
Em 3 de julho de 2025, o Congresso dos Estados Unidos aprovou a chamada “Big Beautiful Bill”, uma lei promovida pelo presidente Donald Trump como a pedra angular de seu segundo mandato. Apresentada com a retórica grandiosa típica de Trump, a legislação promete impulsionar a economia e fortalecer a segurança nacional. No entanto, uma análise crítica revela que o plano é um exercício de megalomania que amplia desigualdades, carece de transparência e planejamento, e penaliza as camadas mais vulneráveis da sociedade americana. Até mesmo vozes influentes, como o bilionário Elon Musk, condenaram a lei, chamando-a de “suicídio político”. Sem duvida os cortes em programas sociais, a redução no Medicaid, a ampliação da desigualdade e a falta de transparência transformam essa lei em uma infâmia que prejudica aqueles que menos podem se defender.
A espinha dorsal da “Big Beautiful Bill” são os cortes de impostos no valor de US$ 4,5 trilhões ao longo de uma década, que beneficiam desproporcionalmente os mais ricos. Isenções para heranças, empresas e rendas altas dominam o pacote, enquanto medidas populistas, como a isenção de impostos sobre gorjetas e horas extras, oferecem alívio mínimo para trabalhadores de baixa renda. Mas segundo o Yale Budget Lab, 80% das famílias americanas terão uma redução líquida em sua renda devido ao desequilíbrio fiscal da lei, que transfere riqueza para o topo da pirâmide social.
Enquanto os mais ricos celebram, as camadas mais frágeis — trabalhadores precarizados, idosos de baixa renda e minorias — enfrentam o impacto de políticas que priorizam elites econômicas. A promessa de crescimento econômico é ofuscada pelo risco de inflação, impulsionada por tarifas comerciais sobre importações que encarecerão bens essenciais como alimentos e roupas. Essa desigualdade ampliada não apenas agrava divisões sociais, mas também mina a coesão de uma nação já polarizada.
A “Big Beautiful Bill” é um exemplo gritante de falta de transparência e planejamento. Aprovada em uma votação apertada (51-50 no Senado, com desempate do vice-presidente JD Vance, e 218-214 na Câmara), a lei enfrentou críticas até de aliados republicanos, como o senador Rand Paul, que apontaram a ausência de debate aprofundado. Os US$ 330 bilhões alocados para segurança de fronteira (US$ 170 bilhões) e defesa (US$ 160 bilhões, incluindo o vago “Domo de Ouro”) carecem de detalhes sobre execução. Quantos agentes serão contratados? Quais tecnologias serão usadas no sistema antimísseis? Essas perguntas permanecem sem resposta, dando ao governo Trump um “cheque em branco” para redirecionar recursos conforme interesses políticos.
A promessa de um “grande plano de infraestrutura”, anunciada em janeiro de 2025, também não se materializou na lei. Diferentemente do plano de infraestrutura de US$ 1 trilhão de Joe Biden, que lançou 40.000 projetos, a “Big Beautiful Bill” não especifica investimentos em rodovias, pontes ou energia. Essa vagueza reforça a percepção de que a lei é mais um espetáculo de retórica do que um projeto estruturado, penalizando a população que depende de melhorias reais na infraestrutura envelhecida dos EUA.
Os cortes de US$ 1,2 trilhão em programas sociais são um dos aspectos mais cruéis da lei. Programas de auxílio alimentar e outras formas de assistência foram reduzidos, aumentando a insegurança alimentar para milhões de famílias de baixa renda. A revogação de incentivos da Lei de Redução da Inflação de 2022, que promovia energia limpa, elimina 1,6 milhão de empregos e eleva os custos de energia em 4% por megawatt, impactando diretamente trabalhadores e consumidores de baixa renda.
Esses cortes não apenas dificultam o acesso a necessidades básicas, mas também comprometem a transição para uma economia sustentável, deixando os mais pobres expostos a custos crescentes e instabilidade econômica.
A redução no Medicaid é talvez o elemento mais devastador da lei. O programa de saúde para baixa renda pode excluir até 12 milhões de pessoas até 2035, segundo o Escritório de Orçamento do Congresso (CBO). Idosos, pessoas com deficiências e famílias pobres serão os mais afetados, perdendo acesso a cuidados médicos essenciais. Em um país onde a saúde já é um privilégio para muitos, esses cortes representam um ataque direto às camadas mais frágeis, que não têm meios de se defender contra políticas que priorizam interesses políticos sobre o bem-estar humano.
A rejeição não vem apenas das camadas populares, mas também de figuras influentes como Elon Musk, que, apesar de seu alinhamento ocasional com Trump, classificou o projeto como uma “infâmia” e “suicídio político”. Essa crítica de um dos homens mais ricos do mundo destaca a gravidade do plano, que consegue desagradar até setores que poderiam se beneficiar dos cortes fiscais.
A combinação de um aumento de US$ 3,3 trilhões na dívida pública, desigualdade ampliada e ataques a programas sociais gerou uma rara convergência de críticas, unindo trabalhadores, analistas econômicos e até bilionários em sua condenação.
“Big Beautiful Bill” é um monumento à megalomania de Donald Trump, marcada por promessas grandiosas e uma execução que penaliza as camadas mais frágeis da sociedade americana. A ampliação da desigualdade, os cortes cruéis no Medicaid e em programas sociais, a falta de transparência e planejamento, e o impacto fiscal irresponsável revelam uma lei que prioriza a imagem de grandeza sobre a realidade das necessidades do povo. Enquanto os mais ricos colhem os frutos dos cortes de impostos, milhões de americanos vulneráveis enfrentam a perda de saúde, segurança alimentar e oportunidades. Até vozes como a de Elon Musk reconhecem a infâmia desse plano, que, em vez de fortalecer os EUA, ameaça afundá-los em dívidas e divisões. A “Big Beautiful Bill” não é apenas um escândalo — é um ataque aos que menos podem se defender.