JCEDITORES – Massachusetts é um estado considerado santuário? Boston é uma cidade santuário? Os conservadores acreditam que sim. Contudo, democratas como a governadora Maura Healey e a prefeita de Boston, Michelle Wu, oferecem respostas distintas a essa discussão sobre a imigração em Massachusetts e o grau de interação entre autoridades federais de imigração e a polícia local.
Na semana passada, Healey afirmou claramente que Massachusetts “não é um estado santuário”, ao ser questionada se Tom Homan, responsável pelas políticas de fronteira do presidente Donald Trump, cumpriu sua promessa de trazer “inferno” a Boston durante visita recente. “A polícia estadual e local continua a cooperar com as forças federais de segurança e agências federais”, declarou Healey, que busca a reeleição. “Como ex-procuradora-geral, asseguro que estou fazendo tudo ao meu alcance para apoiar o trabalho das forças de segurança no combate ao crime nas comunidades. Também lembro que Massachusetts está entre os estados mais seguros do país.”
Essa não é uma posição nova da governadora, que reitera a cooperação do estado, incluindo a Polícia Estadual de Massachusetts, com autoridades federais de imigração onde possível. Uma decisão judicial de sete anos atrás também proíbe polícia e tribunais de deterem pessoas apenas por suspeitas de violações civis de imigração.
Michelle Wu, candidata à reeleição em Boston adota uma abordagem distinta. Em audiência no Congresso e no programa “The Daily Show”, da Comedy Central, ela destacou sua visão. Declarando Boston “a cidade grande mais segura” do país, disse aos legisladores em Washington: “Uma cidade assustada não é uma cidade segura.”
No “The Daily Show”, ao ser perguntada pelo apresentador Ronny Chieng sobre o que responde a eleitores que defendem a prisão e deportação de imigrantes ilegais, Wu afirmou: “Boston é a cidade mais segura porque é segura para todos.” Ela acrescentou: “Em uma comunidade onde mais de um quarto dos residentes nasceu em outro país, se as pessoas têm medo de deixar os filhos na escola, ligar para o 911 ou compartilhar informações sobre crimes, isso torna todos menos seguros, independentemente de serem imigrantes, de estarem aqui há seis gerações ou terem acabado de chegar.”
Wu também refutou a “narrativa falsa” de que imigrantes cometem mais crimes. “Isso simplesmente não é verdade”, disse ela. “Sabemos que, em nossa cidade, as comunidades imigrantes são empreendedoras, sustentam os melhores hospitais, universidades e empregos dos quais todos dependemos. Para manter esse progresso, todos precisam se sentir parte dele.”
Healey e Wu buscam atrair grupos distintos de eleitores. Healey enfrentará um republicano em 2025, que deve criticar o custo do sistema estadual de abrigos, agora com menos recém-chegados após abrigar milhares de famílias migrantes. Ela precisa conquistar votos em todo o estado, onde eleitores mostraram inclinação conservadora na última eleição presidencial. Wu, em uma cidade fortemente democrata, defende políticas inclusivas e o Trust Act, que impede a cooperação de departamentos municipais com autoridades federais.
Ambas parecem almejar projeção nacional. Resta saber qual mensagem sobre imigração as levará a esse objetivo.
Pragmatismo Sim, Ideologia Não
Massachusetts é majoritariamente democrata, mas há bolsões conservadores, especialmente em áreas rurais e suburbanas no oeste e sul do estado. Sua abordagem “parcialmente colaborativa” com agentes federais — como permitir que a polícia estadual auxilie em casos de crimes violentos envolvendo imigrantes — é uma jogada estratégica. Ela sinaliza firmeza na segurança pública, um tema caro a eleitores moderados e conservadores, enquanto mantém uma postura que não aliena a base progressista que a elegeu. Para a reeleição em 2026, Healey precisa desse equilíbrio: não pode parecer “mole” com imigração ilegal aos olhos de críticos, mas também não quer perder o apoio de ativistas de direitos dos imigrantes.
Michelle Wu, por outro lado, governa Boston, uma cidade onde o eleitorado é esmagadoramente progressista — cerca de 85% votaram em democratas nas últimas eleições presidenciais. Como prefeita desde 2021, com reeleição em vista para 2025, ela não tem a mesma pressão para agradar conservadores. Sua recusa em colaborar com a ICE, alinhada ao Trust Act e ao status de “cidade santuário” de Boston, ressoa com a base local: jovens, minorias e ativistas que a veem como um símbolo de resistência às políticas anti-imigração federais. Wu modula sua abordagem para reforçar essa identidade socialista, sem necessidade de concessões a uma direita que mal existe em sua esfera municipal.
A divergência nas abordagens, então, é menos sobre ideologia pura e mais sobre pragmatismo eleitoral. Healey joga um xadrez estadual, onde cada movimento é calibrado para manter uma coalizão ampla; Wu joga um jogo municipal, onde pode dobrar a aposta no progressismo sem risco significativo.