
Malden (MA), 22 de Outubro de 2025
Na noite de segunda-feira, 20 de outubro, o Aeroporto Regional da Zona da Mata, em Goianá (MG), recebeu não apenas um voo comercial, mas uma história de superação que emocionou o Brasil. Fabíola da Costa, de 32 anos, natural de Juiz de Fora, desembarcou em uma UTI aérea, após mais de um ano de luta pela vida nos Estados Unidos. Em estado vegetativo desde um mal súbito em setembro de 2024, ela retorna à cidade natal para prosseguir o tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), cercada pelo apoio da família e impulsionada por uma onda de solidariedade que transformou o impossível em realidade. O custo da viagem, estimado em R$ 1 milhão, foi viabilizado por uma campanha de doações online que mobilizou anônimos de todo o país – prova de que, em tempos de adversidade, o gesto coletivo pode reacender esperanças.
Fabíola e o marido, Ubiratan Rodrigues, de 41 anos, deixaram Juiz de Fora em 2019, em busca do “sonho americano”. Ela, manicure talentosa sem histórico de problemas de saúde, e ele, caminhoneiro experiente, se instalaram primeiro em Newark (Nova Jersey) e depois em Orlando (Flórida), onde nasceu a filha caçula do casal, hoje com 5 anos. Junto aos outros dois filhos, a família planejava um futuro estável: trocar de carro, viajar nas férias e construir segurança financeira. “Éramos uma família comum, cheia de planos”, recorda Ubiratan em entrevista ao G1.
Tudo mudou em 20 de setembro de 2024. Em casa, Fabíola sofreu um mal súbito inexplicável. Durante a reanimação, enfrentou três paradas cardíacas e uma perfuração pulmonar, que privou seu cérebro de oxigênio por minutos cruciais. Resultado: lesão cerebral grave e um estado vegetativo persistente. Foram sete meses de internação em hospitais americanos, com custos parciais cobertos pelo seguro-saúde, mas despesas extras que se acumularam como uma avalanche – ambulâncias a US$ 1 mil por trajeto, equipamentos domiciliares e terapias não cobertas. Em abril de 2025, ela recebeu alta e foi para casa, em um quarto adaptado como mini-UTI. Ainda assim, Fabíola reage a estímulos: mexe braços e pernas, sente dor, chora com barulhos e até sorri em raros momentos, segundo o marido. “Ela está aí, lutando. Só precisa de uma chance”, diz Ubiratan.

Sem diagnóstico conclusivo – exames descartaram trombose e problemas cardíacos –, a família esgotou reservas financeiras. Ubiratan, impossibilitado de trabalhar, sobrevivia de doações pontuais de amigos e igrejas locais. O retorno ao Brasil, para perto dos pais de Fabíola e com acesso gratuito a fisioterapia e fonoaudiologia pelo SUS, tornou-se urgente. Mas o obstáculo era colossal: uma UTI aérea custaria entre R$ 720 mil e R$ 1 milhão, inviável para uma família já à beira do colapso.
Inicialmente, Ubiratan planejava uma odisseia por terra: 6.800 km em um motorhome adaptado, cruzando 11 países – dos EUA ao México, Guatemala, Honduras, selva de Darién (entre Colômbia e Panamá), até o Acre brasileiro. A viagem, prevista para novembro, duraria 50 dias, com o veículo equipado com cama hospitalar, oxigênio e suporte médico. “Era a única saída viável. Estamos esgotados emocional e financeiramente”, desabafou ao Estado de Minas em 17 de outubro. A ideia viralizou nas redes, comovendo internautas e gerando apoio inicial, mas riscos como áreas de insegurança e fadiga o preocupavam.
Foi então que a solidariedade explodiu. Em julho de 2025, a família lançou uma “vaquinha” online nas redes sociais, pedindo ajuda para o voo. O apelo, impulsionado por amigos em Orlando e Juiz de Fora, ganhou tração nacional. Três amigos próximos de Ubiratan – cujos nomes não foram divulgados para preservar a privacidade – tomaram a frente, arrecadando R$ 500 mil em poucas semanas. Mas o verdadeiro motor foram os anônimos: manicures de salões em São Paulo, caminhoneiros das estradas mineiras, mães solo do Nordeste, estudantes universitários e até expatriados brasileiros nos EUA. “Pessoas que nunca nos viram, mas que doaram R$ 10, R$ 50, o que podiam. Cada pix era uma mensagem de fé”, relata Ubiratan à NSC Total.
A campanha, que começou modesta, ultrapassou R$ 1 milhão em outubro, graças à repercussão em veículos como G1, Record e Jornais e sites da comunidade basileia os EUA. Figuras públicas, como o senador Eduardo Girão (Novo-CE), falou do caso no Congresso, pedindo intervenção federal. No total, centenas de doadores – muitos identificados apenas por iniciais em plataformas como Vakinha – transformaram o drama em um movimento coletivo. “Não foi só dinheiro; foram orações, mensagens e a sensação de não estarmos sozinhos”, emociona-se a mãe de Fabíola, que a acompanhou no voo.
Essa rede invisível de empatia, comum em causas emergenciais no Brasil, prova o potencial das “vaquinhas” digitais: em 2025, plataformas como Vakinha registram milhões de campanhas semelhantes, conectando corações distantes.
Um Novo Capítulo em Juiz de Fora: Esperança e Adaptação
O desembarque de Fabíola foi discreto, mas carregado de emoção. Acompanhada pela mãe e pela equipe médica, ela foi transferida de ambulância do SAMU para o Hospital Ana Nery, em Juiz de Fora, onde refaz exames e recebe cuidados iniciais. “Ela se encontra em acompanhamento médico regular, com toda a assistência necessária”, informou o hospital em nota à imprensa. Em breve, Fabíola irá para a casa dos pais, no Bairro Granjas Bethel, onde um quarto já foi preparado com os equipamentos trazidos dos EUA.
A rotina incluirá sessões diárias de reabilitação pelo SUS, com o apoio de irmãos e parentes – um contraste bem-vindo aos dias isolados em Orlando.
Ubiratan e os filhos permanecem temporariamente nos EUA, regularizando o passaporte da caçula (nascida americana). “Estamos finalizando a documentação dela. Logo nos juntamos a Fabíola”, explica ele. “Aqui, perto dos nossos, ela vai ter mais chances. E nós, força para continuar”.
A história de Fabíola ultrapassa o drama pessoal: é um lembrete das vulnerabilidades dos imigrantes brasileiros – cerca de 4 milhões no exterior, segundo o Itamaraty – e da resiliência da rede social brasileira. Em um país marcado por desigualdades, campanhas como essa mostram que a solidariedade anônima pode ser mais potente que fortunas isoladas. Enquanto Fabíola inicia sua recuperação em solo mineiro, sua jornada inspira: um mal súbito pode pausar a vida, mas o coração coletivo a reacende. Para doações contínuas ou atualizações, a família mantém o perfil nas redes sociais aberto à comunidade que a salvou.


