Deutsche Welle –
O movimento “Latinos por Trump” está fazendo uma campanha fervorosa por seu presidente. Para os apoiadores de Trump, o republicano proporcionou uma economia próspera, cidades seguras e liberdade religiosa, o que supostamente permanecerá por gerações.
Através de 1 pequeno botão vermelho no canto superior direito da página inicial do grupo na internet, logo acima do artigo que tira sarro do candidato democrata à presidência, Joe Biden, o usuário vai parar diretamente num formulário de doações. Afinal, apenas mais 4 anos significariam a “transição para a verdadeira grandeza”.
“É a economia, estúpido”
Latinos que apoiam o homem que chama mexicanos de estupradores, que separou famílias de imigrantes latino-americanos já na chegada e que celebra a construção de um muro na fronteira com o México como seu maior projeto?
A verdade é que a famosa frase “É a economia, estúpido”, cunhada pelo estrategista da campanha de Bill Clinton há quase 30 anos, ainda se aplica aos 32 milhões de latinos aptos a votar nos Estados Unidos em 2020, ano em que, pela 1ª vez, eles representam o maior grupo de eleitores. Ou seja, para os latinos, emprego e economia são as questões mais importantes, e não a imigração.
“Os proprietários de pequenas empresas latino-americanas dão muito crédito a Trump por ele ter baixado impostos. Os latinos que votam nos republicanos não amam Donald Trump. Mas eles se veem primeiramente como cidadãos dos EUA e republicanos, e só depois como membros de uma etnia”, afirma Geraldo Cadava.
Cadava sabe do que está falando, pois ninguém entende melhor a cabeça dos eleitores latinos nos EUA do que ele. O professor de história e estudos latino-americanos da Northwestern University em Chicago escreveu o livro The Hispanic Republican, que trata precisamente dos latinos fiéis ao Partido Republicano dos EUA.
A falsa ideia de um “eleitor latino”
Para Cadava, uma coisa é fato: “O eleitor latino não existe. Os porto-riquenhos em Nova York votam de maneira diferente dos mexicanos na fronteira e dos cubanos em Miami. Desde 1970 os democratas têm uma média de 70% dos votos latinos, mas os cubanos no exílio na Flórida votam em Trump, por exemplo, porque ele tem assumido uma linha dura contra o presidente venezuelano, [Nicolás] Maduro.”
Já em 2016, os votos latinos haviam ajudado a decidir a vitória de Donald Trump. É verdade que eles garantiram os estados de Colorado, Nevada e Novo México para a democrata Hillary Clinton. Porém, o Texas e sobretudo o decisivo estado da Flórida elegeram o candidato republicano.
Também neste ano, o voto de minerva deverá vir dos 2 Estados com o maior número de imigrantes latino-americanos atrás da Califórnia. Há 4 anos, 28% dos latinos votaram em Trump. O chefe de governo deve contar com 1 apoio semelhantes nestas eleições.
Os democratas, no entanto, estão celebrando uma cartada com a nomeação de Kamala Harris como candidata à vice: após a escolha, os números do partido dispararam nas pesquisas, especialmente entre os latinos.
Na recente convenção democrata, Biden prometeu ser o presidente de todos os americanos, o que incluiria os quase 60 milhões de hispânicos que vivem no país. E o democrata entrou em contato com a mídia de língua espanhola e recentemente iniciou uma campanha voltada sobretudo para os latinos.
Cadava, cujos avós vêm do México e do Panamá, vê nisso 1 sinal importante, mas nada mais. Para ele, o eleitorado latino ainda é sistematicamente negligenciado. De acordo com o historiador, nem os republicanos nem os democratas compreenderam a importância do voto latino.
“Eles aparecem pouco antes das eleições e depois somem por três anos. Eles têm que investir dinheiro, tempo e energia. E eles precisam mudar a maneira como veem os latinos, que são cidadãos americanos, e não um grupo minoritário qualquer, que se pode facilmente deixar de lado”, diz.
A participação latina nas eleições está em constante crescimento. A cada 30 segundos nos EUA, um latino completa 18 anos de idade e se torna apto a votar. Mas os republicanos acham que os novos eleitores são mais inclinados a votar nos democratas de qualquer jeito e, portanto, não dão muita atenção a eles. Os democratas, por outro lado, negligenciam os latinos porque acreditam que grande parte deles sequer vota.
Na verdade, a participação eleitoral hispânica é baixa em comparação com a de outras populações. Em 2016, apenas 47,6% dos latinos com direito a votar compareceram às urnas, enquanto 59,6% dos afro-americanos e 65,3% dos brancos votaram.
Desinteresse do eleitorado como arma
É exatamente aí que entra Trump. “É óbvio que a campanha de Trump está fazendo tudo o que pode para suprimir o voto. De todos os americanos que não o apoiam e, assim, logicamente, também dos latinos”, diz Geraldo Cadava.
Para o professor de história, Trump pretende chegar o mais perto possível do recorde negativo de 44% de comparecimento às urnas observado entre os latinos na eleição presidencial de 2004, quando Bush foi reeleito para um 2º mandato. Ao mesmo tempo, acrescenta, Trump fará todo o possível para garantir que os latinos que simpatizam com os democratas não votem.
Quando Ronald Reagan concorreu à presidência como candidato republicano em 1980, ele explicou sua estratégia da seguinte maneira: “Os latinos já são republicanos, eles apenas não sabem disso”. Nas últimas semanas antes do pleito de 3 de novembro, resta a Trump torcer para que os eleitores latino-americanos também se deem conta disso.