Edel Holz – Sou a caçula, menina temporã numa casa com dois irmãos mais velhos. Douglas e Gustavo.
Douglas, 13 anos a mais que eu, brincava comigo de stop, me levava pra patinar nos rollers tops de Sampa e foi ele quem segurou a nossa barra quando a grana minguou nos anos 70. Trabalhou de peão de obra, pagou minha primeira comunhão (vestido, festa e três anéis de ouro e brilhantes que me deu de presente). Levava sua marmita de peão pra casa e era o que comíamos pra passar a fome).
Papai esperava sua aposentadoria do banco, que estava bem atrasada, com isso não havia grana pra nada. Doia, como chamo Douglas, foi nosso herói nessa época, enquanto papai tentou trabalhar como corretor de imóveis e o Irmão(Gustavo) , 18 anos mais velho que eu, fazia teatro no Banespa, cantou com Milton Carlos no programa da Clarice Amaral e quando o bicho pegou, foi morar com a Censa em Passos, fazendo teatro com o grupo Alfa, escrevendo cartas deliciosas pra mim todo mês.
Irmão artista, exagerado, vozeirão, louco por cinema e teatro dizia: “Serei feliz se morrer no palco, porque o palco é minha vida!”
Pois ele não só me inspirou a ser atriz como inspirou-me a ser diretora e autora teatral.
Falava palavrões sem chocar. Quando os meninos do colégio gritavam: “Ou Gugu…”, já sabiam que iriam ouvir: “Vai tomar no cu!”.
Falava palavrão pras freiras e ele era o professor que elas mais amavam!
Recebia minhas amigas de cueca. Uma delas reclamou que não iria mais estudar na minha casa porque meu irmão andava pela casa de cueca.
E eu: “Uai… seu pai não usa cueca não?”.
Seria estranho se meu irmão usasse calcinhas! Pra mim era normal ver os homens da minha casa de cueca e eu também nunca tive vergonha do meu corpo, sempre lidei bem com isso.
Hoje em dia, meu irmão seria cancelado pela cueca e pelos palavrões! Escrevia crônicas na Folha da manhã e manifestava sua vontade de comer pé de porco, pirulito de mel no papel manteiga e outras “cositas mas” e na nossa porta salpicavam cestas e mais cestas de pés de porco, pirulitos de mel no papel manteiga e muitas “cositas mas”.
No meu niver de 11 anos, o Irmão me deu um conjunto de pintura a óleo e o Doia pagou nossa ida ao Playcenter. Os dois cuidando de mim, me paparicando.
Quando fiquei menstruada, aos onze anos, era o Doia que me carregava pro banheiro, pro quarto e pra sala. Fiquei uma semana sem ir a aula.
Gritava: Tô morrendoooo!!!
Irmão foi fazer teatro nas estrelas, virou nome de teatro em Passos e seu legado nos orgulha! Doia se casou com Leia e nos deram 3 filhos maravilhosos: Bruna, Bárbara e Gugu.
Gugu foi pro outro plano cedo demais e Doia este ano, completa 70 anos de idade. Um menino, um boêmio, nosso salvador da Pátria que amo demais da conta.
Quando tonto canta: “pobre menina não tem ninguém …”
Sou muito feliz por ter o privilégio de ser irmã de dois irmãos maravilhosos que, diferentes entre si, me completam.
Irmão e Doia: obrigada por tudo! Amo vocês! Edelweis.
SOBRE A COLUNISTA: Edel Holz é a mais premiada e consagrada atriz, roteirista, diretora e produtora teatral brasileira nos Estados Unidos. Inquieta e de mente profícua, Edel tem sempre um projeto cultural engatilhado para oferecer para a comunidade brasileira. Damos as boas vinda à poderosa e efervescente Edel.