Eliana Pereira Ignacio – Olá, meus caros leitores, hoje quero conversar com vocês sobre um tema delicado e essencial: como cuidar do espaço da nossa autenticidade. Depois que conseguimos conquistar esse lugar interno – onde finalmente nos reconhecemos como quem realmente somos, precisamos compreender que manter essa conquista requer vigilância, sabedoria e constância. Não se trata apenas de alcançar a autenticidade, mas de protegê-la diariamente das pressões, dos ruídos externos e, muitas vezes, até das armadilhas internas.
Na psicologia, falamos sobre o processo de autenticidade como um estado de congruência entre aquilo que pensamos, sentimos e fazemos. Quando a vida interior e exterior se alinham, sentimos paz, liberdade e pertencimento em nós mesmos. Contudo, esse alinhamento é frágil e constantemente testado. Basta uma crítica inesperada, um olhar de reprovação ou até mesmo uma comparação silenciosa para que esse espaço seja ameaçado.
Por isso, é indispensável aprender a cuidar do que é nosso. Do ponto de vista cristão, esse cuidado é ainda mais profundo, pois não cuidamos apenas de uma identidade psicológica, mas também de um tesouro espiritual.
Somos lembrados nas Escrituras de que nossos corpos e nossas vidas são templo do Espírito Santo (1 Coríntios 6:19). Portanto, preservar a autenticidade é também honrar a obra de Deus em nós, reconhecendo que fomos criados com singularidade e propósito. É importante reconhecermos os gatilhos que nos afastam de nós mesmos. Todos temos situações, pessoas ou pensamentos que despertam em nós a tendência de nos afastar de quem somos. Pode ser a necessidade de agradar, o medo de rejeição, ou a comparação constante com os outros. Muitas vezes, esses gatilhos têm raízes em experiências da infância ou em padrões familiares repetidos ao longo da vida. Do ponto de vista psicológico, identificar esses gatilhos é um exercício de autoconhecimento.
Significa observar-se, anotar situações em que você sente que “se perdeu de si mesmo” e analisar o que aconteceu antes, durante e depois. Do ponto de vista cristão, significa também orar e pedir discernimento ao Espírito Santo para revelar as áreas onde estamos mais vulneráveis a perder a essência que Deus nos deu. Outro aspecto essencial é a prática de limites saudáveis. Muitas pessoas têm medo dessa palavra porque acreditam que colocar limites significa afastar, rejeitar ou ser egoísta. Mas, na verdade, os limites são como cercas que protegem um jardim.
Eles não afastam o que é bom, mas impedem que aquilo que é destrutivo invada e roube o que foi plantado com tanto esforço. Na psicologia, o estabelecimento de limites é um pilar da saúde emocional. Sem limites, corremos o risco de viver constantemente no território dos outros, esquecendo de regar o nosso próprio jardim.
Do ponto de vista cristão, vemos que até Jesus sabia colocar limites. Ele se retirava para orar sozinho, se afastava das multidões quando necessário e não cedia às pressões de agradar a todos (Lucas 5:16). Assim, aprender a dizer “não” com amor e “sim” com consciência é uma forma de cuidar do espaço da autenticidade que conquistamos.
Cuidar do espaço da autenticidade também envolve autocuidado emocional, que tem um grande valor. Isso significa praticar diariamente atividades, pensamentos e atitudes que nos fortalecem, nos alimentam e nos conectam com o nosso eu verdadeiro. O autocuidado vai muito além de momentos de lazer ou descanso. Ele envolve práticas como:
- Alimentar-se de conteúdos que edificam.
- Cultivar amizades que respeitam quem você é.
- Dedicar tempo à oração e à meditação na Palavra.
- Respeitar seus próprios limites físicos e emocionais.
A psicologia nos mostra que a prática de pequenas rotinas de autocuidado gera resiliência e fortalece a identidade. Já na fé cristã, o autocuidado é visto como um ato de responsabilidade diante de Deus: se Ele nos confiou vida, corpo e espírito, é nosso dever cuidar para que permaneçam íntegros e saudáveis.
Atenção!!! Um ponto muitas vezes esquecido é que proteger nossa autenticidade requer disciplina e perseverança. Não é uma escolha feita apenas uma vez, mas repetida diariamente.
Quando sentimos a tentação de agradar aos outros em detrimento de nós mesmos, precisamos lembrar quem somos. Quando surgem vozes externas tentando definir nosso valor, precisamos escolher ouvir a voz de Deus, que nos chama de filhos amados.
Manter-se nesse caminho não é fácil, mas é profundamente recompensador. Cada vez que você se mantém fiel ao que acredita, você fortalece seu espaço interno e cria raízes mais firmes. Em suma, queridos leitores, cuidar do espaço da autenticidade é tanto um exercício psicológico quanto espiritual.
Exige consciência, limites, disciplina e fé. É compreender que, uma vez conquistado, esse espaço se torna um tesouro precioso que não pode ser entregue a pressões externas ou internas. Que possamos, a cada dia, vigiar, proteger e cultivar a essência que Deus nos deu, lembrando que viver de forma autêntica é também um ato de adoração.
E para finalizar, deixo com vocês um versículo que resume esse cuidado: “Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida.” (Provérbios 4:23)
Eliana Pereira Ignacio é Psicóloga, formada pela PUC – Pontifícia Universidade Católica – com ênfase em Intervenções Psicossociais e Psicoterapêuticas no Campo da Saúde e na Área Jurídica; especializada em Dependência Química pela UNIFESP Escola Paulista de Medicina em São Paulo Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas, entre outras qualificações. Mora em Massachusetts e dá aula na Dardah University. Para interagir com Eliana envie um e-mail para epignacio_vo@hotmail.com ou info@jornaldossportsusa.com


