JSNEWS – A atenção do governo federal dos Estados Unidos aos crimes de colarinho branco, como fraudes corporativas, financeiras, fiscais, de saúde, furto de identidade e violações antitruste, tem diminuído significativamente, levantando preocupações sobre os impactos dessas práticas na sociedade americana. Dados do Transactional Records Access Clearinghouse (TRAC), obtidos pela Lei de Liberdade de Informação, mostram que as ações judiciais contra esses crimes caíram mais de 10% entre o ano fiscal (FY) 2024 e 2025, de 4.332 para uma projeção de 3.862 casos, menos da metade do pico de 10.909 em 1995. Essa despriorização, que parece refletir uma falta deliberada de interesse, tem consequências graves para a economia, a confiança pública e a equidade social.
Os crimes de colarinho branco causam prejuízos financeiros massivos, corroem a confiança nas instituições e exacerbam desigualdades. Fraudes financeiras, por exemplo, podem devastar poupanças de cidadãos comuns, enquanto fraudes corporativas afetam investidores, funcionários e consumidores.
Um caso recente é o da FTX (2022-2023), onde o colapso da exchange de criptomoedas resultou em perdas de bilhões de dólares para investidores, com Sam Bankman-Fried condenado por fraudar clientes em mais de US$ 10 bilhões.
Outro exemplo é o esquema de Theranos (desmantelado em 2018, com condenações em 2022), onde Elizabeth Holmes enganou investidores e pacientes com falsas promessas de tecnologia médica, prejudicando financeiramente e colocando vidas em risco. Esses casos ilustram como a falta de fiscalização pode permitir que fraudes prosperem, afetando desde indivíduos até a economia em geral.
De acordo com o TRAC, o FBI, principal agência investigativa para esses crimes, enfrenta cortes orçamentários e uma diretriz de 2025 que redireciona um terço do tempo dos agentes para o combate à imigração ilegal. Isso sugere uma escolha política de priorizar questões de maior apelo público em detrimento de crimes financeiros complexos, que frequentemente envolvem réus com acesso a defesas legais robustas.
A taxa de conversão de denúncias em ações judiciais é baixa, caindo para 24% em FY 2025, contra 65% para todos os crimes e mais de 90% para casos de imigração. Além disso, apenas 1% das ações desde 2004 miram corporações – em 2024, somente 44 dos 4.332 casos envolveram empresas –, indicando relutância em enfrentar entidades poderosas, apesar de muitos esquemas ocorrerem em contextos corporativos.
Embora as sentenças tenham se tornado mais severas em 2025 (média de 27 meses, mediana de 14 meses, contra 19 e 6 meses de 1986 a 2024), o menor volume de casos limita seu impacto.
Fraudes financeiras, fiscais e de programas federais dominam as condenações, enquanto violações antitruste representam apenas 0,3% dos casos de 1986 a 2024, com leve aumento para 1,6% em 2025. A sofisticação crescente de fraudes, como as envolvendo criptomoedas, dificulta a detecção, mas a ausência de ações robustas durante crises econômicas sugere que o problema é mais de prioridade do que de redução na ocorrência desses crimes.
A despriorização de crimes de colarinho branco, conforme apontado pelo TRAC, ameaça a equidade no sistema de justiça. Diferentemente de crimes como tráfico de drogas, processados também por agências estaduais, esses crimes dependem quase exclusivamente de estatutos federais. A falta de enforcement, especialmente contra corporações, perpetua a percepção de que indivíduos e entidades poderosas escapam de punições, minando o princípio de que “ninguém está acima da lei”.
Casos como FTX e Theranos destacam a urgência de maior fiscalização para proteger a sociedade americana de perdas financeiras e erosão da confiança pública.
Fonte: Transactional Records Access Clearinghouse (TRAC), relatório publicado em 23 de maio de 2025.