Da Redação – Advogados e ativistas defensores dos direitos do imigrantes apelaram as autoridades de Beacon Hill (governo do estado de Massachusetts, incluindo sua legislatura e administração) a intensificar a resistência contra o que classificaram como um “ataque generalizado” da administração Trump aos imigrantes no estado, solicitando aos legisladores a criação de salvaguardas legais mais robustas enquanto autoridades federais anunciam a intenção de realizar deportações em massa por todo o país.
Na quarta-feira, 19, organizações de defesa dos direitos dos imigrantes reuniram-se para exortar os parlamentares a avançar com dois projetos de lei que, em grande parte, limitariam as interações entre a polícia local e as autoridades federais de imigração, além de instituir um fundo financiado pelos contribuintes para custear serviços jurídicos a migrantes ameaçados de deportação.
O senador Jamie Eldridge, democrata de Marlboro, declarou que imigrantes sem documentação, indivíduos com status de proteção temporária e portadores de green card enfrentam crescentes ameaças com o retorno de Trump à Casa Branca para um segundo mandato. Ele é o principal autor do “Ato das Comunidades Seguras”, legislação que impediria as forças policiais de Massachusetts de exercerem funções de agentes de imigração e proibiria tribunais e policiais de indagarem sobre o status migratório de uma pessoa.
A proposta também veta que a polícia inicie comunicações com o Departamento de Segurança Interna dos EUA (DHS) acerca da liberação iminente ou pendente de alguém da prisão por qualquer motivo que não seja o término de sua pena criminal. Eldridge afirmou que a medida garante que “nem um único dólar dos contribuintes de Massachusetts seja utilizado para deportações em massa”. Um exemplo prático disso é a cidade de Lowell, onde a colaboração passada entre polícia local e autoridades federais resultou na detenção de imigrantes por infrações menores, como multas de trânsito, gerando temor e instabilidade nas comunidades locais.
“Somos cientes do que enfrentamos. Reconheço que este é um momento sombrio”, disse ele a uma multidão de imigrantes e apoiadores na Assembleia Estadual durante o anual “Dia dos Imigrantes”, promovido pela Coalizão de Defesa de Imigrantes e Refugiados de Massachusetts.
Eldridge tem apresentado o projeto há anos, com pouco êxito. Contudo, ele acredita que a proposta possa ter melhores chances de ser aprovada na sessão legislativa de 2025-2026, com Trump novamente no comando em Washington.
Nos três meses desde o retorno de Trump à presidência, as autoridades federais divulgaram uma série de operações de imigração em Massachusetts, incluindo a prisão, nesta semana, de um imigrante ilegal acusado de múltiplos crimes sexuais contra crianças no estado.
Republicanos no Congresso também destacaram Boston por suas políticas relacionadas à imigração, chegando a convocar a prefeita Michelle Wu para depor no Capitólio dos EUA. A crescente atenção sobre Massachusetts ocorre enquanto o estado ainda destina centenas de milhões de dólares ao sistema emergencial de abrigos, que acolhe tanto famílias locais quanto migrantes sem-teto, incluindo crianças e mulheres grávidas. Em Springfield, a sobrecarga desse sistema já levou à abertura de abrigos improvisados em ginásios escolares, impactando o acesso de estudantes a atividades extracurriculares.
Lauren Jones, secretária de Trabalho e Desenvolvimento da Força de Trabalho de Massachusetts, afirmou que o estado “há muito é um farol de oportunidades” e que os imigrantes são “a pedra angular de nosso sucesso”, representando cerca de 20% da força de trabalho estadual. “Abrigamos uma das forças de trabalho estrangeiras mais qualificadas do país. De fato, um em cada três imigrantes que chega ou reside em nosso estado possui diploma de bacharel ou superior obtido no exterior”, declarou ela na Assembleia Estadual na quarta-feira.
Representantes da Coalizão de Defesa de Imigrantes e Refugiados de Massachusetts também pressionaram os legisladores a aprovar uma legislação intitulada “Ato de Defesa Legal dos Imigrantes”. O projeto criaria um fundo público-privado para “fornecer serviços jurídicos de imigração a imigrantes e refugiados elegíveis que carecem de acesso a representação legal e enfrentam processos de remoção dos Estados Unidos, especialmente aqueles em detenção federal”, conforme o texto da proposta.
Os recursos seriam distribuídos a provedores de serviços jurídicos por meio de um programa competitivo de subsídios gerido pelo Escritório Estadual para Refugiados e Imigrantes. O projeto solicita que a Legislatura financie o programa por meio do orçamento anual do estado.
Elizabeth Sweet, diretora executiva da Coalizão, afirmou que a medida ofereceria aos imigrantes “capturados em batidas e deportações” uma “chance justa” nos tribunais. “Estamos aqui para afirmar que os imigrantes são bem-vindos em Massachusetts. Que aqui, eles podem buscar o verdadeiro sonho americano e construir um lar”, declarou.
O deputado Carlos Gonzalez, democrata de Springfield, destacou que os imigrantes impulsionam a indústria da hospitalidade, garantem a limpeza da Assembleia Estadual à noite, sustentam o turismo e compõem a força de trabalho de empresas baseadas em aplicativos, como Uber e DoorDash. Ele citou o exemplo de Holyoke, onde a retirada de imigrantes de restaurantes e hotéis poderia paralisar o setor de serviços, essencial para a economia local. Gonzalez afirmou que os imigrantes “não voltarão atrás”. “Sei que as Escrituras dizem que, se te baterem no lado esquerdo, ofereça a outra face. Não faremos mais isso. Estamos lutando. E perdoem-me, reverendos e pastores, mas não ofereceremos a outra face, pois não recuaremos”, concluiu.