
Cambridge (MA), 23 de Julho de 2025 – A recente escalada nas políticas de imigração do governo Trump, liderada pelo czar da fronteira Tom Homan, tem gerado impactos significativos em cidades-santuário como Boston, em Massachusetts, com reflexos diretos na comunidade brasileira local. Homan, que semanas antes prometeu “levar o inferno a Boston” devido à recusa da cidade em cooperar com o ICE (Serviço de Imigração e Controle de Aduanas), intensificou sua retórica ao anunciar, em 21 de julho de 2025, que cidades administradas por democratas, incluindo Boston, serão “inundadas” por agentes do ICE para ampliar detenções e deportações. Essa nova sinalização ocorre após uma grande operação em março de 2025, que prendeu 370 pessoas na região, incluindo 165 sem antecedentes criminais, evidenciando a continuidade de uma abordagem agressiva que agora parece se intensificar.
Massachusetts, especialmente Boston, aplica políticas de “cidade-santuário” limitando a cooperação com o ICE em casos de violações civis de imigração. A Boston Trust Act, reforçada em 2014, 2019 e 2024, impede que autoridades locais participem de operações de deportação, visando proteger comunidades imigrantes. Contudo, a promessa de Homan de aumentar a presença de agentes nas ruas e locais de trabalho desafia diretamente essas políticas, criando um clima de tensão. A recusa de Boston em atender pedidos de detenção do ICE em prisões locais força o órgão a realizar prisões nas ruas, o que Homan considera mais perigoso e justificou como necessário após um agente federal ser ferido em Nova York por um suposto imigrante sem documentos. Essa narrativa tem sido usada para legitimar operações como a de março, que já demonstrou o impacto desproporcional sobre imigrantes sem histórico criminal, incluindo brasileiros.
O orçamento federal, aprovado no início de julho de 2025, destinou US$ 170 bilhões para os próximos quatro anos, incluindo US$ 45 bilhões para 100.000 novos leitos de detenção e financiamento para 10.000 novos agentes do ICE. Esse montante, superior ao orçamento combinado de agências como FBI e DEA, reflete a prioridade de Trump em deportar 1 milhão de pessoas anualmente, uma meta que ameaça diretamente comunidades imigrantes em Massachusetts.
A comunidade brasileira, uma das maiores de Massachusetts, enfrenta crescente apreensão. Em cidades como Chelsea, Everett e Lowell, brasileiros têm alterado suas rotinas, evitando sair de casa ou acessar serviços públicos por medo de detenções.
Dados federais indicam que 33% dos detidos pelo ICE enfrentam apenas violações de imigração, e 31% têm acusações criminais pendentes, o que sugere que muitos brasileiros podem ser alvos de prisões “colaterais” durante batidas.
As políticas de Trump e Homan enfrentam críticas crescentes. Uma pesquisa da CBS/YouGov de 20 de julho de 2025 revelou que 56% dos americanos desaprovam as medidas de imigração, uma queda de 10 pontos desde fevereiro.
A operação de março de 2025 em Boston, que seguiu a ameaça de Homan de “levar o inferno” à cidade, marcou um precedente de repressão intensiva, com prisões que incluíram imigrantes sem antecedentes criminais. A nova declaração de Homan, de “inundar” cidades-santuário, sugere uma escalada ainda maior, potencialmente agravada pelo incidente em Nova York, usado para justificar a expansão das operações.
A prefeita de Boston, Michelle Wu, e a governadora Maura Healey têm resistido, defendendo que as políticas locais promovem segurança pública ao incentivar a cooperação de imigrantes com a polícia sem temor de deportação. Contudo, a ameaça de prisões de autoridades eleitas que resistam ao ICE eleva o confronto entre o governo federal e as lideranças locais.
As políticas de Trump, impulsionadas por Homan, colocam Massachusetts, especialmente Boston, no epicentro de um embate entre as agendas federal e local. Para a comunidade brasileira, o impacto é direto: medo, incerteza e risco de separação familiar.
A combinação de um orçamento bilionário, operações agressivas e a retórica de criminalização dos imigrantes intensifica a vulnerabilidade de comunidades como a brasileira, enquanto as críticas apontam para a necessidade de soluções que equilibrem segurança e humanidade. A promessa de “inundar” Boston com agentes do ICE sinaliza um futuro de maior repressão, desafiando a resistência das cidades-santuário e exigindo mobilização das comunidades locais para proteger seus direitos.


