Por Agência O Globo
A busca pelo efeito de alteração na mente proporcionado pelas drogas pode estar longe de substâncias químicas – e perto dos fones de ouvido. Conhecida como “drogas digitais” ou “drogas sonoras”, a técnica chamada binaural beats não é nova, mas um estudo publicado nesta quarta-feira, na revista científica Drug and Alcohol Review, foi o primeiro a confirmar, por meio de um levantamento global, que muitas pessoas buscam “obter um efeito semelhante ao de outras drogas” com os sons.
O estudo foi conduzido por pesquisadores da Universidade RMIT, na Austrália, e revelou que cerca de 5% da população usou a binaural beats em algum momento no último ano, com uma a cada dez pessoas aderindo à técnica com propósitos recreativos. A maioria dos usuários com esse objetivo tinha por volta de 20 anos e já havia utilizado substâncias como MDMA ou maconha. Os países com os maiores adeptos são os Estados Unidos, México, Reino Unido, Polônia e Brasil.
“É muito novo, só não sabemos muito sobre o uso da binaural beats como drogas digitais, mas esta pesquisa mostra que isso está acontecendo em vários países. Tínhamos informações anedóticas, mas esta foi a primeira vez que perguntamos formalmente às pessoas como, por que e quando elas as estão usando. Estamos começando a ver experiências digitais definidas como drogas, mas também podem ser vistas como práticas complementares ao uso de drogas”, afirmou a autora principal do estudo, Monica Barratt, pesquisadora da universidade e do Centro Nacional de Pesquisa sobre Drogas e Álcool da Austrália, em comunicado.
A técnica não é nova, na verdade é datada do século XIX. Foi descrita pela primeira vez por um físico alemão que apontou os efeitos de determinadas ondas sonoras no cérebro humano. Ela consiste em duas frequências diferentes, menores que 1000 Hz, reproduzidas uma em cada ouvido, que levam a mente a produzir uma terceira frequência, resultante da combinação entre as duas. De acordo com a teoria, essa consequência seria capaz de alterar o estado de consciência da pessoa, ainda que não tenham estudos científicos suficientes que comprovem o efeito.
Ainda assim, a binaural beats está disponível na internet. A maneira mais famosa para acessar as frequências é pelo aplicativo I-Doser, que vende “doses” das ondas sonoras online, mas há também vídeos e playlists gratuitas no Youtube e no Spotify que dizem produzir a experiência. No entanto, não são todos os usuários que relatam sentir o efeito prometido.
Além da simulação de drogas, a binaural beats também é utilizada por algumas pessoas para se acalmar e obter uma sensação de tranquilidade. De acordo com o levantamento australiano, a maioria dos usuários contou que recorrem à técnica “para relaxar ou adormecer”, 72% dos participantes, e “para mudar meu humor”, 35%.
Os dados publicados são resultado do The Global Drug Survey 2021, um questionário traduzido para 11 idiomas que recebeu 30.896 respostas de 22 países.