JCEditores – No Brasil, 3 em cada 10 pessoas entre 15 e 64 anos – 29% da população, cerca de 38 milhões – são analfabetas funcionais, segundo o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) de 2024. Nos Estados Unidos, 28% dos adultos entre 16 e 65 anos – aproximadamente 57,4 milhões – enfrentam o mesmo problema, conforme o National Center for Education Statistics (NCES) de 2023 e o Programa para Avaliação Internacional de Competências de Adultos (PIAAC).
Analfabetos funcionais leem palavras ou frases curtas, mas não compreendem textos complexos, não interpretam notícias ou são capazes de ler instruções e aplica-las em tarefas como calcular um desconto ou preencher um formulários.
Metodologia e Definição
No Brasil, o Inaf, coordenado pela Ação Educativa e Conhecimento Social, com apoio de Unesco, Unicef e Fundação Itaú, entrevistou 2.554 pessoas entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025, com margem de erro de 2 a 3 pontos. Nos EUA, o PIAAC, conduzido pela OCDE, avalia habilidades de alfabetização em larga escala. Ambos definem analfabetismo funcional como a incapacidade de usar leitura, escrita e matemática em contextos cotidianos, limitando a participação social e econômica.
Variações Regionais
No Brasil, o Nordeste tem a maior taxa, com 37% de analfabetos funcionais, e Alagoas lidera com 40%, devido a falhas educacionais históricas. A região Sul, com 18%, é a menos afetada, e Santa Catarina registra 15%, impulsionada por altas taxas de alfabetização (97,3%, IBGE 2022).
Nos EUA, o Sul apresenta os piores índices, com Alabama atingindo 33%. O Nordeste americano é o menos impactado, com New Hampshire registrando 6%, graças a fortes políticas educacionais. A Califórnia, com 23,1%, sofre com a alta população imigrante.
Perfil Demográfico
No Brasil, o problema é mais grave entre 50-64 anos (51%) e menor entre 15-29 anos (16%), refletindo políticas de inclusão escolar. Nos EUA, adultos mais velhos (66-74 anos) têm 28% de analfabetismo funcional, contra 15% entre jovens (16-24 anos).
Desigualdades raciais são evidentes: no Brasil, 47% dos indígenas são analfabetos funcionais, contra 28% dos brancos; nos EUA, hispânicos (34%) e negros (23%).
Impactos da Pandemia e Econômicos
A pandemia piorou os índices. No Brasil, a taxa entre jovens subiu de 14% para 16% devido ao ensino remoto precário.
Nos EUA, o índice geral cresceu de 19% (2017) para 28%, com cortes em programas de educação de adultos.
Economicamente, o Brasil perde cerca de R$ 200 bilhões anuais em produtividade, segundo especialistas. Nos EUA, o custo é de US$ 2,2 trilhões, conforme a Gallup para a Barbara Bush Foundation.
Níveis de Alfabetismo Brasil e Estados Unidos
Analfabeto funcional (Brasil: 29%, EUA: 28%): Lê frases curtas, mas não compreende textos longos.
Elementar (Brasil: 36%, EUA: 29%): Entende textos médios, faz alguns cálculos básicos com instruções escritas.
Consolidado (Brasil: 35%, EUA: 44%): Interpreta textos complexos, leem manuais. São pessoas no nível intermediário que conseguem identificar informações em textos diversos, chegar a alguma conclusão simples e resolver problemas matemáticos como porcentagem, comparações ou proporções.
Proficientes: No Brasil 10% da população entre 15 e 64 anos (cerca de 13 milhões de pessoas) atinge o nível proficiente. Isso indica que apenas uma pequena parcela domina completamente as habilidades de letramento necessárias para contextos acadêmicos, profissionais ou cívicos complexos. Nos estado Unidos 17% da população entre 16 e 65 anos (cerca de 34,8 milhões de pessoas) está no nível proficiente. Embora superior ao Brasil, esse número ainda reflete uma limitação significativa, considerando o alto nível de desenvolvimento educacional do país.
Caminhos Adiante
A estagnação brasileira desde 2009 e o aumento americano desde 2017 exigem ações urgentes. No Brasil, o Pacto Nacional pela Superação do Analfabetismo (MEC, 2024) foca na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Nos EUA, o financiamento para alfabetização caiu de US$ 1,04 bilhão (2005) para US$ 190 milhões (2024), limitando iniciativas como o Comprehensive Literacy State Development. “A alfabetização é uma questão de justiça social”, afirma Jonathan Rothwell, da Gallup. Sem investimentos, ambos os países arriscam perpetuar exclusão e desigualdade.
Fontes
Brasil:
Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) 2024, Ação Educativa e Conhecimento Social:
IBGE, Censo 2022: Artigo “Panorama do analfabetismo no Brasil”, Fundação Roberto Marinho:
EUA:
National Center for Education Statistics (NCES), PIAAC 2023:
Gallup/Barbara Bush Foundation, 2020:
Definições e contexto:
Unesco, definição de analfabetismo funcional (1978).