BBC – O ataque a tiros em uma escola da cidade de Nashville, no Estado americano do Tennessee, foi o 131º tiroteio em massa nos Estados Unidos desde o início deste ano, segundo a Gun Violence Archive, uma organização sem fins lucrativos que monitora dados de violência armada.
Ou seja, houve uma média de 1,5 tiroteio em massa por dia no país de 1º de janeiro a 27 de março (86 dias).
A Gun Violence Archive considera como tiroteios em massa incidentes envolvendo armas de fogo em que “quatro ou mais pessoas são mortas ou feridas”.
E eventos como esse estão em alta nos Estados Unidos nos últimos anos.
Em 2020, foram 610 tiroteios em massa. Em 2021, 690. E, no ano passado, 647. Para efeitos de comparação, foram registrados 273 tiroteios em massa em 2014.
Só neste ano, segundo a Gun Violence Archive, já são quase 10 mil mortes por armas de fogo no país.
Desse total, 5.742 estão relacionadas a suicídios. As 4.248 restantes envolvem homicídios (intencionais ou não, acidentais e por autodefesa).
Entre as crianças de 0 a 11 anos, 59 foram mortas e 130 ficaram feridas. Entre adolescentes, de 12 a 17, o número é maior: 344 mortos e 827 feridos.
Desde 2020, as armas de fogo são a principal causa da morte entre crianças e adolescentes nos Estados Unidos, à frente dos acidentes com veículos motorizados (tanto relacionados ao trânsito quanto não relacionados ao trânsito), segundo um estudo recente dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), órgão ligado ao Departamento de Saúde dos Estados Unidos.
Tiroteios em massa
O tiroteio em massa mais letal da história dos Estados Unidos ocorreu em 2017 em Las Vegas, no estado de Nevada, quando 58 pessoas morreram e 867 ficaram feridas.
Um atirador abriu fogo contra uma multidão que participava do festival Route 91 Harvest de seu quarto no 32º andar do Mandalay Bay Resort and Casino.
O incidente durou mais de 15 minutos, enquanto os espectadores em pânico tentavam se proteger, sem saber de onde vinham os tiros.
Uma unidade da SWAT, um tipo de polícia especializada dos Estados Unidos, invadiu o quarto do atirador e o encontrou morto por suicídio.
Segundo uma sondagem do instituto de pesquisa Gallup, de outubro de 2022, 57% dos americanos querem leis mais estritas para o controle de armas, 32% defendem que elas se mantenham como estão e 10% advogam por maior flexibilização.
Entenda o caso em Nashville
Pelo menos três crianças e três adultos foram mortos em um ataque a tiros na The Covenant School, uma escola cristã particular para alunos de 3 a 11 anos, em Nashville, no Estado americano do Tennessee.
Os estudantes mortos, de oito e nove anos, foram identificados pela polícia como Evelyn Dieckhaus, Hallie Scruggs e William Kinney.
Cynthia Peak, de 61 anos, Katherine Koonce, de 60 anos, e Mike Hill, 61 de anos, também foram mortos durante o ataque, acrescentaram os policiais.
Audrey Hale, de 28 anos, foi identificado como o autor do ataque.
Houve uma confusão inicial sobre a identidade de gênero de Hale — a polícia inicialmente a descreveu como uma mulher cisgênero e, posteriormente, disse que Hale se identificava como um homem transgênero.
Ele estava armado com três revólveres, incluindo um rifle semiautomático, e foi morto a tiros pela polícia.
Hale, que não tinha antecedentes criminais, era ex-aluno da escola e os policiais acreditam que “ressentimento” pode ter sido o motivo para o ataque.
O atirador tinha um manifesto e desenhou um mapa detalhado da escola, com pontos de entrada. A polícia agora está estudando esses documentos.
A polícia recebeu a primeira ligação sobre o incidente às 10h13, horário local (11h13 de Brasília), na segunda-feira (27/3).
O suspeito dirigiu até a escola e entrou atirando por uma das portas, que estavam todas trancadas.
O vídeo divulgado posteriormente pela polícia de Nashville mostra Hale usando uma arma para quebrar as vidraças das portas da frente e vagando pelos corredores desertos da escola — em um ponto passando por uma sala intitulada “Ministério Infantil”.
Na gravação, Hale está vestindo o que parece ser um colete protetor e carregando um rifle de assalto em uma mão, com uma segunda arma semelhante também visível pendurada no quadril esquerdo.
Quando os carros da polícia chegaram, Hale atirou contra eles, acertando um dos veículos no para-brisa, informou a polícia.
Um policial foi ferido por estilhaços de vidro. A polícia correu para dentro da escola e matou Hale às 10h27 na hora local.
Uma busca em um carro estacionado nas proximidades levou os policiais a “acreditar firmemente” que Hale era um ex-aluno da escola, disse a polícia.
Policiais conversaram com o pai de Hale durante uma busca em uma casa próxima listada como o endereço do atirador.
O chefe da polícia de Nashville, John Drake, disse que os investigadores encontraram um manifesto e “um mapa de como tudo isso iria acontecer”, incluindo pontos de entrada e saída no prédio da escola.
Na busca na casa de Hale, foram encontradas mais armas, além das usadas no ataque, como duas espingardas.
A mãe de Hale, Norma Hale, disse à emissora ABC News: “É muito, muito difícil agora”, antes de pedir privacidade.
Um porta-voz da polícia disse ao jornal Washington Post que Hale “é uma mulher biológica que, em um perfil nas redes sociais, usou pronomes masculinos”.
Reações
A Covenant School, afiliada aos presbiterianos, está localizada no sofisticado bairro de Green Hills, ao sul do centro de Nashville.
Em um comunicado, a escola disse que “nossa comunidade está com o coração partido”.
“Estamos sofrendo uma perda tremenda e estamos em choque ao sair do terror que destruiu nossa escola e igreja”.
Horas depois do ataque a tiros, um serviço fúnebre para as vítimas foi realizado numa igreja próxima à escola.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, chamou o ataque a tiros de “o pior pesadelo da família”.
“Temos que fazer mais para acabar com a violência armada”, disse ele, mais uma vez instando o Congresso a aprovar leis de controle de armas mais rígidas.
“Isso está destruindo nossas comunidades e destruindo a própria alma desta nação.”
Segundo dados compilados pelo periódico Education Week, houve 12 ataques a tiros em escolas que resultaram em mortes ou ferimentos nos EUA neste ano até o final da semana passada.
* Texto originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/articles/cqvj817340lo