O relacionamento entre o presidente Jair Bolsonaro e o agora ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que estava desgastado há semanas e motivou brigas públicas, chegou ao fi m na tarde da quinta-feira, 16, quando foi anunciada a demissão do segundo.
O médico oncologista Nelson Teich é o substituto de Mandetta e é alinhado com o bolsonarismo, desde a transição, quando assessorou a equipe presidencial. Luiz Henrique Mandetta confirmou sua demissão por meio de sua conta no Twitter. “Acabo de ouvir do presidente Jair Bolsonaro o aviso da minha demissão do Ministério da Saúde.
Quero agradecer a oportunidade que me foi dada, de ser gerente do nosso SUS, de pôr de pé o projeto de melhoria da saúde dos brasileiros e de planejar o enfrentamento da pandemia do coronavírus, o grande desafio que o nosso sistema de saúde está por enfrentar”, escreveu. “Agradeço a toda a equipe que esteve comigo no MS e desejo êxito ao meu sucessor no cargo de ministro da Saúde.
Rogo a Deus e a Nossa Senhora Aparecida que abençoem muito o nosso país”, completou. A demissão de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde provocou panelaços na quinta-feira em diferentes pontos do país. Em São Paulo, houve protestos na área central da cidade, nos bairros da Bela Vista, Consolação, Jardins e Santa Cecília. Em Pinheiros (zona oeste), Ipiranga e Brooklin (ambos na zona sul) moradores também fizeram panelaços.
Das janelas e varandas, também houve sons de vuvuzelas e gritos de “genocida”, “presidente lixo” e “fora, Bolsonaro”. Apoiadores do presidente gritaram “mito” de volta. Em Laranjeiras e Copacabana, bairros da zona sul do Rio de Janeiro, e na Tijuca, zona norte, também houve manifestações contra a demissão.
Panelaços ainda foram registrados em Brasília (Asa Norte, Asa Sul e Sudoeste), em Porto Alegre, em Belo Horizonte, em Salvador, no Recife, em Londrina (PR) e em Ribeirão Preto (SP). No bairro Petrópolis, em Porto Alegre, moradores gritaram “vamos morrer” pela janela.
O novo ministro da Saúde, o oncologista Nelson Teich, anunciado na quinta-feira, mas que ainda não tomou posse, disse em abril do ano passado que o dinheiro para Saúde é “baixo” no Brasil e, por isso”, devem ser feitas “escolhas”. Ele propôs o seguinte dilema: um idoso com problemas de saúde “que pode estar no final da vida” ou um adolescente.
“Qual vai ser a escolha?”, indagou Teich. As declarações foram feitas para um vídeo institucional produzido pelo Instituto Oncoguia em abril de 2019. O instituto promovia um fórum nacional sobre oncologia, em Brasília, nos dias 16 e 17 de abril do ano passado. “Como é que seria o ideal, na minha opinião, sobre como estruturar uma proposta. A primeira coisa que você tem que mapear é qual a necessidade da população.
E a segunda coisa é quanto dinheiro você tem. […] E tem uma coisa que é fundamental é: como você tem um dinheiro limitado, você vai ter que fazer escolhas. Então você vai ter que definir onde você vai investir. Então, sei lá, eu tenho uma pessoa que é mais idosa, que tem uma doença crônica avançada, ela teve uma complicação.
Para ela melhorar, eu vou gastar praticamente o mesmo dinheiro que eu vou gastar para investir num adolescente que está com um problema. O mesmo dinheiro que eu vou investir é igual. Só que essa pessoa é um adolescente que vai ter a vida inteira pela frente e o outro é uma pessoa idosa que pode estar no fi nal da vida. Qual vai ser a escolha?”, disse Teich no vídeo.
“São duas coisas importantíssimas na saúde hoje: o dinheiro é limitado e você tem que trabalhar com essa realidade; segunda coisa, as escolhas são inevitáveis. Quais vão ser as escolhas que você vai fazer?”, afirmou o oncologista.