JSNEWS – Confrontada com desafios econômicos sem precedentes, a rede de supermercados Stop & Shop pediu ao Congresso dos Estado Unidos a aprovação de legislação para combater o crime organizado no varejo, que, segundo a empresa, contribui significativamente para a elevação dos preços de produtos nas lojas, especialmente em bairros de baixa renda em Boston, onde furtos e assaltos são mais frequentes.
Com sede em Quincy, Massachusetts, a cadeia regional destaca que varejistas físicos em Boston e outras cidades do estado enfrentam dificuldades crescentes devido ao impacto do crime organizado no varejo. “As lojas físicas estão sofrendo com furtos e assaltos cada vez mais frequentes, e precisamos de ações urgentes para proteger nossos negócios e clientes”, afirmou Roger Wheeler, presidente da Stop & Shop, em uma correspondência enviada à uma comissão do senado federal em 14 de maio de 2025.
A empresa considera essencial que o Congresso estadual atue para deter essas práticas criminosas, que elevam os custos operacionais e, consequentemente, os preços para os consumidores.
Na correspondência, que foi enviada em resposta a questionamentos sobre possíveis práticas de preços abusivos em alguns estabelecimentos da rede, Wheeler enfatizou a gravidade do problema: “O roubo no varejo é uma preocupação central para redes como a nossa. Precisamos que os legisladores ajam rapidamente, promovendo leis que protejam nossos clientes e colaboradores.” Ele destacou que a continuidade dos investimentos da Stop & Shop em suas lojas, clientes e comunidades depende de medidas eficazes contra o crime organizado.
Um dos pontos centrais mencionados por Wheeler é a Lei de Combate ao Crime Organizado no Varejo, reintroduzida em abril de 2025. A proposta, apresentada pelo senador republicano Chuck Grassley e pela senadora democrata Catherine Cortez Masto, visa coibir os chamados “flash mob robberies” e outros esquemas sofisticados de furto no varejo. Flash mob robberies são ações criminosas em que grupos organizados, frequentemente coordenados por redes sociais, invadem lojas de forma rápida e em grande número, roubando mercadorias em massa e fugindo antes da chegada das autoridades. Esses incidentes, comparáveis aos “arrastões” no Brasil, têm crescido em frequência e impacto.
Em Massachusetts, por exemplo, a imprensa local relatou casos em 2023, como um ataque em 15 de agosto de 2023, a uma loja de eletrônicos em Saugus, onde cerca de 30 jovens invadiram o estabelecimento, levaram produtos avaliados em US$ 10 mil e fugiram em minutos. Outro incidente ocorreu em 22 de novembro de 2023, em uma loja de roupas no Natick Mall, onde câmeras registraram um grupo de 20 pessoas roubando itens de alto valor, como casacos de grife, no valor de US$ 8 mil, antes de dispersar rapidamente. Em 2024, um caso noticiado em 10 de outubro de 2024, no South Bay Mall, em Dorchester, envolveu um grupo que roubou US$ 5 mil em produtos de uma loja de departamentos, com registros de violência contra funcionários.
A legislação proposta prevê a criação de um centro de coordenação contra crimes organizados no varejo e na cadeia de suprimentos, vinculado ao Departamento de Segurança Interna dos EUA (DHS). Esse centro reuniria expertise de agências estaduais e locais de segurança, além de representantes do setor varejista, para desenvolver ferramentas que auxiliem investigações federais, processem criminosos e recuperem bens e lucros roubados. “Essa lei é um passo crucial para deter essas práticas que prejudicam o varejo e encarecem os produtos para os consumidores”, reforçou Wheeler.
A Federação Nacional de Varejo aponta que mais de 84% dos varejistas nos EUA relataram maior preocupação com a violência e agressividade associadas a atividades criminosas desde 2022. Estimativas federais indicam que incidentes de furto aumentaram 93% em 2023 em comparação com 2019, refletindo a escalada do problema.
Respondendo a uma carta enviada em maio de 2025 pelos senadores Elizabeth Warren e Ed Markey, além dos deputados Ayanna Pressley e Jim McGovern, que questionaram preços mais altos em comunidades de baixa renda, Wheeler explicou que a Stop & Shop adota a prática comum no setor de variar preços por localização. Fatores como aluguel, tamanho da loja, custos de transporte e perdas por furtos — incluindo os flash mob robberies e outros crimes organizados — influenciam a precificação. “As perdas causadas por furtos, especialmente em áreas urbanas como Jamaica Plain, Dorchester e Grove Hall, aumentam o que chamamos de ‘encolhimento’ (shrink), o que impacta diretamente os preços”, esclareceu o presidente.
Diferenças de Preços e Impacto do Crime Organizado
Voluntários da Hyde Square Task Force, em Boston, constataram em um estudo de junho de 2023 que a loja da Stop & Shop em Jamaica Plain, um bairro de classe trabalhadora com renda média de US$ 35.900 em 2022, cobrava 18% a mais por 17 itens idênticos em comparação com a unidade suburbana de Dedham, localizada em uma área mais abastada com renda média de cerca de US$ 100.000.
O carrinho de compras em Jamaica Plain custava US$ 34 a mais, com itens como hambúrgueres de peru custando US$ 11,49 em Jamaica Plain e US$ 9,49 em Dedham. Após pressão de legisladores e ativistas, a Stop & Shop reduziu os preços em Jamaica Plain em abril de 2025, equiparando-os aos de Dedham, mas o problema persiste em outros bairros de baixa renda.
Um segundo estudo da Hyde Square Task Force, publicado em outubro de 2024, analisou preços em outras lojas Stop & Shop em bairros urbanos de Boston, como Grove Hall (renda média de US$ 41.068), South Bay (Dorchester, renda média de US$ 38.000) e Mission Hill (renda média de US$ 45.000), comparando-os com Dedham e Hingham (renda média de US$ 211.000).
Os resultados mostraram diferenças significativas:
- Grove Hall: Preços 15% mais altos que em Dedham para os mesmos 17 itens, com um carrinho custando US$ 30 a mais. Por exemplo, um pacote de peito de peru fatiado Oscar Mayer custava US$ 7,99 em Grove Hall e US$ 6,30 em Dedham em setembro de 2024.
- South Bay: Preços 12% mais altos que em Dedham, com uma diferença de US$ 25 no carrinho. Batatas fritas de marca própria custavam US$ 3,99 em South Bay e US$ 3,49 em Dedham.
- Mission Hill: Preços 10% mais altos que em Dedham, com uma diferença de US$ 20 no carrinho. Um litro de sorvete Brigham’s custava US$ 6,99 em Mission Hill e US$ 5,99 em Dedham.
- Hingham: Os preços eram praticamente idênticos aos de Dedham, com variações inferiores a 2%, refletindo menor incidência de furtos e custos operacionais mais baixos devido à presença de outros inquilinos que ajudam a custear despesas.
A senadora Elizabeth Warren destacou em maio de 2025: “Não é coincidência que comunidades de classe trabalhadora, como Jamaica Plain, Grove Hall e South Bay, estejam enfrentando preços altíssimos. O impacto desproporcional do crime organizado em bairros de baixa renda força varejistas a aumentar preços para compensar perdas.” Um relatório do Boston Globe de 30 de setembro de 2024 confirmou que as lojas de Jamaica Plain, Grove Hall e Hingham têm preços uniformes em teoria, mas descontos temporários e diferenças regionais persistem, especialmente em áreas com maior incidência de furtos.
O South Bay Mall, em Dorchester, foi identificado como um ponto crítico para furtos, com 73 ordens judiciais de afastamento emitidas entre setembro e dezembro de 2024 contra indivíduos acusados de furtos em lojas como a Target.
Um caso notável envolveu Kevin W., de Taunton, que em 13 de janeiro de 2025 foi alvo de uma ordem de afastamento por furtos repetidos no South Bay, com 11 mandados pendentes. Esses incidentes contribuem para o aumento do “encolhimento” nas lojas urbanas, pressionando os preços.
Em contraste, bairros como Hingham, Hyde Park e Roslindale, com menor incidência de furtos e custos operacionais reduzidos, apresentam preços mais próximos aos de Dedham. Por exemplo, em setembro de 2024, um pacote de waffles Eggo custava US$ 3,29 em Hingham e Roslindale, mas US$ 3,79 em Grove Hall, uma diferença de 15%. Economistas consultados pelo MassLive em 11 de outubro de 2024 explicaram que custos de segurança, perdas por furtos e transporte em áreas urbanas como Grove Hall e South Bay justificam parcialmente essas disparidades, mas alertaram que exigir preços uniformes poderia levar ao fechamento de lojas em bairros pobres, agravando a escassez de alimentos.
Wheeler negou que a Stop & Shop considere a demografia dos bairros ao definir preços: “Nosso processo de precificação é confidencial e sensível à concorrência, mas fatores como furtos e custos operacionais são determinantes.” Ele prometeu que, até o final de 2025, os preços serão reduzidos em todas as lojas da rede em Massachusetts, que conta com mais de 60 unidades no estado, apesar do fechamento de oito lojas em 2024 devido a “baixa rentabilidade”.
A Associação de Varejistas de Massachusetts apoia a Lei de Combate ao Crime Organizado no Varejo e projetos estaduais para enfrentar o problema. Ryan C. Kearney, conselheiro geral da associação, afirmou: “O crime organizado no varejo custa cerca de US$ 2 bilhões anuais aos varejistas de Massachusetts. É uma ameaça que exige ação imediata.” Um exemplo de crime organizado envolveu duas mulheres de Taunton, indiciadas em 2023 por roubar US$ 27 mil em produtos da Stop & Shop com cupons falsificados entre julho e setembro de 2023. “O crime organizado no varejo é um problema nacional crescente, com furtos e violência atingindo níveis sem precedentes”, alertou Kearney.
Com a pressão de consumidores, legisladores e do setor, a Stop & Shop reforça que o combate ao crime organizado é essencial para manter preços acessíveis. “Sem ações concretas, os custos continuarão a recair sobre os consumidores, especialmente em comunidades já vulneráveis”, concluiu Wheeler em sua correspondência.