
Danvers, MA, 7 de outubro de 2025 –
Uma aula de ensino médio nas Escolas Públicas de Danvers, baseada no romance jovem adulto All American Boys, de Jason Reynolds e Brendan Kiely, desencadeou uma onda de indignação entre pais e uma resposta combativa do sindicato local de professores, reacendendo debates nacionais sobre como temas de raça e justiça social devem ser abordados nas escolas.
A polêmica começou quando uma aula de inglês na Danvers High School utilizou All American Boys como parte do currículo. O livro, publicado em 2015 e premiado com o Coretta Scott King Author Honor, narra a história de Rashad, um adolescente negro brutalmente espancado por um policial branco sob a falsa acusação de roubo, e Quinn, um colega branco que testemunha o incidente e enfrenta dilemas sobre privilégio racial e lealdade.
Alternando as perspectivas dos dois protagonistas, o romance explora racismo sistêmico, brutalidade policial e as divisões em uma comunidade após um ato de violência racial. Inspirado em casos reais, como o de Trayvon Martin, o livro é amplamente utilizado em escolas americanas para discutir questões de justiça social. No entanto, em Danvers, alguns pais interpretaram a aula como sugerindo que “crianças brancas são racistas” ou induzindo culpa racial. Eles argumentaram que a abordagem do material era divisiva e exigiram a opção de retirar seus filhos da unidade didática. A administração escolar cedeu, permitindo o “opt-out”, o que gerou uma reação imediata da Danvers Teachers Association (DTA), o sindicato local de professores.
Em uma petição pública, a DTA criticou a decisão da escola, acusando os líderes distritais de “contornar protocolos” e ameaçar a “autonomia dos professores”. O sindicato classificou a opção de retirada como “censura”, argumentando que ela “silencia a experiência negra americana” e estabelece um “precedente perigoso” ao permitir que pais desafiem materiais curriculares. A petição exorta a comunidade a “apoiar nossos alunos” e “defender a justiça social”, mas críticos, incluindo pais e comentaristas conservadores, acusaram o sindicato de adotar um tom combativo e de priorizar controle ideológico sobre o envolvimento parental.
A controvérsia em Danvers reflete tensões mais amplas nos Estados Unidos sobre a educação. Pais que se opuseram à aula expressaram preocupação de que o livro e sua discussão em sala de aula retratassem crianças brancas como inerentemente racistas, uma percepção que, segundo analistas, pode surgir da abordagem de temas como privilégio branco e racismo sistêmico no livro. Embora All American Boys não declare explicitamente que “crianças brancas são racistas”, sua narrativa crua sobre violência policial e desigualdades raciais pode ser interpretada como desafiadora, especialmente em um contexto político polarizado. Por outro lado, defensores do livro, incluindo a DTA, argumentam que ele promove reflexão crítica e diálogo necessário sobre questões raciais.
O romance não aponta vilões unidimensionais, mas explora a complexidade de ações individuais dentro de sistemas maiores. Por exemplo, o policial que ataca Rashad é apresentado como parte de uma rede de relações comunitárias, o que força Quinn a confrontar seu próprio papel em um sistema que perpetua injustiças. “O livro não é sobre culpar indivíduos, mas sobre entender como todos nós somos moldados por estruturas sociais”, disse uma professora de Danvers, que preferiu não ser identificada.
O incidente em Danvers não é isolado. Nos últimos anos, aulas sobre racismo e privilégio em escolas americanas têm gerado debates acalorados. Em 2022, uma escola em Nova York enfrentou críticas por lições sobre “fragilidade branca”, e em 2020, materiais relacionados ao movimento Black Lives Matter em Wisconsin provocaram reações semelhantes. Leis estaduais em locais como Flórida e Texas, que restringem discussões sobre raça em salas de aula, intensificaram essas tensões, com críticos acusando tais medidas de limitar a liberdade acadêmica e defensores argumentando que protegem estudantes de conteúdos divisivos.
A controvérsia em Danvers levanta questões sobre o equilíbrio entre liberdade acadêmica, envolvimento parental e a abordagem de temas sensíveis nas escolas. Enquanto a DTA insiste que os professores devem ter autonomia para selecionar materiais que promovam justiça social, pais exigem maior transparência e influência sobre o que seus filhos aprendem. “Queremos que nossos filhos aprendam sobre o mundo, mas sem sentir que estão sendo julgados por sua cor de pele”, disse um pai em uma reunião escolar.
À medida que o debate continua, a administração de Danvers planeja revisar suas políticas curriculares, enquanto a comunidade permanece dividida. O caso destaca o desafio de discutir raça e justiça em um momento de polarização, onde até mesmo um livro premiado como All American Boys pode se tornar um ponto de conflito.
SCOOP: Students at @Tweet_DPS were reportedly given an assignment which teaches that white kids are racist and should feel guilty for their skin color.
I’m told parents were fuming so the school said they will allow students to opt out of the lesson.
This made the teacher’s… pic.twitter.com/4vwSXnBMJh
— Libs of TikTok (@libsoftiktok) October 5, 2025
Com informações:
- Danvers teachers respond to flap over teaching of ‘All American Boys’: https://www.boston.com/news/education/2025/10/07/danvers-teachers-respond-to-flap-over-teaching-of-all-american-boys/
- ‘White kids are racist’ lesson sparks outrage — now the teachers’ union is fed up with parents fighting back : https://www.massdailynews.com/2025/10/06/white-kids-racist-lesson-sparks-outrage-teachers-union-fed