JSNEWS – Um voo com 211 cidadãos brasileiros deportados dos Estados Unidos pousou na tarde desta quarta (26) no aeroporto de Confins, na região metropolitana de Belo Horizonte. A informação é da Polícia Federal.
Esse voo trouxe também 90 crianças, três delas não pertenciam a nenhuma das famílias deportadas. A suspeita, segundo a Polícia Federal, é de que elas tenham sido “alugadas” para se passar por filhos de falsas famílias, em um esquema criminoso para a entrada ilegal em solo norte-americano, noticiou o SiteBarra.com.br. “Foi feita uma triagem para verificar se as crianças pertenciam a famílias falsas e descobrimos que existem três, configurando tráfico de menores”, disse o delegado federal Guilherme Helmer. Ele garantiu que todos os fatos estão sendo investigados pela polícia.
O delegado não soube informar o estado de origem dessas crianças. Segundo ele, a pena de reclusão para os coiotes que são pegos cometendo tráfico de pessoas depende da quantidade de vítimas que esses criminosos fazem.
“O tráfico de pessoas pode chegar até dois anos de reclusão, com um aumento de pena de 1/3, caso haja violência”, disse.
“Agora, se a pessoa fizer isso com uma criança, ela pode pegar até seis anos, e se houver grave violência, até oito anos. Se faz isso com várias vítimas, a pena pode ser altíssima”, completou.
Em nota, o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) disse que acompanha com atenção os desdobramentos que envolvem os voos de repatriação de cidadãos brasileiros detidos por imigração irregular nos Estados Unidos.
“A realização de tais voos tem como objetivo primário reduzir, para os cidadãos brasileiros, o tempo de permanência em centros de detenção nos Estados Unidos”, diz um trecho da nota.
O Itamaraty frisa ainda que o processo de deportação ocorre integralmente sob as leis e a jurisdição dos Estados Unidos.
“Do lado brasileiro, o tema é de competência da Polícia Federal, órgão responsável pelas providências operacionais concernentes à chegada do voo e ao recebimento dos passageiros, e, portanto, ao qual as perguntas específicas sobre o assunto deverão ser encaminhadas”.
Falsa família – Como funciona o esquema
Os criminosos criam famílias falsas, com casal e filho. A criança é registrada no nome do casal que pretende ir para os EUA. Ela viaja junto.
São três formas para isso:
Criança de aluguel
Uma criança é “alugada” para ser registrada como sendo filha do casal. Ela embarca junto e, depois do processo de detenção e com o casal já estabelecido nos EUA, a criança é enviada de volta. Uma mesma criança chegou a entrar três vezes nos EUA com “pais” diferentes.
Pai falso
Os criminosos cobram valor menor para mulheres com filhos. Isso porque o acordo para o “desconto” prevê que a mulher forme um casal falso com algum homem sem filho que também pretende migrar. Como é mais difícil permanecer sozinho no país (já que pessoas sem família logo são deportadas), esse homem paga mais caro pelo serviço e registra a criança.
Filho de parente
Um casal com mais de um filho que vai migrar “empresta” uma criança para um parente que iria sozinho.
Documento e passaporte
Após registrar a criança e formalizar a família falsa, o “casal” tira o passaporte de todos e deixa o Estado para viajar.
Trajeto
Os brasileiros embarcam em um voo em direção ao México para fazer a travessia ilegal para os EUA.
4 – Detenção e imigração – Cai-Cai.
Ao serem detidos, todos da família ficam juntos, por conta de nova lei. Em três dias, se o processo de deportação não for finalizado, a família é liberada, permanece nos Estados Unidos, mas precisa se apresentar sempre que a Justiça solicitar até finalizar o processo.
Como já está no país, a família se estabelece de forma ilegal.
Lei americana
Até 2018, famílias pegas tentando entrar ilegalmente nos Estados Unidos eram separadas, ou seja, cada um era levado para um centro de detenção diferente e, depois, deportados.
Naquele ano, mais de duas mil crianças foram separadas de suas mães, muitas ficaram sozinhas em centros de detenções e, depois, sumiram.
Essa política de separação foi criticada no mundo inteiro, forçando o então presidente Donald Trump a mudar as regras.
Com isso, desde 2018, famílias pegas tentando entrar ilegalmente passaram a ficar juntas, em um “centro de detenção familiar”. Se o processo de deportação não for resolvido em três dias, a família é liberada e fica nos EUA, se apresentando à Justiça sempre que for chamada.
Brecha na lei
Como as famílias não são mais separadas e têm “mais chance” de permanecerem ilegalmente nos Estados Unidos, os criminosos passaram a lucrar com o envio de falsas famílias, “alugando” crianças para se passarem como filhos.
Com informações do sitebarra.com.br