BBC BRASIL NEWS – No domingo, a massa humana chegou à cidade de Tapachula, a aproximadamente 37 km da fronteira do México com a Guatemala.
Sob pressão do presidente americano, Donald Trump, as autoridades mexicanas tinham tentado impedir a caravana de cruzar a ponte que liga os dois países, mas os imigrantes conseguiram chegar ao México por barco, atravessando o rio Suchiate.
“Estamos queimados de Sol. Temos bolhas nos pés. Mas chegamos aqui. Nossa força é maior que as ameaças de Trump”, disse a imigrante Britany Hernández à agência de notícias AFP.
Trump quer impedir os imigrantes de chegarem aos EUA e disse nesta segunda-feira que o país vai “começar a cortar” a ajuda que oferece a Guatemala, Honduras e El Salvador.O presidente americano criticou os países por “permitir que as pessoas deixem a região” e vão “ilegalmente” aos EUA.
Em 2017, a Guatemala recebeu mais de US$ 248 milhões em ajuda dos EUA. No mesmo ano, Honduras recebeu US$ 175 milhões e El Salvador, US$ 115 milhões, segundo a Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional.
Os comentários são a mais recente tentativa de Trump de retomar a pauta sobre imigração antes das eleições para o Congresso americano, marcadas para o dia 6 de novembro.
Trump acusa os imigrantes de estarem tentando entrar ilegalmente nos EUA, mas muitas das famílias viajando em direção à fronteira estão procurando asilo. Os pedidos de asilo podem levar até 45 dias para serem respondidos.
A pobreza e a violência das maras, gangues que atuam em alguns países da América Central, são os principais motivos citados pelos migrantes para deixar seu país de origem, a família e tudo o que construíram.
De acordo com o jornal americano The New York Times, o plano de Trump para impedir a entrada dos imigrantes pode significar uma nova separação de famílias – a política de separar famílias na fronteiras gerou uma crise no meio do ano. Segundo o jornal, as famílias podem ter de escolher entre entregarem as crianças para cuidadores temporários ou ficarem juntos na prisão.
O presidente americano também repetiu diversas vezes que a caravana tinha motivação política, mas não ofereceu nenhuma evidência disso.
“As caravanas são uma desgraça para o Partido Democrata. Mudança nas leis de imigração JÁ!”, disse ele, em um post no Twitter.
Essa não é a primeira movimentação do tipo. Em abril, outra caravana saída de Honduras, com cerca de 200 pessoas, conseguiu chegar à fronteira americana atravessando o México.
De acordo com a imprensa americana, deve levar semanas até que a caravana atual chegue à fronteira. Um dos pontos mais próximos onde é possível cruzar a fronteira fica em Brownsville, no Texas, a 1,6 mil km de distância de Tapachula.
Como tudo começou?
A marcha partiu de San Pedro Sula, em Honduras, no dia 13 de outubro, formada inicialmente por cerca de mil hondurenhos, que fogem do desemprego e da violência – a cidade é conhecida pelos altos índices de criminalidade.
A notícia rapidamente se espalhou pela imprensa e pelas redes sociais, fazendo com que mais hondurenhos e pessoas de outros países da América Central se juntassem à marcha ao cruzar a Guatemala em direção à fronteira com o México.
A região tem uma das maiores taxas de homicídio do mundo, segundo dados da ONU, e Honduras lidera o ranking global, com 55,5 mortes para cada 100 mil habitantes em 2016 – o Brasil ocupa a sétima posição, com 31,3 para cada 100 mil.
Cerca de 10% da população da Guatemala, El Salvador e Honduras já deixou seus países para fugir da criminalidade, o recrutamento forçado por gangues e as poucas oportunidades de trabalho.
Porque eles formaram uma caravana?
Caravanas de imigrantes desse tamanho são um fenômeno recente.
Embora as pessoas da região migrem para os EUA há bastante tempo e às vezes se unam no caminho, a natureza mais organizada dessas caravanas é algo relativamente novo.
A primeira caravana que saiu de Honduras e chegou à fronteira em abril foi organizada por um grupo que tem se autodenominado Pueblo Sin Fronteiras (Povo Sem Fronteiras).O grupo afirma que está tentando chamar atenção aos suplícios sofridos pelos imigrantes em casa e aos perigos que eles correm em sua tentativa de chegar aos EUA em segurança.
Para os imigrantes – especialmente os mais vulneráveis, como idosos e mulheres com crianças pequenas – a caravana oferece mais segurança do que a migração solitária.
Migrantes são frequentemente sequestrados por traficantes de pessoas e por gangues de tráfico de drogas que os obrigam a trabalhar para eles.
Um grupo grande é um alvo mais difícil, portanto, ofecere mais proteção.
Quantos imigrantes formam a caravana?
O número exato é difícil de determinar porque o grupo se dividiu. Alguns já estão na cidade mexicana de Tapachula, enquanto outros ainda estão na fronteira da Guatemala com o México.
Algumas estimativas dizem que 5 mil pessoas deixaram a cidade de Hidalgo em direção a Tapachula; a Polícia Federal mexicana estimou um número menor, de 3 mil pessoas.
Estima-se que outros 1,5 mil imigrantes estejam esperando para cruzar a fronteira da Guatemala com o México.
Um novo grupo recém-formado de cerca de mil imigrantes hondurenhos também está caminhando em direção aos EUA.
Porque a reação do presidente Trump foi tão forte?
Acabar com a imigração ilegal foi uma das principais promessas de campanha de Trump quando concorria à presidência e a caravana é exatamente o tipo de questão que pode mobilizar seus apoiadores.
Os EUA terão eleições para o Congresso em novembro, e se o Partido Republicano perdar a maioria para o Partido Democrata, Trump terá dificuldade em implantar sua agenda para o país.
Para 15% dos americanos, a questão da imigração é o desafio mais importante a ser enfrentado no momento.
Nesta segunda, Trump também incentivou as pessoas as culparem os democratas pela crise na fronteira, dizendo “lembrem-se das eleições”.
A mídia mais conservadora nos EUA tem apoiado as alegações do presidente de que a caravana é cheia de pessoas – e criminosos – tentando entrar ilegalmente nos EUA e de que os democratas são culpados pela crise.
O que os países da América Central têm feito?
O presidente de Honduras, Juan Orlando Hernández, pediu aos cidadãos que não se juntem à caravana, e mandou ônibus à fronteira da Guatemala com o México para repatriar aqueles que por ventura tenham mudado de ideia sobre a imigração – ou que simplesmentes estejam cansados demais para continuar.
De acordo com números do governo, cerca de 3,4 mil hondurenhos que faziam parte da caravana voltaram para casa.O México disse que iria barrar quem não tivesse passaportes e vistos na fronteira. Mas diante de milhares de imigrantes e depois de enfrentamentos, a tropa de choque voltou aos ônibus que haviam levado os policiais até a fronteira.
Cerca de 900 imigrantes cruzaram o rio e chegaram ao México, sem que a polícia conseguisse intervir.
Autoridades mexicanas dizem que têm encorajado os imigrantes a pedir asilo já no México, desistindo de seguir até os EUA, e que mais de mil começaram o processo. Quem tiver o pedido rejeitado pelas autoridades mexicanas será deportado.