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Em um episódio que tem mobilizado artistas, ativistas e a comunidade brasileira nos Estados Unidos, a cineasta Bárbara Marques, uma talentosa diretora e produtora de curtas-metragens independentes, foi detida abruptamente pelo Serviço de Imigração e Controle de Aduanas (ICE) durante uma audiência rotineira para obtenção de seu green card. O incidente, ocorrido há exatas duas semanas, destaca as vulnerabilidades enfrentadas por imigrantes legais em processos administrativos e reacende debates sobre as políticas de deportação da administração atual. Amigos e familiares descrevem Marques como uma “mulher de luz”, cuja generosidade e dedicação ao cinema de arte a tornaram uma figura querida em Los Angeles.
As Circunstâncias da Detenção: Uma Armadilha Burocrática
A detenção de Bárbara Marques aconteceu em 16 de setembro de 2025, em um prédio federal no centro de Los Angeles, Califórnia. Aos 32 anos, a cineasta capixaba – natural do Espírito Santo, Brasil – havia se mudado para os EUA em 2018 para perseguir sua carreira no cinema independente. Casada em abril deste ano com o escritor, montador e ator norte-americano Tucker May, ela estava em pleno processo de regularização migratória via casamento, um caminho comum para cônjuges de cidadãos americanos.
De acordo com relatos detalhados pelo marido em postagens no Facebook e Instagram, a audiência inicial transcorreu de forma aparentemente normal. Bárbara, acompanhada de seu advogado e esposo, respondia a questionamentos sobre sua união e documentação. No entanto, no encerramento da sessão, um agente do ICE alegou uma “falha técnica em uma fotocopiadora” para levá-la a uma sala adjacente, separando-a imediatamente de seu time legal. Lá, ela foi algemada e informada de uma ordem de deportação à revelia de 2019 – um processo administrativo do qual Marques nunca foi notificada adequadamente, possivelmente devido a um erro de endereço ou falha no sistema postal.
Sem antecedentes criminais e com status migratório regular até então, Bárbara foi transferida para o Centro de Detenção de Adelanto, no sul da Califórnia, um complexo notório por denúncias de superlotação, falta de cuidados médicos e condições degradantes. Tucker May, em apelos públicos virais nas redes sociais, relatou que sua esposa passou mais de 12 horas sem comida em uma das primeiras noites e foi negada medicação para uma dor crônica nas costas, incluindo ibuprofeno e equipamentos ortopédicos. “Eles tiraram uma selfie sorrindo enquanto ela chorava algemada. Isso não é justiça; é crueldade”, desabafou May em um post que acumulou milhares de compartilhamentos.
Desde a detenção inicial, Bárbara foi transferida pelo menos três vezes sem notificação prévia: do Adelanto para uma instalação no Arizona, depois para o Centro de Detenção de Alexandria, na Louisiana. Em 27 de setembro, ela conseguiu uma ligação breve para o marido, descrevendo-se em uma “cela com paredes brancas” e prestes a ser movida novamente. Seu paradeiro exato permanece desconhecido para a família e advogados, apesar de um habeas corpus protocolado e uma ordem judicial temporária para impedir remoções forçadas.
O risco de deportação iminente para o Brasil – possivelmente via rotas não regulamentadas pela América Central – paira sobre o caso, agravado pelas políticas de “tolerância zero” em vigor. O ICE não comentou o caso publicamente, mas fontes internas citadas em reportagens brasileiras sugerem que a ordem de 2019 decorre de uma suposta ausência em uma audiência de imigração durante sua chegada inicial aos EUA. Críticos, incluindo May, acusam o sistema de opacidade e retaliação contra imigrantes em processos legítimos semelhante a outros casos recentes como o de jornalistas e ativistas detidos por cobrir operações do próprio ICE.
Filmografia: Narrativas Íntimas e Experimentais de uma Voz Única
Antes de sua detenção, Bárbara Marques já se destacava no circuito de festivais independentes de Los Angeles e São Paulo como uma diretora de curtas-metragens que mescla influências culturais brasileiras com temas universais de identidade, emoção e pertencimento. Descendente de uma linhagem de artistas – ela iniciou estudos de atuação no ensino médio no Centro Educacional Charles Darwin, no Brasil –, Marques dirigiu sua primeira obra aos 17 anos, interpretando “Caroba” na peça O Santo e a Porca, de Ariano Suassuna. Sua transição para o cinema veio com projetos experimentais, filmados em locações modestas, que priorizam narrativas pessoais sobre produções comerciais.
Sua filmografia conhecida inclui:
Dia de Cosme e Damião (2016): Um curta inicial que explora tradições culturais afro-brasileiras e festas populares, com toques de realismo mágico. Exibido em festivais regionais no Brasil.
- Amor (2018): Dirigido, produzido e estrelado por Marques, o filme mergulha em relações afetivas e vulnerabilidades emocionais. Foi seu primeiro projeto internacional, rodado durante sua mudança para os EUA, e ganhou prêmios em mostras independentes de Los Angeles.
- Cartaxo (2019-2020): Seu terceiro curta, o primeiro filmado em Hollywood. Nele, Marques dirige e atua ao lado da icônica atriz brasileira Marcelia Cartaxo (de A Hora da Estrela), em uma história sobre memória e legado feminino no cinema. O filme homenageia pioneiras da cinematografia brasileira e foi selecionado para festivais como o LA Shorts International Film Festival.
- Basement (2021): Uma obra intimista sobre isolamento e criatividade durante a pandemia, ambientada em um porão simbólico de reflexões pessoais. Exibido em plataformas online de arte independente.
- Um Filme de Verão (data exata não confirmada, por volta de 2022): Um projeto mais recente, descrito como uma meditação poética sobre verões perdidos e imigração, com elementos autobiográficos.
Marques é creditada como diretora, produtora, roteirista e atriz em seus trabalhos, frequentemente financiados por crowdfunding e colaborações com a diáspora brasileira em LA. Sua abordagem é descrita como “pessoal e experimental”, com influências de cineastas como Suassuna e Cartaxo, focando em vozes marginalizadas sem agendas políticas explícitas.
Seus filmes, disponíveis em plataformas como Vimeo e YouTube, acumulam visualizações modestas, mas críticas elogiosas por sua autenticidade.
Uma campanha no GoFundMe, lançada para custear apelações legais e desafiar a ordem de 2019, já arrecadou milhares de dólares em doações de artistas e brasileiros expatriados.
Enquanto o paradeiro de Bárbara permanece incerto, seu caso serve como alerta: em um país que se orgulha de ser nação de imigrantes, quantas histórias criativas serão silenciadas por erros burocráticos? A comunidade artística clama por justiça, e o mundo assiste – ou deveria assistir. #FreeBarbaraMarques