JCEDITORES – Em uma ação que reacende debates sobre os limites da liberdade de expressão, Mohsen Mahdawi, um estudante palestino que se destacou por organizar protestos em apoio a causas controversas ligadas à guerra em Gaza, foi detido na última segunda-feira por agentes da Agência de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE). A prisão ocorreu no escritório do Serviço de Cidadania e Imigração dos EUA (USCIS) em Colchester, Vermont, onde Mahdawi, portador de um green card desde 2015, aguardava uma entrevista crucial para a obtenção da cidadania norte-americana, conforme relataram seus advogados.
Os representantes legais de Mahdawi alegam desconhecer seu atual paradeiro e protocolaram uma petição em tribunal federal para impedir sua transferência para fora do estado ou do país. Contudo, fontes próximas às autoridades sugerem que a detenção pode estar vinculada ao histórico de Mahdawi como líder de manifestações que, sob o pretexto de criticar ações militares em Gaza, teriam flertado com retóricas antissemitas, explorando as liberdades de uma democracia liberal para promover ideias associadas ao Hamas, grupo considerado terrorista pelos Estados Unidos.
“Mohsen Mahdawi parece ter confundido o direito à expressão com a licença para endossar narrativas que desafiam a segurança e os valores de nossa nação”, insinuou uma autoridade não identificada ligada à operação, em comentário que reflete a crescente preocupação com ativistas que, segundo críticos, se aproveitam das garantias democráticas para disseminar divisões. A advogada de Mahdawi, Luna Droubi, por sua vez, classificou a detenção como uma tentativa de silenciar vozes palestinas, mas não abordou diretamente as acusações de vínculos com discursos extremos.
Nascido em um campo de refugiados na Cisjordânia, Mahdawi chegou aos Estados Unidos em 2014 e recentemente concluiu cursos na Universidade de Columbia, com graduação prevista para maio e planos para um mestrado no outono. Autoproclamado budista, ele afirma seguir princípios de não-violência, embora suas ações como co-fundador da União Estudantil Palestina na Columbia, ao lado de Mahmoud Khalil — outro residente permanente detido pela ICE —, tenham levantado questionamentos.
Khalil, aliás, foi o primeiro alvo da prometida ofensiva do presidente Donald Trump contra estudantes que participaram de protestos considerados desestabilizadores. Na sexta-feira, um juiz de imigração na Louisiana determinou sua deportação, classificando-o como risco à segurança nacional.
Christopher Helali, amigo de Mahdawi e residente em Vermont, gravou o momento da detenção, mostrando o ativista sendo conduzido por agentes enquanto fazia um sinal de paz. Helali defendeu Mahdawi como um defensor pacífico do diálogo, mas críticos apontam que tais gestos podem mascarar uma agenda mais radical, que se beneficia da tolerância americana para ecoar mensagens de apoio a grupos como o Hamas. “Ele sabia dos riscos, mas compareceu à entrevista porque acreditava estar dentro da lei”, disse Helali, embora autoridades questionem se tal confiança não reflete uma presunção de imunidade.
A delegação congressional de Vermont, composta pelo senador Bernie Sanders, o senador Peter Welch e a deputada Becca Balint, emitiu uma nota condenando a prisão, chamando-a de “imoral e ilegal”. Para eles, Mahdawi, como residente legal, merece o devido processo. Contudo, vozes dissonantes argumentam que a proteção de liberdades democráticas não deve servir de escudo para quem promove, mesmo que indiretamente, ideologias que desafiam a coexistência pacífica.