
Medford (MA), 25, de Setembro de 2025
Um ataque a tiros na manhã desta quinta-feira (25) na Escola Estadual Professor Luiz Felipe, no bairro Campos Velhos, em Sobral, interior do Ceará, chocou a comunidade local e o país. Dois alunos adolescentes, de 16 e 17 anos, foram mortos, e outros três estudantes ficaram feridos após disparos realizados por homens em uma motocicleta, posicionados na calçada externa da instituição. O crime, ocorrido por volta das 8h durante o intervalo das aulas, transformou o pátio da escola em cenário de pânico e correria.
De acordo com relatos de testemunhas, os atiradores abriram fogo contra o estacionamento e o pátio da escola, onde dezenas de alunos conversavam e circulavam. Vídeos amadores que viralizaram nas redes sociais mostram estudantes desesperados correndo para se proteger, enquanto gritos ecoavam pelo local. “Foi uma cena de terror. Todo mundo se jogou no chão, tentando escapar”, relatou um aluno que preferiu não se identificar. Os dois adolescentes mortos foram encontrados no pátio, com ferimentos fatais. Os três feridos, também estudantes, foram rapidamente socorridos pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e encaminhados à Santa Casa de Misericórdia de Sobral.
Até o fechamento desta matéria, a unidade hospitalar confirmou que os jovens deram entrada com lesões por arma de fogo, mas não divulgou detalhes sobre o estado de saúde. Durante o atendimento à ocorrência, a polícia encontrou com uma das vítimas uma quantidade de entorpecentes, embalagens e uma balança de precisão, sugerindo possível envolvimento com o tráfico de drogas. A descoberta reforça a linha de investigação de que o ataque pode estar ligado a disputas entre facções criminosas.
A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS-CE) mobilizou equipes da Polícia Militar (PMCE), Polícia Civil (PCCE) e Perícia Forense (Pefoce) para apurar o caso. O policiamento foi intensificado na região, e a 1ª Delegacia de Polícia Civil de Sobral disponibilizou o número (88) 3677-4291 para denúncias anônimas. Até o momento, nenhum suspeito foi preso.
A principal hipótese investigada é que o ataque tenha relação com conflitos entre facções criminosas, como o Comando Vermelho (CV), o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Terceiro Comando Puro (TCP), que disputam territórios no interior do Ceará. Fontes policiais sugerem que o alvo principal seria um aluno ligado a uma facção rival, mas o tiroteio acabou vitimando outros estudantes de forma indiscriminada.
Sobral, a 12ª cidade mais violenta do Brasil segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025 (com taxa de 59,9 homicídios por 100 mil habitantes), já enfrenta episódios de violência em escolas. Em 2022, um estudante de 15 anos foi morto em um tiroteio semelhante em outra instituição da cidade. Na véspera do ataque, quarta-feira (24), uma tentativa de homicídio foi registrada próximo a uma escola no bairro Sumaré, evidenciando a escalada da violência na região.
O governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), usou as redes sociais para expressar “profundo pesar e indignação” pelo ocorrido, classificando-o como “gravíssimo e intolerável”. Ele determinou o envio da cúpula da segurança pública a Sobral para coordenar as investigações e reforçar o policiamento, além de prestar solidariedade às famílias das vítimas. O ministro da Educação, Camilo Santana, ex-governador do Ceará, também se manifestou, declarando estar “profundamente triste e indignado”. O Ministério da Educação (MEC) ofereceu apoio ao estado e à prefeitura de Sobral, comandada por Oscar Rodrigues (União Brasil), para ações de suporte à comunidade escolar.
A Secretaria da Educação do Ceará (Seduc) anunciou a suspensão das aulas na Escola Professor Luiz Felipe para esta sexta-feira (26). A pasta informou que a Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (Crede) oferecerá apoio psicológico aos alunos, professores e funcionários no retorno às atividades. “Estamos devastados com essa tragédia e comprometidos em apoiar a comunidade escolar”, diz nota oficial da Seduc.
A Escola Estadual Professor Luiz Felipe, que atende 1.159 alunos do ensino médio e conta com 54 professores, segundo o Censo Escolar 2024, é conhecida por sua participação em programas de cidadania e por fazer parte do modelo educacional de Sobral, referência nacional em alfabetização. No entanto, o ataque expõe a vulnerabilidade das escolas frente à violência urbana. Pais e alunos expressaram medo e insegurança. “Mandar meu filho pra escola agora dá um aperto no coração. Como a gente vai confiar?”, desabafou Maria das Graças, mãe de um estudante. Outro aluno, que presenciou o ataque, relatou à imprensa local: “Não dá nem mais ânimo de vir, porque a gente vai estar correndo risco.”