JSNEWS – Um ataque violento chocou a cidade de Boulder, no Colorado, no último domingo, 1º de junho, quando Mohamed Sabry Soliman, um egípcio de 45 anos, usou um lança-chamas improvisado e coquetéis molotov contra manifestantes pró-Israel do grupo “Run for Their Lives”, que se reuniam pacificamente no Pearl Street Mall para pedir a libertação de reféns mantidos em Gaza. O incidente, classificado pelo FBI como um “ato de terrorismo”, deixou oito pessoas feridas, com idades entre 52 e 88 anos, incluindo uma sobrevivente do Holocausto. As vítimas sofreram queimaduras, algumas graves, e foram levadas a hospitais locais, com duas transferidas para a unidade de queimados do Aurora Hospital.
Soliman, que gritava frases como “Free Palestine”, “End Zionists” e “They are killers” durante o ataque, foi preso no local e levado ao hospital para avaliação médica antes de ser transferido para a prisão do condado de Boulder, onde está detido com uma fiança de US$ 10 milhões. Ele enfrenta acusações graves, tentativa de incluindo homicídio em primeiro grau, agressão em primeiro grau, crimes contra idosos e uso de explosivos ou dispositivos incendiários.
Contexto de Imigração e Polarização Política
Soliman, um cidadão egípcio, entrou nos Estados Unidos em agosto de 2022 com um visto de turista que expirou em fevereiro de 2023. Ele solicitou asilo e obteve uma autorização de trabalho válida até março de 2025, mas, segundo autoridades, estava em situação irregular no momento do ataque. O caso reacendeu debates acalorados sobre imigração nos EUA, com figuras políticas como Stephen Miller, vice-chefe de gabinete da Casa Branca, classificando Soliman como um “imigrante ilegal” e criticando a administração Biden por conceder-lhe um visto e permissão de trabalho.
Miller afirmou no X que o incidente é um exemplo de “migração suicida” que deve ser revertida, intensificando a retórica anti-imigração da administração Trump.
Por outro lado, democratas como o representante Jerry Nadler e a senadora Elizabeth Warren condenaram o ataque como “claramente antissemita” e expressaram solidariedade à comunidade judaica, destacando a necessidade de combater o aumento de crimes de ódio. O governador do Colorado, Jared Polis, e o procurador-geral do estado, Phil Weiser, também condenaram o ato, com Weiser classificando-o como um possível crime de ódio devido ao grupo-alvo.
Paralelo com o Ataque em Washington
O incidente em Boulder ocorre menos de duas semanas após outro ataque violento em Washington, D.C., em 21 de maio de 2025, onde Elias Rodriguez, de 31 anos, matou a tiros dois funcionários da embaixada de Israel, Yaron Lischinsky, 30, e Sarah Milgrim, 26, enquanto gritava “I did it for Palestine, I did it for Gaza”. Esse ataque, também considerado um crime de ódio antissemita, intensificou as tensões em um país já profundamente dividido sobre o conflito Israel-Gaza.
Ambos os casos – o de Boulder e o de Washington – ilustram como a polarização política e ideológica nos EUA tem alimentado ações extremistas. O conflito em Gaza, iniciado após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, que matou cerca de 1.200 pessoas e resultou em 251 reféns, desencadeou um aumento de incidentes antissemitas e antimuçulmanos nos EUA.
A retórica inflamada em campi universitários, redes sociais e protestos de rua tem sido apontada como um fator que cria um ambiente propício para atos de violência.
Jim Berk, CEO do Simon Wiesenthal Center, afirmou que “a demonização incessante de Israel e do sionismo em nossas universidades, ruas e plataformas digitais criou um clima onde o ódio floresce, e ataques físicos – até assassinatos – de judeus se tornam inevitáveis”.
Divisões Políticas e Incentivo ao Radicalismo
As divisões políticas nos EUA, especialmente em relação à política externa no Oriente Médio, têm amplificado tensões internas. Conservadores, liderados pelo presidente Donald Trump, têm rotulado protestos pró-Palestina como antissemitas, enquanto a administração intensificou a repressão a manifestações contra a guerra em Gaza, incluindo detenções sem acusação formal e cortes de financiamento a universidades onde esses protestos ocorreram. Essa postura tem sido criticada por alguns como uma tentativa de silenciar dissidências legítimas, enquanto outros argumentam que é uma resposta necessária ao aumento de atos violentos.
Por outro lado, os socialistas ligados ao partido democrata têm acusado o governo de ignorar o sofrimento palestino e de reforçar uma narrativa que associa automaticamente o apoio à causa palestina ao terrorismo.
Essa polarização cria um ciclo vicioso: a retórica de ambos os lados – seja a demonização de Israel como “genocida” ou a caracterização de manifestantes pró-Palestina como “terroristas” – alimenta o extremismo. Postagens nas redes sociais reforçam narrativas que vinculam o ataque de Soliman a políticas de “fronteiras abertas” da administração Biden, enquanto outros usuários acusam a mídia de distorcer a identidade do suspeito para minimizar o impacto do incidente.
Reações e Implicações
O ataque em Boulder, assim como o tiroteio em Washington, expõe a fragilidade do discurso público nos EUA em um momento de crescente polarização. A retórica inflamatória, combinada com a facilidade de acesso a materiais para fabricar armas improvisadas altamente destrutivas levanta preocupações sobre a segurança em manifestações públicas.
Autoridades locais e federais, incluindo o FBI, estão investigando se Soliman agiu sozinho ou tinha conexões com grupos organizados, mas até agora não há evidências de uma rede maior. A casa de Soliman em El Paso County foi alvo de buscas, e o FBI prometeu atualizações à medida que a investigação avança.
Enquanto a comunidade judaica de Boulder lamenta o ataque, que coincidiu com o início do feriado judaico de Shavuot, líderes comunitários e organizações como a Anti-Defamation League pedem ações concretas para combater o antissemitismo. Ao mesmo tempo, o caso reacende o debate sobre imigração, segurança pública e a necessidade de um diálogo que desarme a retórica de ódio em vez de incentivá-la.