JSNEWS No último sábado, 23 de agosto de 2025, Alice Correia Barbosa, uma mulher trans brasileira de 28 anos, foi detida de maneira violenta por agentes do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) em Silver Spring, Maryland. A abordagem, registrada em vídeo por uma amiga, Stefany Ramos, gerou indignação devido ao uso de força e ao desrespeito à identidade de gênero de Alice. O caso expõe as tensões da política migratória americana sob a gestão de Donald Trump, que intensificou ações de deportação.
Segundo Stefany, Alice, que vive nos EUA há mais de cinco anos e aguardava um pedido de asilo, foi retirada à força de um carro após agentes sem uniforme bloquearem o veículo. “Forçaram o vidro, abriram a porta agressivamente, algemaram-na e a empurraram para a viatura”, relatou ao O Globo. Os agentes teriam usado pronomes masculinos, ignorando a identidade de gênero de Alice, o que foi denunciado como transfóbico. “Nenhuma documentação ou justificativa clara foi apresentada”, completou.
O ICE justificou a detenção com base em uma ordem administrativa, alegando violação migratória devido a um visto B1/B2 expirado e prisões anteriores de Alice em 2019, incluindo posse de maconha no Texas. Diferentemente de um mandato judicial, emitido por um juiz com base em evidências de um crime e sujeito a revisão jurídica, uma ordem administrativa é emitida internamente pelo ICE para deter indivíduos por infrações migratórias, como permanência irregular, sem necessidade de aprovação judicial. Isso permite maior rapidez, mas é criticado por oferecer menos garantias de devido processo.
Agentes do ICE podem interpelar pessoas em vias públicas se houver “suspeita razoável” de irregularidade migratória, como falta de documentação ou violação de visto, ou com base em ordens de deportação preexistentes. Essas abordagens podem ocorrer em locais como ruas, pontos de ônibus ou durante fiscalizações aleatórias, especialmente em áreas com alta presença de imigrantes. No caso de Alice, a detenção parece ter sido planejada, possivelmente com base em registros migratórios.
Alice foi levada ao Caroline Detention Facility, na Virgínia, onde está isolada em uma ala masculina, levantando preocupações sobre sua segurança. A deputada Erika Hilton (PSOL-SP) acionou o Itamaraty, exigindo providências para garantir seus direitos, citando violações da Constituição americana e tratados internacionais. A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) também cobrou apuração.
O Itamaraty informou que o Consulado-Geral em Washington acompanha o caso, mas não divulgará detalhes por privacidade. A advogada de Alice investiga a legalidade da abordagem. Comunidades LGBTQ+ nos EUA mobilizam-se nas redes, compartilhando o vídeo da detenção. A audiência de Alice está marcada para 8 de setembro, enquanto sua mãe, no Brasil, busca apoio consular, que será analisado a partir de 25 de agosto devido à alta demanda de brasileiros detidos.