Edel Holz*
Não sei se é a idade chegando, ou o que como, mas a verdade é que não consigo as vezes segurar aquele arzinho que popularmente chamam de pum ou gazes. Esses dias foi um pouco constrangedor. Eu num supermercado agachei pra pegar uma maionese e pimba! Aquele barulhinho típico de quem comeu torresmo, feijão ou muito repolho ou brócoli saiu sem permissão.
Sem cheiro, mas muito barulhento. E quando ele vem em série? Sim, você anda e solta um após o outro e disfarça o barulho, faz aquela cara que não foi com você.
Eu namorava um advogado carioca eu estava na casa dele em Teresópolis. Conhecendo a família, todos na sala quando aquele pum fedorento saiu de mim sem mais nem menos. Não sabia onde colocar a cara quando minha sogra cobramente comentou: – “Nossa… tem alguém podre nessa sala…” Eu disse: – “Deve ser o esgoto da rua, caminhão de lixo… aqui tem granja perto? Cheiro de granja…” Era melhor se eu tivesse ¬ ficado quieta. Cheiro de granja foi mal… Tem o pum discreto, aquele que sai sem a gente querer. Tem o pum escandaloso, aquele que só falta gritar: -cheguei! Tem também o pum estragado – igual àquele que saiu sem querer em Teresópolis. Ele não faz barulho, mas fede no mundo… Tenho medo de ¬ ficar velha e ter que usar fralda, sem conseguir controlar minhas atividades fisiológicas.
Eu li em algum lugar que a gente não pode prender os gazes que dói na alma. E é verdade. Já prendi por educação e quase morri de dor. Achei que era coração, enfarto do miocárdio, o escambau. Minha amiga me disse: -“ Ferve água, joga de um copo pro outro até aguentar beber e toma a água toda. Nossa… parecia 4 de julho. Fogos de artifício pipocavam de mim.
A dor aliviou e realmente não dá pra segurar pum não. Por isso não durmo perto de quem não é da família. Por isso reservo sempre um quarto de hotel só pra mim. Pra não morrer de vergonha.
Teve um dia que fui pro banheiro pra não solta-los perto de ninguém e meu marido foi escovar os dentes e disse: – “Nossa… você não tem educação? Poxa eu vim pro banheiro pra peidar e você invadiu minha intimidade. Se eu não puder soltar pum no banheiro onde vou soltar? Ele me olhou, riu, não respondeu. Soltou ele mesmo um pum daqueles barulhentos e com cheiro. Deixou o peido ali comigo e foi embora. Que grossura…
* SOBRE A COLUNISTA
Edel Holz é a mais premiada e consagrada atriz, roteirista, diretora e produtora teatral brasileira nos Estados Unidos.
Inquieta e de mente profícua, Edel tem sempre um projeto cultural engatilhado para oferecer para a comunidade brasileira. Depois de anos de ausência, Edel volta a abrilhantar as páginas de um jornal. Damos as boas vinda à poderosa e de mente efervescente Edel.