ESTADO – O número de refugiados venezuelanos que entraram no Brasil na terça-feira, no posto de fronteira de Pacaraima, chegou a 848, informou nesta quarta-feira, 1º, por meio de nota a Operação Acolhida, que cuida dos refugiados venezuelanos em Roraima.
Na comparação com os números medidos na última semana, a movimentação na fronteira na terça-feira, dia em que o líder opositor Juan Guaidó tentou liderar uma sublevação militar contra o presidente Nicolás Maduro, o volume de venezuelanos que chegam a Pacaraima dobrou. Mas, segundo a Operação Acolhida, esse número varia muito e não é possível estabelecer ainda um vínculo entre o aumento do fluxo na fronteira e o que ocorreu na terça-feira.
Segundo a Operação Controle, que monitora a fronteira entre Roraima e Venezuela, a cifra é um indício de que o fluxo migratório está retornando à média registrada antes de o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, determinar o fechamento da fronteira, em fevereiro.
Com o fechamento, o fluxo diário chegou a cair para uma média de 200 pessoas por dia. Nas últimas semanas foi se recuperando até chegar a 400 pessoas por dia. Nesta quarta, chegou perto dos 900 – o número médio registrado antes do fechamento da fronteira. No total, mais de 150 mil venezuelanos entraram no Brasil pela fronteira desde 2016.
Para o porta-voz da Operação Controle, tenente Alyson Mendonça, isso é um sinal de que mais venezuelanos que chegam ao Brasil por Santa Elena de Uairén estão cruzando a fronteira por caminhos alternativos – as chamadas “trochas”.
A Operação Acolhida informou que não houve reforço na fronteira por causa da confusão ocorrida na Venezuela. Segundo os militares, a movimentação foi tranquila durante todo o dia em Pacaraima.
De acordo com um comunicado divulgado pela Operação Acolhida, um total de 936 venezuelanos passaram pelo Posto de Recepção e Identificação de Pacaraima. Desse número, 848 entraram no Brasil e 88 saíram.
O governador de Roraima, Antônio Denarium (PSL), disse que teme que a população de seu Estado se volte contra os venezuelanos, que aumentaram a imigração para o Brasil depois do acirramento do conflito na Venezuela. Segundo o governador, com o agravamento da crise no país vizinho, apesar da fronteira fechada do lado de lá, quase mil venezuelanos continuam entrando no Estado por dia, agravando a situação de superlotação já existente de população nas cidades e nos serviços públicos locais.
“Temo que a população se revolte. Temo que se volte contra os venezuelanos porque não tem nenhum benefício para brasileiro, só tem benefício para venezuelanos”, afirmou. “O que vem é só pro venezuelano. Não dá cesta básica pro brasileiro que está passando fome. Mas, pro venezuelano, dá tudo, almoço, jantar, aluguel. Dá tudo que o brasileiro não tem.”
Ao falar sobre o repasse de recursos, o governador reclamou que o dinheiro que o Estado recebe é só do Fundo de Participação dos Estados (FPE) ou para o Exército usar no atendimento aos venezuelanos. “Preciso de dinheiro para cobrir as despesas que Roraima está tendo com a chegada dos venezuelanos”, disse. “O problema de migração dos venezuelanos para o Brasil não é problema de Roraima. É um problema do Brasil. Precisamos de investimento para custeio para atender os brasileiros também.”
O governador já tem uma fatura pronta para apresentar ao governo federal. Lembrou que está tramitando uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo R$ 280 milhões de restituição com as despesas com a crise imigratória. “Já tentamos fazer acordo pela metade do valor, mas a AGU (Advocacia-Geral da União) não concordou. Não há reembolso das despesas que temos com os venezuelanos”.
Denarium lembrou que esteve com o presidente Jair Bolsonaro na semana passada em Brasília e pediu ajuda. “Bolsonaro tem se esforçado, mas não encontrou mecanismo para fazer ainda repasses para o Estado”, lamentou. Segundo ele, metade das vagas dos hospitais está ocupada por venezuelanos, mais de 5 mil alunos venezuelanos estão nas escolas estaduais e 10% da população carcerária também é venezuelana. A taxa de desemprego dobrou de 8% para 16% e a população do Estado aumentou 20%. “Não temos emprego nem infraestrutura para isso”, afirmou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.