JSNEWS – A Market Basket, uma rede de supermercados da Nova Inglaterra conhecida por seus preços baixos e forte lealdade de funcionários e clientes, voltou ao centro de uma tempestade corporativa neste mes de maio com a colocação de seu CEO, Arthur T. Demoulas, em licença administrativa remunerada. A decisão, anunciada pelo conselho de diretores em 28 de maio, reacende uma história de rivalidades familiares, lutas pelo poder e um apego quase lendário à liderança de Demoulas.
Origens do Conflito: Uma Empresa Familiar Dividida
Fundada em 1917 por imigrantes gregos, a Market Basket cresceu de uma pequena loja em Lowell, Massachusetts, para uma rede de cerca de 90 supermercados em Massachusetts, New Hampshire, Rhode Island e Maine. A empresa, ainda controlada pela família Demoulas, é famosa por sua cultura única: preços acessíveis, benefícios generosos para funcionários e uma base de clientes fiel. No entanto, por trás desse sucesso, a família Demoulas tem sido marcada por conflitos internos que remontam a décadas.
A divisão principal ocorre entre dois ramos familiares: os descendentes de Telemachus “Mike” Demoulas, pai de Arthur T. Demoulas, e os de seu irmão George Demoulas, representados por Arthur S. Demoulas. Nos anos 1990, esses ramos entraram em uma batalha legal. Após anos de litígios, Arthur T. consolidou sua liderança, mas a animosidade familiar persistiu, lançando as bases para conflitos futuros.
A Crise de 2014: O Triunfo de Arthur T.
O capítulo mais dramático da história da Market Basket ocorreu em 2013-2014, quando o conselho, então controlado por Arthur S. Demoulas, demitiu Arthur T. como CEO, alegando má gestão. A decisão desencadeou uma revolta sem precedentes. Funcionários, que viam Arthur T. como um líder comprometido com salários justos, benefícios robustos e preços baixos para os clientes, organizaram protestos massivos. Armazéns pararam, entregas foram suspensas, e clientes boicotaram as lojas em solidariedade, esvaziando prateleiras e levando a empresa à beira da falência.
O movimento, liderado por trabalhadores de todos os níveis, foi alimentado pela percepção de que Arthur T. Demoulas personificava os valores da Market Basket, enquanto seus oponentes, liderados por Arthur S. Demoulas , buscavam priorizar lucros em detrimento da cultura da empresa. Após semanas de caos, Arthur T. Demoulas emergiu vitorioso, comprando a participação majoritária da empresa por cerca de US$ 1,6 bilhão em 2014, reassumindo o cargo de CEO e consolidando seu controle acionário. A crise de 2014 tornou-se um caso de estudo em gestão, destacando a lealdade incomum de funcionários e clientes a um líder corporativo.
Nos anos seguintes, Arthur T. Demoulas liderou a Market Basket em uma fase de estabilidade e crescimento, mantendo sua reputação de preços competitivos e cultura pró funcionário. A empresa continuou a prosperar, operando como uma das poucas cadeias regionais capazes de competir com gigantes como Walmart e Stop & Shop. No entanto, as tensões familiares nunca desapareceram completamente.
As três irmãs de Arthur — Rafaela Demoulas Evans, Diana Demoulas Merriam e Fotene Demoulas — junto com seus indicados no conselho de diretores (Jay Hachigian, Steven Collins e Michael Keyes), emergiram como uma nova força de oposição. Embora os detalhes das dinâmicas familiares sejam desconhecidos, a relação entre Arthur e suas irmãs parece ter se deteriorado, especialmente em torno da questão da sucessão e do controle estratégico da empresa.
O Conflito de 2025: A Acusação de Paralisação
O conflito atual explodiu em maio de 2025, quando o conselho de diretores colocou Arthur T. Demoulas, seus filhos Madeline e Telemachus, e outros executivos próximos, como Ronald G. Weiner, William T. Marsden, Michael A. Stasiukevich, Edmund J. Gough e Joseph T. Gough, em licença administrativa remunerada. A decisão foi justificada por duas Alegações principais:
- Resistência ao Plano de Sucessão: O conselho acusou Arthur T. de insistir em nomear seus filhos, Madeline e Telemachus, como futuros líderes da empresa, sem consultar os acionistas majoritários ou o conselho. Essa postura foi vista como uma tentativa de perpetuar o controle familiar de Arthur T., desrespeitando a governança corporativa e os interesses de outros acionistas, incluindo suas irmãs.
- Planejamento de uma Paralisação: O conselho alegou que Demoulas estava orquestrando uma paralisação de trabalho, possivelmente inspirada na crise de 2014, como forma de pressionar o conselho a ceder às suas demandas. Uma paralisação poderia envolver greves de funcionários, interrupção de entregas ou outras ações que paralisassem as operações da Market Basket, aproveitando a lealdade dos trabalhadores a Demoulas.
- A porta-voz de Arthur T. Demoulas, Justine Griffin, negou veementemente essas acusações, chamando-as de “absurdas” e classificando a ação do conselho como uma “tentativa de tomada hostil” liderada pelas irmãs de Demoulas e seus indicados no conselho. Griffin destacou que a Market Basket estava operando em seu “auge de desempenho”, sugerindo que as acusações eram uma fachada para justificar a remoção de Arthur T. da liderança.
O conselho de diretores da Market Basket, composto por membros indicados por diferentes facções da família, tornou-se o palco central desse conflito. As irmãs de Arthur T. Demoulas, com seus aliados no conselho, parecem estar buscando maior influência sobre o futuro da empresa, possivelmente temendo que a insistência de dele em nomear seus filhos como sucessores marginalize outros acionistas ou altere a direção estratégica da companhia. A ausência de um CEO interino nomeado após a licença de Demoulas sugere que o conselho está cauteloso, ciente do potencial de uma nova onda de protestos semelhante à de 2014.
A crise atual lembra o conflito de 2014 de maneira notável. Assim como naquela época, Arthur T. conta com o apoio fervoroso de funcionários e clientes, que veem sua liderança como essencial para os valores da Market Basket. Há rumores de que os trabalhadores podem organizar protestos ou greves caso Arthur T. Demoulas não seja reintegrado, e os clientes, preocupados com possíveis aumentos de preços ou mudanças na cultura da empresa, já expressam descontentamento nas redes sociais e em fóruns locais. A memória do boicote de 2014, que quase destruiu a empresa, paira como uma ameaça sobre o conselho, que enfrenta o desafio de conduzir a investigação sem alienar a base leal da Market Basket.
A licença administrativa de Arthur T. Demoulas marca um novo capítulo na tumultuada história da Market Basket. A investigação do conselho, que busca esclarecer as alegações de paralisação e a disputa pela sucessão, determinará se Demoulas será reintegrado ou se a empresa enfrentará uma mudança permanente de liderança. Enquanto isso, a ausência de um CEO interino e a suspensão de outros executivos criam um vácuo de liderança que pode impactar as operações da empresa, especialmente se a crise escalar para protestos ou boicotes.
A saga da Market Basket é mais do que uma disputa corporativa; é uma história de lealdade, poder e tradição familiar.
Arthur T. Demoulas, com sua habilidade de mobilizar funcionários e clientes, tornou-se uma figura quase mítica na Nova Inglaterra. No entanto, as tensões com suas irmãs e o conselho revelam as dificuldades de equilibrar interesses familiares com a governança de uma empresa de grande porte. Enquanto a disputa prossegue, clientes e funcionários aguardam ansiosamente o desfecho, temendo que a essência da Market Basket — seus preços baixos e cultura única — esteja em jogo.
Fontes: Informações baseadas em reportagens recentes da imprensa, incluindo o Boston Globe, Lowell Sun