Edel Holz – Eu tinha 17 anos e fui fazer vestibular, no Rio, para Artes Plásticas. Madre Mercedes me disse: — “Você sabe que não vai passar. Sua vocação é para as Artes Cênicas!” Quando voltei, eu estava perigando bombar no Magistério — e como isso nunca havia acontecido no Colégio Imaculada Conceição de Passos — ela me deu as três salas do Normal para escrever, produzir e dirigir espetáculos, ajudando todo mundo a ir bem em português.
Eu ficava no colégio das 7 da manhã às 7 da noite. E, graças à Madre Mercedes, fui para o Rio fazer teatro. Fiz a CAL, em Laranjeiras, e depois passei nas audições da Martins Penna — a única escola pública de teatro do Rio. Foram dois anos intensos. Alguns colegas meus hoje se destacam no cinema, no teatro e na TV, como Thelmo Fernandes, Alexandra Richter e Cláudio Gabriel.
Foi triste ver a Martins Penna ser demolida. Tantos sonhos teatrais, tanto aprendizado indo por água abaixo! Um dia, o José Wilker me disse: — “Tem gente que tem talento e outros que têm vocação. Talento a gente nasce com ele. Vocação é: quando tudo dá errado e a gente continua.” Pois já passei por poucas e boas no teatro de Boston. Hoje sei que tenho vocação.
Mesmo com todas as dificuldades, continuo a fazer teatro em português numa terra onde todo mundo fala inglês. Coisa de doido!
SOBRE A COLUNISTA: Edel Holz é a mais premiada e consagrada atriz, roteirista, diretora e produtora teatral brasileira nos Estados Unidos. Inquieta e de mente profícua, Edel tem sempre um projeto cultural engatilhado para oferecer para a comunidade brasileira. Depois de anos de ausência, Edel volta a abrilhantar as páginas de um jornal. Damos as boas vinda à poderosa e de mente efervescente Edel.