Por: Alfredo Melo
Em 1988, pelo Campeonato Brasileiro. Se no clássico Vasco x Botafogo, pela Taça Rio, a gandula Fernanda saiu do estádio vibrando com a conquista do seu time na vitória por 3×1 — onde ela, involuntariamente, foi importante no primeiro gol do clube da Estrela Solitária — a outra gandula, Sonja, uma menina de 11 anos de idade, não resistiu à marcação do terceiro gol do Vasco, na vitória por 3×0, e desabou em lágrimas, sentada em cima da bola, na lateral do campo, em frente ao banco de reservas do Botafogo. Seu choro comoveu a todos.
Um repórter de televisão, ao perceber as lágrimas da menina, quis saber o motivo de tanto sofrimento. Sonja, em soluços, disse que era torcedora do Botafogo e não estava aguentando aquela dor. As lágrimas de Sonja comoveram não só a torcida botafoguense, como também o banco de reservas do Botafogo. Tanto que o lateral Renato tirou sua camisa e a entregou à gandula, numa tentativa de amenizar seu sofrimento. Na segunda-feira, o choro de Sonja foi manchete em todos os jornais cariocas e em programas esportivos de rádio e televisão.
O sentimento de dor daquela gandulinha comoveu o presidente e mecenas do Botafogo, o falecido Emil Pinheiro, que, em uma entrevista, disse que enquanto fosse presidente do clube, Sonja nunca mais derramaria lágrimas de tristeza pelo Botafogo.
Aquele time que fez Sonja chorar era a base da equipe que, no ano seguinte, quebraria um jejum de vinte anos sem títulos do alvinegro. Participaram daquele jogo os jogadores que seriam bicampeões cariocas em 1989/90, tais como Mauro Galvão, Vítor, Paulinho Criciúma, Carlos Alberto Santos e Mazzolinha. Em junho de 1989, na festa do título, a grande homenageada foi Sonja, que substituiu suas lágrimas de tristeza por lágrimas de alegria.
Emil Pinheiro foi presidente do Botafogo até 1992. No Campeonato Brasileiro de 2023, com um segundo turno desastroso, o Botafogo vê o título, quase ganho, escapar entre seus dedos e leva a torcida a refletir sobre as gandulas Fernanda Maia e Sonja.
A torcida quer ser Fernanda Maia, mas se aproxima da gandulinha Sonja. Não temos mais Emil Pinheiro, mas temos John Textor, que parecia reviver a saga do grande benemérito alvinegro. Infelizmente, Textor se perdeu na hora de lidar com a substituição de Luís Castro, que preferiu os petrodólares aos dólares americanos.
Bem, até que enfim o Alfredo Melo assume a verdade que nunca quis calar: ele é o Gatinho Cruel, que agora sai de cena para dar lugar ao seu criador. Enorme criatura no sentido literal, na bondade, no caráter e no conhecimento profundo do futebol e das coisas boas da vida, inclusive pratos deliciosos. Ah, tem também a paixão pelo Botafogo cada dia maior…