Da Redação – Em um julgamento que escancara a fragilidade da liberdade de expressão no Brasil, o humorista Léo Lins foi condenado pela 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo a 8 anos e 3 meses de prisão, em regime fechado, por suas piadas no show “Perturbador”, de 2022, que atingiu mais de 3 milhões de visualizações no YouTube. A sentença, proferida em 30 de maio de 2025, ainda impõe uma multa de R$ 1,4 milhão e uma indenização de R$ 303,6 mil por supostos danos morais coletivos. A decisão é um golpe contra a arte do humor, que por sua natureza provoca e desafia convenções, e expõe o sistema judicial que pune um comediante por fazer seu trabalho enquanto outros, com contradições gritantes, escapam ilesos.
As piadas de Lins, que abordavam grupos diversos de forma satírica, foram enquadradas como discurso de ódio sob as Leis 7.716/1989 e 13.146/2015. No entanto, o contexto do stand-up, onde o exagero e a provocação são ferramentas artísticas, foi completamente ignorado. Lins, com seu humor ácido, sempre deixou claro que interpreta um personagem cômico, sem intenção de incitar violência. Seus milhões de fãs, incluindo pessoas dos grupos mencionados, entendem o gênero e apreciam sua ousadia. A Justiça, porém, preferiu criminalizar a arte, enquanto figuras públicas que praticam verdadeiros discursos de intolerância ou contradições morais seguem intocadas.
Um exemplo gritante de hipocrisia no meio artístico é o caso de um conhecido comediante brasileiro – chamemo-lo de “João Silva” (nome fictício para evitar difamação). João se apresenta como defensor da inclusão e da diversidade em seus shows e redes sociais, frequentemente criticando humoristas como Lins por “passarem do ponto”. No entanto, em um show recente, João fez piadas que ridicularizavam minorias de forma velada, usando estereótipos étnicos e sociais sob o disfarce de “humor leve”. Enquanto Lins é condenado por sua transparência provocadora, João é aplaudido por plateias e mídia que ignoram suas contradições, apenas porque suas piadas são embaladas em uma narrativa de “progressismo”. Essa seletividade é um clássico exemplo de hipocrisia, onde o mesmo comportamento é julgado por padrões diferentes dependendo de quem o pratica. Como apontado em estudos sobre hipocrisia, “é a prática de professar crenças ou virtudes que não se possuem, muitas vezes para parecer moralmente superior”.
A defesa de Lins, liderada pelos advogados Carlos Eduardo Ramos e Lucas Giuberti, classificou a sentença como “um ataque à liberdade artística” e prometeu recorrer, confiante na reversão. “Punir um comediante com uma pena digna de crimes hediondos é um absurdo que ameaça a democracia”, afirmou Ramos. O próprio Lins reagiu com indignação, comparando sua condenação à de políticos corruptos como Fernando Collor, em um post que reflete o sentimento de injustiça: “É surreal que piadas sejam tratadas como crime, enquanto crimes de verdade são ignorados”.
Léo Lins já enfrentou outras controvérsias, como indenizações em 2021 e 2022 por piadas e sua demissão do SBT após um comentário sobre uma criança com hidrocefalia. Em 2023, teve redes sociais suspensas e R$ 300 mil bloqueados, em ações que parecem perseguição pessoal.
Enquanto isso, o STF, em 2023, já havia protegido Lins contra censura prévia, reforçando que a liberdade artística é essencial. A condenação atual contradiz esse precedente, revelando a incoerência do sistema judicial.
A condenação de Léo Lins é um exemplo alarmante de como a liberdade de expressão está sob ameaça no Brasil, especialmente quando comparada à impunidade de figuras que praticam hipocrisia em larga escala. Enquanto Lins é punido por piadas que fazem parte de seu ofício, outros artistas e figuras públicas escapam de críticas por contradições muito mais graves, seja por privilégios, narrativas convenientes ou seletividade judicial.
Como disse Oscar Wilde, “hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude”, e, nesse caso, o vício parece ser a censura disfarçada de moralidade. A luta de Lins contra essa sentença é também uma defesa do direito de provocar, rir e questionar – essência do humor e da democracia.