JSNEWS – Aproximadamente 40.000 crianças nos Estados Unidos podem ter perdido um dos pais para o COVID-19 desde fevereiro de 2020, de acordo com um modelo estatístico criado por uma equipe de pesquisadores do Instituto de Ciências Computacional e de Dados da Universidade Estadual da Pennsylvania. No artigo publicado nesta segunda (5) no jornal científico JAMA Pediatrics, os pesquisadores alertam que, sem intervenções, o trauma da perda de um dos pais pode provocar problemas econômicos e de saúde mental no futuro, principalmente para os pequenos em situação de vulnerabilidade.
No modelo elaborado pelos pesquisadores, para cada 13 mortes por Covid nos EUA, uma é de um pai ou mãe de uma criança ou adolescente com menos de 18 anos. Estudos anteriores já comprovaram que crianças que perdem um dos pais correm maior risco de uma série de problemas, incluindo luto prolongado traumático, depressão, baixa escolaridade, insegurança econômica e morte acidental ou suicídio.
“Quando pensamos na mortalidade por COVID-19, grande parte da conversa se concentra no fato de os idosos serem o grupo de maior risco. Cerca de 81% das mortes ocorreram entre pessoas com 65 anos ou mais, de acordo com o CDC (Centros de Controle de Doenças e Prevenção dos EUA)”, disse em nota Ashton Verdery, professor associado de sociologia, demografia e análise de dados sociais da Universidade da Pennsylvania e um dos autores da pesquisa. “No entanto, isso significa que 19% das mortes ocorreram entre aqueles com menos de 65 anos – 15% dos óbitos estão entre aqueles na faixa dos 50 e 60 anos e 3% entre aqueles na casa dos 40 anos. Nesses grupos de idade mais jovem, um número significativo de pessoas tem filhos menores de idade, para quem a perda de um dos pais é um desafio potencialmente devastador. “
Segundo a pesquisa, 75% dos menores de 18 anos que perderam um dos pais para a Covid são adolescentes e 25% são crianças com menos de 12 anos. O modelo também sugere que as mortes de pais por causa da Covid aumentarão o total de crianças órfãs de pelo menos um dos genitores entre 18% a 20% acima do que geralmente ocorre em um ano.
Como uma comparação histórica, os pesquisadores ressaltam que o número de crianças que perderam um dos pais para a Covid é cerca de 13 vezes o número aproximado de 3 mil crianças que perderam um dos pais nos ataques de 11 de setembro de 2001.
Para os pesquisadores, as crianças enlutadas pelos pais durante a pandemia enfrentam desafios únicos. O isolamento social, a ausência de aulas presenciais e a deterioração da situação econômica causados pela pandemia podem prejudicar o acesso a fontes de apoio para os pequenos. Por isso, os estudiosos pedem a intervenção do governo no desenvolvimento de programas que possam oferecer o suporte de que essas crianças necessitam.
O trabalho foi apoiado pelo National Institute on Aging, o Penn State Population Research Institute e o Institute for Computational and Data Sciences.
Ashton Verdery trabalhou com Rachel Kidman, membro do corpo docente do programa de saúde pública e professora associada de família, população e medicina preventiva, Stony Brook University; Rachel Margolis, professora associada de sociologia da University of Western Ontario, no Canadá; e Emily Smith-Greenaway, professora associada de sociologia e ciências espaciais na University of Southern California.