
Nos Estados Unidos de 2025, a política de imigração do governo Trump escreve capítulos de dor e indignidade, enquanto projeta no mundo uma imagem que intensifica o sentimento antiamericano. As histórias do salvadorenho Kilmar Abrego Garcia, do brasileiro Marcelo Gomez, do mexicano Narcisco Barranco e do afegão Sayed Naser são retratos vivos de um sistema que, sob a bandeira da segurança, esmaga vidas e mancha a reputação de uma nação que já foi símbolo de esperança.
O brasileiro Marcelo Gomez, um jovem de 18 anos, foi arrancado de sua rotina em Milford, Massachusetts, a caminho de um jogo de vôlei. Vivendo nos EUA desde os 7 anos com um visto expirado, ele passou seis dias detido, dormindo em um chão de concreto, sem trocar de roupas, dividindo um banheiro com 35 a 40 homens. A cena, que remete a presídios superlotados, é um fragmento do que se tornou a política de detenção americana, vista no exterior como uma afronta aos direitos humanos, avivando a desconfiança global contra os EUA.
Em Santa Ana, Califórnia, o mexicano Narcisco Barranco, 48 anos, jardineiro sem antecedentes criminais, foi brutalmente abordado por quatro agentes mascarados da Patrulha de Fronteira. Imobilizado no asfalto, levou golpes na cabeça. Só após pressão do Consulado Mexicano em Los Angeles, ele recebeu atendimento para suas feridas e uma condição cardíaca. Um de seus três filhos, todos ex-fuzileiros navais dos EUA, desmentiu a narrativa oficial de que Barranco teria tentado atacar os agentes com uma roçadeira. “Se eu fizesse isso usando um uniforme, seria um crime de guerra”, afirmou o filho. No México, onde laços familiares cruzam a fronteira, histórias como essa inflamam o ressentimento contra um governo americano percebido como cruel e desrespeitoso, amplificando o sentimento antiamericano em protestos e redes sociais.
O afegão Sayed Naser, intérprete que trabalhou com tropas americanas, fugiu do Talibã após o assassinato de seu irmão e o sequestro de seu pai. Após uma jornada de 6 mil milhas a pé até o México, foi detido pela ICE em San Diego, após uma audiência para seu visto especial de imigrante. Ele enfrenta a ameaça de deportação em uma entrevista telefônica sobre “ameaça crível”, sem seu advogado. Sua esposa e filhos permanecem escondidos, enquanto ele, preso, luta contra crises de pânico que o atormentam. No Afeganistão e em outros países do Oriente Médio, a detenção de aliados como Naser é vista como uma traição, fortalecendo narrativas de que os EUA abandonam aqueles que os serviram, o que intensifica a rejeição global à sua política externa. A mensagem é clara: os Estados Unidos trai aliados.
O salvadorenho Kilmar Abrego Garcia, deportado por engano para uma prisão brutal em El Salvador, alega em um processo judicial ter sido espancado e torturado. O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, nega veementemente essa versão, chamando-a de “exagero” em declarações públicas. Ainda assim, a história de Kilmar, amplificada por organizações de direitos humanos, ressoa na América Central como um símbolo de injustiça, contribuindo para a percepção de que os EUA tratam imigrantes como descartáveis, um sentimento que se espalha em manifestações e críticas regionais.
As políticas de Trump, com 59 mil imigrantes detidos — 70% presos no interior do país, 47% sem antecedentes criminais —, e condições “horrendas” em centros de detenção, segundo Paul Chavez, da Americans for Immigrant Justice, chocam o mundo. Dez mortes em custódia da ICE em 2025, incluindo dois suicídios, quase triplicam a taxa do governo Biden.
Essas histórias, mostradas por mídias globais, reforçam a imagem de um país que trai seus valores de liberdade e justiça, avivando o sentimento antiamericano em nações como México, El Salvador e Afeganistão. Máscaras e o espectro da repressão
Agentes da ICE, muitas vezes mascarados, operam sem identificação clara, o que a prefeita de Boston, Michelle Wu, chamou de “polícia secreta”. Essa prática, justificada como proteção contra retaliações, dificulta a responsabilização por abusos e projeta no exterior a imagem de um Estado autoritário. Na América Latina e no Oriente Médio, onde os EUA já enfrentam críticas por intervenções históricas, essas ações são comparadas a regimes repressivos, fortalecendo a rejeição global. Uma pesquisa recente mostra que 57% dos americanos desaprovam as táticas de Trump, um sinal que ressoa no exterior, onde a confiança nos EUA já atingiu mínimas históricas, como apontou o Pew Research Center em 2020.
Trump tenta equilibrar sua retórica de deportação em massa com concessões a empregadores que temem perder trabalhadores, mas a contradição é evidente. Enquanto a secretária-adjunta do DHS, Tricia McLaughlin, insiste que “não haverá espaços seguros” para quem desafiar a ICE, vozes como a do deputado Tony Gonzalez pedem foco em alvos prioritários, como terroristas, e não em imigrantes como Marcelo, Narcisco, Sayed ou Kilmar.
No exterior, cada caso de violência ou injustiça é um combustível para o sentimento antiamericano, que se espalha em protestos, redes sociais e editoriais mundo afora. A pergunta que paira é: quanto tempo os EUA podem sustentar sua influência global enquanto suas ações contradizem o ideal de uma nação de imigrantes?