JCEDITORES (JUNOT) – A demanda por renovação geracional no Partido Democrata dos Estados Unidos intensifica-se à medida que a legenda se prepara para as eleições de meio de mandato de 2026, em um contexto de crescente desconfiança na democracia, especialmente entre os jovens americanos. Lideranças progressistas têm impulsionado candidaturas em primárias para desafiar deputados democratas de longa data em distritos seguros, buscando promover representantes que reflitam as aspirações de uma nova geração.
Na quarta-feira, o grupo Leaders We Deserve PAC, liderado pelo vice-presidente do Comitê Nacional Democrata, David Hogg, anunciou um investimento de 20 milhões de dólares para apoiar candidaturas jovens contra deputados estabelecidos. A iniciativa reflete a insatisfação com a liderança do partido, agravada pela percepção de que o Partido Democrata está desconectado dos americanos comuns.
A aprovação do presidente Donald Trump entre jovens caiu de um índice positivo de 5% no início de seu mandato para negativo em 29% em abril, segundo a YouGov. Contudo, os democratas também enfrentam rejeição, com apenas 30% dos eleitores menores de 35 anos vendo o partido favoravelmente, conforme dados da CNN de março.
A administração Trump tem impactado profundamente as novas gerações, alimentando uma desesperança generalizada na sociedade ocidental em relação à democracia. Para muitos jovens, o sistema democrático defendido pelo Partido Democrata beneficia apenas as elites políticas, que se servem de suas estruturas para manter poder e privilégios. A percepção é de que as pessoas comuns perderam liberdades fundamentais, como a de se expressar livremente, e enfrentam barreiras para melhorar suas vidas.
A falta de incentivos para empregos e empreendedorismo, aliada a dificuldades econômicas, como custos médicos e aluguéis elevados, reforça a sensação de exclusão. Para esses jovens, a democracia promovida pelo Partido Democrata é vista como um mecanismo que favorece exclusivamente seus próprios interesses, distante das necessidades da população.
Essa crise de confiança é percebida como uma crise política exclusiva dos democratas, que, afastados dos anseios populares, lutam para reconquistar credibilidade. A insatisfação ganhou força após decisões como o apoio do líder da minoria no Senado, Chuck Schumer, a uma resolução orçamentária republicana, alimentando especulações sobre um confronto nas primárias entre Schumer e a deputada Alexandria Ocasio-Cortez, ícone progressista.

Ocasio-Cortez e o senador Bernie Sanders têm atraído multidões em eventos como a “Turnê Contra a Oligarquia”, arrecadando, respectivamente, 9,5 milhões de dólares de 260 mil doadores (média de 21 dólares por doação) e 11,5 milhões de dólares no primeiro trimestre. Candidaturas jovens, como a de Saikat Chakrabarti contra Nancy Pelosi, Jake Rakov contra Brad Sherman e Kat Abughazaleh contra Jan Schakowsky, criticam a desconexão de congressistas veteranos com as dificuldades cotidianas, como a ausência de planos de saúde acessíveis. Abughazaleh, de 26 anos, destacou que a média de idade no Congresso (58 anos) contrasta com a dos americanos (38 anos), evidenciando a falta de representação de experiências contemporâneas.
A resposta tímida do establishment democrata aos primeiros três meses do segundo mandato de Trump intensificou a frustração. A visita do senador Chris Van Hollen a El Salvador para verificar a deportação equivocada de um imigrante foi citada como exemplo de ação que deveria ser padrão. A pesquisadora Celinda Lake observou que eleitores, jovens e mais velhos, buscam candidatos combativos, com novas ideias. Entre 2020 e 2024, o apoio democrata entre eleitores de 18 a 29 anos caiu de 60% para 54%, segundo a CNN, refletindo a urgência de renovação.
Organizações como Run for Something registraram 40 mil inscrições de jovens interessados em candidaturas desde novembro, superando o primeiro mandato de Trump. Para Rachel Janfaza, do boletim The Up and Up, esses candidatos expressam a impaciência de uma geração marcada por crises, que, cansada de esperar, busca soluções diretas. Apesar dos benefícios das primárias para redefinir o partido, há temores de que disputas em distritos seguros desviem recursos de áreas competitivas. Amanda Litman, da Run for Something, defendeu que as primárias são essenciais para transformar os democratas, garantindo que, em 2026, o partido será profundamente diferente.