JSNEWS
A cineasta brasileira Bárbara Marques, de 38 anos e natural de Vitória (ES), permanece detida pelo Serviço de Imigração e Controle de Aduanas dos Estados Unidos (ICE) desde 16 de setembro de 2025, quando foi presa de forma inesperada durante uma entrevista de rotina para obtenção do green card no Federal Building de Los Angeles, na Califórnia. Casada desde abril do mesmo ano com o americano Tucker May, com quem construiu uma vida na costa oeste dos EUA após chegar ao país em 2018 com visto temporário, Bárbara entrou na reunião acompanhada de seu advogado, mas foi separada dele por um suposto problema com uma impressora quebrada – uma manobra que a família descreve como armadilha para isolá-la e efetuar a detenção imediata.
O ICE justifica a ação com base em uma ordem de deportação emitida em 2019, decorrente de uma audiência de extensão de visto à qual ela supostamente não compareceu, por falta de notificação adequada; a cineasta, sem antecedentes criminais, alega não ter sido informada e contesta que, em casos semelhantes, a lei federal concede 30 dias para regularização, especialmente para cônjuges de cidadãos americanos.
Desde a prisão inicial no Centro de Detenção de Adelanto, na Califórnia, Bárbara foi submetida a uma série de transferências abruptas e extenuantes: primeiro para o Arizona, depois para Alexandria, na Louisiana – um estado considerado o último estágio logístico antes de voos de deportação –, e, mais recentemente, relatos de 3 de outubro indicam que ela foi realocada de volta ao Arizona, possivelmente sinalizando um retorno à costa oeste ou uma pausa na escalada para remoção. Essas movimentações, que duraram quase três dias com algemas, períodos de mais de 12 horas sem comida ou água, negação de medicamentos para um problema crônico nas costas, banheiros sem suprimentos básicos e noites forçada a dormir no chão, foram denunciadas pelo marido como “tratamento desumano” e violação de direitos humanos básicos, gerando indignação na comunidade artística e repercussão em veículos internacionais como Daily Mail, Newsweek, Los Angeles Times, BBC e CBS.
Tucker May tem usado o Instagram e o X (antigo Twitter) para compartilhar atualizações diárias, apelando por pressão sobre autoridades e descrevendo o episódio como um “sequestro” em meio à política de deportações em massa impulsionada pelo segundo mandato de Donald Trump, que visa remover até 3 mil imigrantes por dia, mesmo sem crimes.
Legalmente, o caso avança em um limbo tenso: em 30 de setembro, um juiz reconheceu um pedido de habeas corpus para reabrir o processo, o que, pela lei, suspende qualquer deportação até a revisão final, mas o ICE agendou uma remoção para 1º de outubro, ignorando a determinação e limitando o acesso de Bárbara a documentos e advogados, conforme relatado pela defesa liderada pelo advogado brasileiro radicado nos EUA, Thiago Gondim. A família interpôs recursos urgentes, incluindo uma petição contra a deportação divulgada pela tia da cineasta, a atriz Elisa Lucinda, que mobiliza apoio no Brasil.
O governo brasileiro, via Itamaraty e Consulado-Geral em Los Angeles, confirma assistência consular, enquanto a deputada estadual capixaba Camila Valadão levou o caso à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales), garantindo monitoramento contínuo para acesso à defesa e condições dignas. Políticos americanos, como a congressista Judy Chu, da Califórnia, intervieram publicamente, condenando as táticas do ICE como “imorais e ilegais” e exigindo cumprimento da lei em um padrão de detenções arbitrárias sob a administração Trump.
Até 6 de outubro de 2025, não há confirmação de deportação efetivada – o risco persiste como iminente, mas as transferências recentes para o Arizona sugerem que o processo judicial pode estar forçando uma reconsideração, embora o ICE insista que Bárbara só será liberada após repatriamento ao Brasil. Uma campanha no GoFundMe, lançada em 28 de setembro por amigos como a produtora Nikki Groton, arrecada fundos para honorários advocatícios e custos urgentes, com apelos virais nas redes sociais destacando a trajetória de Bárbara como diretora de curtas premiados como “Cartaxo” (2020), “Pretas” (2023) e “Dia de Cosme e Damião” (2016), que exploram temas de identidade negra, memória familiar e horror social.
O caso ilustra não só uma luta pessoal, mas um retrato cruel das políticas de ‘trumpistas’ que afetam milhares de imigrantes indocumentados, mesmo aqueles integrados à sociedade como Bárbara.