cedo e frequente for a exposição, com impactos que podem persistir na vida adulta, afetando desempenho acadêmico e profissional.
- Distúrbios Metabólicos: A exposição ao arsênio está ligada ao aumento do risco de diabetes tipo 2, devido à interferência na regulação da glicose e na função metabólica. Crianças expostas podem enfrentar maior predisposição a essas condições ao longo da vida.
- Lesões na Pele e Outros Efeitos: A OMS aponta que o arsênio pode causar lesões cutâneas características, como hiperpigmentação e queratose, que podem evoluir para câncer de pele. Além disso, a exposição crônica enfraquece o sistema imunológico, aumentando a suscetibilidade a infecções e doenças.
Medidas para Reduzir a Exposição
Os autores do estudo recomendam práticas simples para minimizar o arsênio, especialmente em alimentos infantis:
- Lavar e cozinhar adequadamente: Lavar o arroz até que a água fique clara e cozinhá-lo em proporções altas de água (como 6:1), descartando o excesso após o cozimento, pode reduzir o arsênio em até 40-60%.
- Diversificar a dieta: Substituir o arroz por outros grãos, como aveia, quinoa ou milho, em refeições infantis, ajuda a diminuir a exposição acumulada ao arsênio.
- Moderação no consumo: Limitar o uso de arroz integral em dietas de crianças pequenas, optando por variedades de arroz branco em algumas ocasiões, pode equilibrar benefícios nutricionais e segurança.
Equilíbrio entre Nutrição e Segurança
O arroz integral continua sendo uma fonte valiosa de fibras, vitaminas do complexo B e minerais, como magnésio, mas exige cautela em populações vulneráveis. A FDA enfatiza que não é necessário eliminar o arroz da alimentação infantil, mas recomenda que pais e cuidadores diversifiquem os cereais oferecidos e sigam técnicas de preparo que reduzam contaminantes.
A conscientização sobre os riscos do arsênio é crucial para garantir que o arroz, um alimento globalmente consumido, seja seguro para as crianças.
O estudo reforça a importância de políticas públicas que monitorem os níveis de arsênio em alimentos e orientem as famílias, especialmente em regiões onde o arroz é um pilar da dieta infantil. Com medidas práticas, é possível preservar os benefícios do arroz integral sem comprometer a saúde das novas gerações.
Referencias:
- Estudo: “Arsenic Content and Exposure in Brown Rice Compared to White Rice in the United States”, Risk Analysis, 2025. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/risa.70008
- Organização Mundial da Saúde (OMS), Ficha Informativa sobre Arsênio, 2024. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/arsenic
- Agência Americana de Alimentos e Medicamentos (FDA), Documento de Apoio ao Nível de Ação para Arsênio Inorgânico em Cereais de Arroz para Bebês, 2023. Disponível em: https://www.fda.gov/food/chemical-metals-natural-toxins-pesticides-guidance-documents-regulations/supporting-document-action-level-inorganic-arsenic-rice-cereals-infants