JCEditores – Em seu primeiro discurso aos cardeais, em 10 de maio de 2025, no Vaticano, o recém-eleito Papa Leão XIV, o primeiro papa americano, abordou a inteligência artificial (IA) como um desafio para a humanidade. Suas palavras, embora breves, revelam uma visão inicial sobre o impacto transformador da IA, seu potencial e limitações, e a necessidade implícita de regulação ética.
Citando diretamente, ele afirmou: “Em nossos dias, a Igreja oferece a todos o tesouro de seu ensino social em resposta a outra revolução industrial e aos desenvolvimentos no campo da inteligência artificial que impõem novos desafios para a defesa da dignidade humana, justiça e trabalho.” Ele também conectou sua escolha do nome papal a Leão XIII, que enfrentou a Revolução Industrial com a encíclica Rerum Novarum: “Senti-me chamado a continuar nesse mesmo caminho, escolhi o nome Leão XIV […] principalmente porque o Papa Leão XIII […] abordou a questão social no contexto da primeira grande revolução industrial.”
Leão XIV demonstra uma percepção aguda ao comparar a IA a uma “revolução industrial”. Essa analogia sublinha a magnitude da transformação que a IA está promovendo em áreas como trabalho, economia e relações sociais.
Ao vinculá-la à Revolução Industrial, ele reconhece que a IA não é apenas uma inovação tecnológica, mas um fenômeno que redefine a sociedade, trazendo tanto oportunidades quanto riscos. Sua menção à “dignidade humana, justiça e trabalho” como áreas desafiadas sugere que ele vê a IA como uma força que pode ampliar desigualdades ou desumanizar, caso não seja orientada por princípios éticos. Essa visão, expressa em seu primeiro discurso, indica uma intenção de posicionar a Igreja como uma voz moral em um debate global, ecoando a tradição de Rerum Novarum de enfrentar mudanças estruturais com clareza.
As palavras de Leão XIV revelam um tom equilibrado: ele não demoniza a IA, mas a apresenta como um desafio que exige resposta ativa. O potencial da IA é implícito em sua comparação com a Revolução Industrial, que trouxe avanços significativos, como maior produtividade e inovação.
Ao não condenar a tecnologia, ele sugere que a IA pode ser dirigida para o bem comum, talvez em áreas como educação ou saúde, alinhando-se com a missão da Igreja de servir os vulneráveis. No entanto, suas limitações são claras em sua preocupação com a “dignidade humana” e o “trabalho”. Ele parece alertar contra a automação desenfreada ou o uso de IA para fins que priorizem lucros sobre pessoas.
A brevidade de suas declarações, porém, é uma limitação em si: faltam detalhes sobre como a Igreja abordará esses desafios, deixando sua visão mais aspiracional do que prática neste momento inicial de seu papado.
Embora Leão XIV não mencione explicitamente a palavra “regulação”, sua ênfase em “novos desafios” e na necessidade de proteger a dignidade humana implica a importância de diretrizes éticas para a IA. Ao evocar Rerum Novarum, que defendeu regulamentações trabalhistas contra abusos do capitalismo industrial, ele sugere que a IA também requer parâmetros para evitar impactos negativos, como a concentração de poder ou a erosão de direitos. Sua abordagem reflete a tradição católica de buscar um equilíbrio entre inovação e responsabilidade, propondo que a Igreja use seu “ensino social” para orientar o desenvolvimento tecnológico.
As declarações de Leão XIV sobre IA, embora concisas, estabelecem a tecnologia como uma prioridade ética. Seu reconhecimento do impacto transformador da IA, aliado a uma visão cautelosa sobre seu potencial e limitações, posiciona a Igreja como uma defensora da humanidade em um mundo digital.
A necessidade implícita de regulação aponta para um futuro onde ele pode apoiar iniciativas como restritivas o uso dessa tecnologia. À medida que seu papado evolui, espera-se que Leão XIV refine essa visão, oferecendo respostas concretas aos desafios da IA.