Os dois homens atingidos nos olhos por balas de borracha atiradas pela Polícia Militar, durante o protesto contra o presidente Bolsonaro (sem partido) no Recife, perderam parte da visão. A operação de repressão ao protesto ocorreu na manhã do sábado (29), no Centro do Recife. Segundo parentes, as duas vítimas foram ao Centro da cidade para trabalhar, e não participavam do ato.
Um dos feridos foi o adesivador de táxis Daniel Campelo da Silva, de 51 anos, que perdeu o globo ocular e foi atingido, também, nas costas.
Ele mora no bairro dos Torrões, na Zona Oeste do Recife, e foi ao Centro da cidade buscar material de trabalho. Precisou descer do ônibus na Rua Sete de Setembro, devido à interdição da Avenida Conde da Boa Vista. Na Ponte Duarte Coelho, foi surpreendido pela repressão da PM.
“Ele não estava nem no protesto. Tinha encomendado material para adesivar os táxis, porque, para ele, não tem feriado nem fim de semana. Ele trabalha todos os dias. Tem uma filha recém-nascida e um filho autista que dependem dele. Só tem essa renda, dos táxis, para tudo”, afirmou o filho de Daniel, o vigilante Júlio Campelo.
“O dano que o estado fez com meu pai é irreversível. Ele está sentindo muita dor”, disse o filho de Daniel.
Daniel foi socorrido por um amigo taxista ao Hospital da Restauração, no Centro do Recife. No local, foi transferido para a Fundação Altino Ventura, unidade de saúde referência em tratamentos oftalmológicos. No entanto, devido ao inchaço do olho, os médicos não puderam fazer nenhum procedimento.
“Ele voltou para a Restauração. Não tem muito mais o que fazer, mas o médico disse que é preciso fazer uma limpeza, para não infeccionar. Ele disse que, na manifestação, não tinha nenhum tipo de truculência e, do nada, os PMs começaram a atirar”, declarou o filho da vítima.
Além de Daniel, outras duas pessoas foram socorridas ao Hospital da Restauração devido à ação da PM. Uma foi Ednaldo Pereira de Lima, de 58 anos, atingido por bala de borracha na perna esquerda.

A outra foi o arrumador Jonas Correia de França, de 29 anos. Ele foi atingido no olho esquerdo e, segundo a esposa, a dona de casa Daniela Barreto de Oliveira, a situação é irreversível. “Há 99% de chances de que ele perca totalmente a visão. Ele saiu do trabalho, passou no Mercado de São José, comprou a carne que eu pedi e estava voltando para casa, de bicicleta. Ele me ligou para dizer que ia demorar, porque estava esperando o protesto passar. Quando desligou o telefone, os policiais fizeram isso com ele. Não deram assistência nem socorreram e queriam impedir que eu e meu cunhado passássemos de carro para levar ele ao hospital”, afirmou Daniela.
Jonas Correia de França, que mora no bairro de Santo Amaro, no Centro da cidade, foi levado ao Hospital da Restauração pelos familiares e transferido à Fundação Altino Ventura. Ele precisou retornar ao HR para esperar que o olho desinchasse.
“Um policial, ontem, foi até o hospital pedir desculpas. Ele disse ‘não tem desculpa para o que vocês fizeram comigo, eu sou um pai de família’. Agora, Pedro Eurico [Secretário de Justiça e Direitos Humanos] disse que vai me buscar amanhã [segunda-feira, 31 de maio] para conversar comigo, em nome do governador”, afirmou Daniela. “O estado fez isso com meu marido e, no hospital, nem remédio tinha para dar para ele. Meu sogro teve que comprar. Meu filho de 9 anos está arrasado. Nós dependemos dele para tudo, porque só ele trabalha e traz o ganha-pão”, declarou a esposa.
As informações são do G1