Da Redação – No último mês, autoridades federais dos Estados Unidos prenderam 18 pessoas em uma operação de grande escala voltada para combater o tráfico ilegal de armas no estado de Massachusetts. A investigação revelou conexões com uma das gangues mais violentas da América Latina, o Primeiro Comando da Capital (PCC), originado no sistema prisional de São Paulo, Brasil. Além disso, o caso levou os investigadores a dois suspeitos com ligações diretas à ilha de Martha’s Vineyard.
A operação, iniciada em 2024, resultou na apreensão de 110 armas conhecidas como “ghost guns” (armas fantasmas), que são montadas a partir de peças diversas, com números de série removidos, componentes impressos em 3D e partes de diferentes armas, tornando-as praticamente impossíveis de rastrear.
Os 18 indivíduos presos, todos brasileiros, incluindo alguns sem documentação legal, foram detidos em março.
De acordo com comunicado do Escritório do Procurador Federal dos EUA, algumas das armas apreendidas estão supostamente ligadas ao PCC, conhecido por crimes como homicídio, assalto à mão armada, sequestro e tráfico internacional de drogas. Duas outras gangues menores, Tropa de Sete e Trem Bala, também foram associadas à investigação.
Detalhes do caso
O brasileiro João Victor da Silva Soares, de 21 anos, registrado como residente em Everett, Massachusetts, e portador de um green card, está atualmente detido na Casa de Correição de Worcester. Ele enfrenta acusações de conspiração para comercializar armas de fogo sem licença, e seu caso está em andamento no Tribunal Federal John Joseph Moakley, em Boston.
Soares chamou a atenção da polícia local no final de 2023, quando a Força-Tarefa Antidrogas de Martha’s Vineyard, composta por policiais das delegacias da ilha, e a Agência Antidrogas (DEA) de Cape Cod receberam informações sobre suas supostas atividades criminosas envolvendo cocaína e armas. Entre janeiro e março de 2024, investigadores documentaram pelo menos 10 viagens de Soares de Boston a Martha’s Vineyard, onde supostos distribuidores se encontravam com ele em seu carro estacionado em Woods Hole.
Soares teria trabalhado com Gustavo Augusto Mroczkoski, de 27 anos, outro brasileiro detido por agentes da Imigração e Alfândega (ICE) em Oak Bluffs, em setembro de 2023, por posse de drogas e armas. Relatórios policiais indicam que Mroczkoski se encontrava com Soares em Woods Hole para receber suposto contrabando, muitas vezes saindo do veículo de Soares com uma garrafa de água de aço, que os investigadores acreditam ser usada para ocultar drogas ou componentes de armas.
Outro suspeito, Josenito Ferreira Jr., que já havia sido preso por posse de uma “ghost gun” pela polícia de North Andover, também esteve envolvido. Ele e Soares teriam realizado uma transação no estacionamento da pizzaria Wolf Den’s, em Vineyard Haven, no início de março de 2024.
Prisão e buscas
Em 26 de março de 2024, Soares foi preso pela polícia de Falmouth no terminal da Steamship Authority em Woods Hole, enquanto se dirigia à fila do ferry. Durante a abordagem, foram encontrados 50 comprimidos de oxicodona em seu Range Rover 2020, estacionado próximo a um estabelecimento em Woods Hole. Ele foi acusado de posse de substância controlada com intenção de distribuição e liberado sob fiança após audiência no Tribunal Distrital de Falmouth, onde o caso segue em andamento.
No mesmo dia, as autoridades da ilha executaram um mandado de busca na residência de Mroczkoski em Oak Bluffs, onde encontraram munições de uso militar, carregadores de alta capacidade, um dispositivo para converter uma pistola Glock em arma automática, uma carteira de identidade de Ferreira Jr. e uma arma de pressão semelhante a uma arma de fogo real. As autoridades também obtiveram mandados para inspecionar os celulares de Soares e Mroczkoski, encontrando fotos de armas e evidências de fabricação de armamento no celular de Soares.
Investigação federal
A investigação, liderada pela Agência de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos (ATF) e pelo Departamento de Investigações de Segurança Interna (HSI), culminou na prisão de Soares e outros 17 brasileiros por envolvimento em uma rede de tráfico de armas. Utilizando informantes, as autoridades realizaram compras controladas, adquirindo armas de fabricação comercial, armas montadas artesanalmente e munições de Soares, que não possuía licença para comercializá-las.
Em agosto de 2024, um informante, sob vigilância da ATF, comprou dois fuzis Anderson Manufacturing AM-15 de Soares e um associado, João Victor dos Santos, por US$ 6.000, em um estacionamento de um supermercado em Malden. Semanas depois, Soares foi preso novamente em Milford, após a venda de cinco armas, incluindo um fuzil Palmetto State Armory PSAK 7.62x39mm com número de série apagado.
A procuradora federal Leah B. Foley destacou que a operação contribuiu para a segurança dos residentes de Massachusetts, afirmando que os suspeitos, muitos sem status legal nos EUA, alimentavam a violência e organizações criminosas transnacionais. O chefe de polícia de Oak Bluffs, Jonathan Searle, elogiou o trabalho conjunto das forças policiais locais e federais, enfatizando o papel da Força-Tarefa Antidrogas de Martha’s Vineyard na investigação.
Atualmente, Soares permanece detido enquanto seu caso é julgado. A operação demonstra o esforço conjunto das autoridades para desmantelar redes criminosas e reforçar a segurança pública.