
Brasília, 23 de novembro de 2025 –
Em um capítulo dramático da saga judicial do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o Supremo Tribunal Federal (STF) decretou na noite de sábado (22) sua prisão preventiva, convertendo a prisão domiciliar em custódia efetiva. A decisão, assinada pelo ministro Alexandre de Moraes, veio após a Polícia Federal (PF) flagrar o político, de 70 anos, tentando derreter sua tornozeleira eletrônica com um ferro de solda. Bolsonaro, transferido para a Superintendência da PF em Brasília, alegou em audiência de custódia na manhã deste domingo (23) que o ato foi provocado por “alucinações” e “paranoia” decorrentes de uma mudança em sua medicação. A defesa nega qualquer intenção de fuga, mas o episódio reacende debates sobre saúde mental, responsabilidade penal e o futuro político do bolsonarismo.
A detenção ocorreu por volta das 18h de sábado, quando agentes da PF invadiram a residência de Bolsonaro em Brasília, alertados por um sinal de alerta da tornozeleira. Imagens de câmeras de segurança, divulgadas pela PF, mostram o ex-presidente manipulando o dispositivo com uma ferramenta térmica, em meio a papéis espalhados e o que parece ser um episódio de agitação.
De acordo com o relatório da PF, o monitoramento indicava movimentações irregulares desde a tarde, e o ex-mandatário já havia sido condenado em março deste ano a 27 anos de prisão por conspiração para permanecer no poder após a derrota nas eleições de 2022.
A tornozeleira, imposta em agosto como medida cautelar, visava mitigar o risco de “fuga” – um temor reforçado pela proximidade do julgamento final de um suposto plano golpista. Na audiência de custódia, realizada por videoconferência, Bolsonaro apareceu visivelmente abatido, com olheiras profundas e voz trêmula. “Eu não estava em sã consciência. Mudei de remédios por causa da dor crônica no abdômen – um prescrito pelo ortopedista, outro pelo gastroenterologista. Comecei a ver sombras, a achar que me perseguiam. Foi como se eu estivesse em um pesadelo”, relatou o ex-presidente, segundo transcrição oficial do STF.
Seus advogados apresentaram laudos médicos preliminares, apontando interações medicamentosas que poderiam causar efeitos colaterais como delírios e ansiedade extrema. Especialistas consultados pela Agência Brasil corroboram: combinações de analgésicos opioides e ansiolíticos, comuns em pacientes com histórico de cirurgias como a de Bolsonaro (que sofreu atentado em 2018), podem induzir alucinações em idosos.
A defesa argumenta que se trata de um “episódio isolado” e pede perícia psiquiátrica imediata, além de conversão da prisão para regime semiaberto. Moraes, no entanto, manteve a custódia por 30 dias, citando “risco concreto de obstrução à justiça” e “ameaça à ordem pública”.
Críticos, como o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ), veem hipocrisia: “Bolsonaro sempre negou problemas de saúde para fins políticos, mas agora usa como escudo. É tentativa de fuga disfarçada”, disparou em vídeo nas redes.
Do outro lado, bolsonaristas como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) silenciaram após o episódio – inicialmente, ele chamara a prisão de “perseguição”. Manifestações opostas tomaram a Avenida Paulista em São Paulo neste domingo: à esquerda, faixas com “Justiça sim, impunidade não”; à direita, bonecos de Lula como presidiário e gritos de “Ditadura do STF”.
O caso expõe fissuras no bolsonarismo. Aliados como o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) mobilizam petições online por anistia, enquanto figuras como o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) acusam “má-fé política” do Judiciário.
No X (antigo Twitter), o tema domina trends, com posts como o de Silvio Navarro ironizando: “A prisão absurda separa joio do trigo”.
A PF investiga ainda se houve conivência de assessores – uma ex-auxiliar, Andriely Cirino, foi citada como possível cúmplice.
E o que vem agora?
Especula-se que o STF agende uma perícia médica em até 72 horas, o que poderia atenuar a pena ou converter a prisão. Se comprovadas as alucinações, advogados preveem habeas corpus ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), possivelmente com soltura condicional até dezembro. Politicamente, o episódio pode galvanizar a base bolsonarista para 2026: pesquisas internas do PL indicam alta de 15% em intenções de voto para candidatos alinhados, mas risco de isolamento de moderados como Tarcísio.
Críticos temem escalada: atos violentos como os de 8 de janeiro de 2023, ou até intervenção federal se o Congresso aprovar anistia – projeto inconstitucional, segundo juristas. Enquanto isso, Lula, em silêncio oficial, ganha fôlego para reformas, mas o fantasma de polarização assombra o Planalto. Bolsonaro, isolado em cela especial, pode emergir mais mártir que vilão – ou sucumbir a uma reviravolta judicial que redefine a democracia brasileira.


