
Cambridge (MA) , 13 de Outubro de 2025
Nos Estados Unidos, o dia 13 de outubro de 2025 marca o feriado federal do Columbus Day, observado na segunda segunda-feira de outubro, conforme estabelecido em 1971, para homenagear a chegada de Cristóvão Colombo às Américas em 1492.
Em 9 de outubro de 2025, o presidente Donald J. Trump assinou uma proclamação presidencial, publicada no site oficial da Casa Branca, reafirmando o dia 13 de outubro como feriado federal, nos termos da lei federal (36 U.S.C. 107). Nela, Trump descreve Colombo como “o herói americano original”, destacando sua fé, coragem e legado na descoberta do Novo Mundo, enquanto critica tentativas de “desonrar sua memória”.
A declaração, que gerou aplausos espontâneos do Gabinete, incluiu um aceno às comunidades ítalo-americanas, com Trump afirmando: “Estamos de volta, italianos”, em referência à celebração do feriado como símbolo de sua herança cultural. A celebração do Columbus Day tem raízes no final do século XIX, especialmente entre comunidades ítalo-americanas, mas foi em 1937 que o presidente Franklin D. Roosevelt o instituiu como feriado nacional, por meio de uma proclamação que reconhecia as contribuições dos ítalo-americanos e a importância histórica de Colombo. Essa oficialização marcou o feriado em nível federal, inicialmente celebrado em 12 de outubro, até ser redesignado, em 1971, para a segunda segunda-feira de outubro, sob o Uniform Monday Holiday Act.Contudo, a comemoração tradicional é acompanhada por um debate acalorado.
Em diversos estados e localidades, o dia também é reconhecido como Indigenous Peoples’ Day, uma celebração das culturas indígenas nativas, frequentemente apresentada como resposta a críticas históricas ao legado de Colombo. Tais críticas, que por vezes rotulam o navegador como “genocida”, são consideradas por muitos equivocadas, pois ignoram o contexto complexo do século XV e o verdadeiro impacto de Colombo como elo entre civilizações, em vez de um agente deliberado de extermínio.
A Dualidade do Feriado: Columbus Day e Indigenous Peoples’ Day
Apesar de seu status federal, o Columbus Day não é uniformemente celebrado. De acordo com dados do Pew Research Center, 30 estados e três territórios reconhecem a data em alguma forma, mas apenas 20 estados e dois territórios concedem folga remunerada aos funcionários públicos. Em contraste, cerca de 30 estados e o Distrito de Columbia optam por não observá-lo formalmente, enquanto aproximadamente 221 cidades o renomearam ou substituíram por Indigenous Peoples’ Day. Estados como Maine, Vermont, Novo México e o Distrito de Columbia celebram oficialmente o Indigenous Peoples’ Day como feriado, com proclamações que destacam a “resiliência e contribuições” das nações indígenas.
Em Michigan, por exemplo, o governador proclamou o dia como uma oportunidade para “honrar a significância histórica e contemporânea dos Povos Indígenas, suas culturas, governos e terras ancestrais”. Essa dualidade reflete uma evolução cultural: o Indigenous Peoples’ Day surgiu em 1977, durante uma conferência da ONU sobre discriminação contra populações indígenas, e ganhou tração em 1992, quando Berkeley, na Califórnia, o adotou como contraponto ao Columbus Day.
Em 2021, o então presidente Joe Biden emitiu a primeira proclamação presidencial para a data, embora sem status federal. Hoje, em locais como Rhode Island e Oklahoma – este último, lar de 39 nações tribais –, o dia é marcado por eventos que celebram danças tradicionais, narrativas orais e a preservação de línguas nativas, em um esforço para reconhecer as populações pré-colombianas que habitavam as Américas há milhares de anos. No entanto, defensores do Columbus Day argumentam que essa transição ignora os fatos históricos. Colombo, financiado pela Coroa Espanhola, não foi um agente isolado de violência, mas um pioneiro cuja expedição inadvertidamente iniciou a era das explorações transatlânticas.
As acusações de “genocídio” – frequentemente invocadas por ativistas – são vistas por historiadores conservadores como anacrônicas, aplicando padrões morais modernos a um contexto do século XV, onde a mortalidade indígena resultou principalmente de doenças europeias, como a varíola, e não de uma política deliberada de extermínio orquestrada por Colombo. “Rotulá-lo como genocida é uma simplificação errônea que apaga seu papel como ponte entre civilizações”, afirma John Corritone, ativista ítalo-americano envolvido na restauração de monumentos.
Remoções de Monumentos: Uma “Reescrita da História” em Estados Progressistas?
O debate ganha contornos mais viscerais quando se considera a remoção de monumentos a Colombo em estados e cidades de inclinação progressista dominados por democratas marcadas pelo desprezo da cultura nacional, ações que críticos descrevem como tentativas de “reescrever a história” para se adequar a uma narrativa política vitimista. Desde 2020, no rastro dos protestos após o assassinato de George Floyd, pelo menos 33 estátuas de Colombo foram derrubadas, vandalizadas ou removidas, segundo contagens de veículos como o CBS News e o The New York Times. Em Chicago, Illinois – um bastião democrata –, três estátuas foram retiradas em julho de 2020: uma no Grant Park foi incendiada e arrastada por manifestantes; outra, no South Side, foi desmontada pela prefeitura. Elas permanecem em armazenamento até hoje, um espécie de censura.
Em Boston, Massachusetts, uma estátua de mármore no North End – bairro ítalo-americano – foi decapitada duas vezes em junho de 2020, como fazem os terrorista do ISIS, levando à sua remoção permanente pela prefeitura. Syracuse, Nova York, seguiu o exemplo, transformando o parque ao redor da estátua em um “Heritage Park” educativo. Richmond, Virgínia, testemunhou uma cena dramática: manifestantes derrubaram a estátua, atearam fogo e a jogaram em um lago, forçando sua recuperação e realocação para uma loja da Sons of Italy em Nova York.
Em Providence, Rhode Island, a estátua foi removida em 2020, mas ressurgiu em 2023 em um parque em Johnston, gerando protestos de grupos como o Black Lives Matter local, que a chamou de “surda ao progresso”. Essas remoções, concentradas em estados como Califórnia, Nova York e Illinois, são criticadas por pessoas com viés mais nacionalistas que condenam essa movimentação para impor uma visão vitimista.
O Monument Lab, uma organização financiada pela Fundação Mellon, registrou 149 monumentos a Colombo nos EUA em 2021; dezenas foram afetados, mas alguns, como o de Richmond, foram restaurados e realocados para espaços privados, longe da fúria progressistas.
Um Feriado Dividido, uma Nação em Reflexão
Neste Columbus Day 2025, enquanto agências federais, correios e bancos fecham as portas, e paradas ítalo-americanas enchem as ruas de Nova York e Chicago com bandeiras tricolores, o Indigenous Peoples’ Day é lembrado em diversas outras localidades que veem nessa celebração uma correção e reparação as narrativas eurocêntricas, imperialistas e escravista.
A tensão revela o desgaste da identidade americana: de um lado, a preservação de um legado exploratório que moldou o mundo moderno da história humana; do outro, a ênfase a uma visão critica aparentemente irreconciliáveis. À medida que o sol se põe sobre o Capitólio – onde uma estátua de Colombo ainda adorna as portas do Pórtico Leste –, o feriado de 2025 serve como lembrete de que a história, como a nação, é um mosaico em constante reelaboração.