Por: Jehozadak Pereira
A exemplo do Brasil, os Estados Unidos têm também um presidente que costumeiramente testa os limites da democracia tanto quanto podem tentar. Dito conservador e de direita, Donald Trump caiu de paraquedas na cena política americana e em 2016, levou de roldão e de lavada a convenção republicana atropelando gente tarimbada e com história.
Na eleição enfrentou Hillary Clinton, tida como franca favorita e líder nas pesquisas de intenção de voto. Hillary não foi páreo para Trump que fez uma campanha inusitada nas redes sociais e escorado em gente como Steve Bannon surpreendeu e ganhou uma eleição que parecia perdida.
Com um discurso triunfalista e na contra mão de tudo o que se havia visto, Trump não deixou pedra sobre pedra. Sem a menor noção de correção do seu discurso, prometeu acabar com a imigração ilegal, construir um muro na fronteira sul e que o México pagaria por ele, atacou a China, retirou os Estados Unidos de importantes tratados e detonou as estruturas da política do modo como era vista.
Pareceu também no início, que faria o que lhe desse na telha ou no cabelão pintado de loiro e fora de moda, além de usar uma maquiagem que deixa a sua pele com tom alaranjado. Cercou-se em alguns casos importantes de gente que pensa como ele, em especial no quesito imigração.
Também enfrentou uma investigação sobre uma possível interferência da Rússia na eleição, investigação que redundou inconclusiva e que não deu em nada.
Uma das promessas de campanha de Trump foi a de drenar o pântano político em Washington e que tornou-se uma mera retórica de campanha. Já do Partido Republicano, Trump fez gato esapato, tornando-os meros coadjuvantes dos seus quereres e vontades.
Elogiou grupos de supremacia branca, fl ertou com neo-nazistas e com quem mais poderia lhe dar sustentação, e suas ações quase todas foram voltadas para uma camada da população que sempre se sentiu abandonadapelos políticos tradicionais.
Buscou de todos os modos desmontar o Obamacare e o o Daca, mas foi sistematicamente barrado pela justiça. Aliás, quando Trump foi eleito, e diante do susto e do espanto que isto provocou, estimou-se que a democracia americana tinha pesos e engrenagens que contrabalanceariam seus arroubos e arbitrariedades, o que de fato aconteceu.
Nomeou três juízes conservadores para a Suprema Corte e fez o mesmo com os tribunais inferiores do âmbito federal e destratou os meios de comunicação, mostrando todo o seu desprezo pela imprensa tradicional e estabelecida, criando o termo fake news, além de estabelecer no Twitter, um canal de comunicação direta com seus eleitores
e seguidores, como jamais de viu.
Trump foi barrado no baile muitas vezes nos tribunais, embora conseguindo algumas vitórias e incontáveis derrotas teve que conter a sua raiva e ira diante de muitas circunstâncias. Candidato a reeleição, Trump tinha como arma principal a estabilidade econômica, e se não fosse a pandemia que se abateu de forma implacável sobre a humanidade, possivelmente teria se reelegido. Na seara democrata, depois de muitas idas e vindas, optou-se pelo
nome de Joe Biden, a quem Trump chama pejorativamente de sonolento e buscou de todas as formas incriminar o filho deste em casos de corrupção em negócio na Ucrânia, tendo inclusive passado por um processo de impeachment que foi barrado no Senado, depois de ter sido aprovado na Câmara.
Se a campanha de 2016, a luta foi acirrada com muita desinformação, informação falsa, mentira e gritaria, a de 2020, foi totalmente diferente, por causa das restrições impostas sobre todos e também por causa das novas regras
das redes sociais que literalmente tornaram tudo mais difícil para a propagação das notícias falsas, ou seja, Trump
perdeu com isto o seu principal campo de batalha.
Os democratas incentivaram então o voto pelo correio, que é desde sempre é uma instituição americana, diga-se das mais confiáveis. Em paralelo a tudo isto, as pesquisas de intenção de voto, davam a Biden uma boa margem percentual e diante disto, Trump criou uma narrativa falsa de que a eleição seria fraudada e que ele seria derrotado.
Passou a campanha toda afirmando isto sem nenhum constrangimento e pudor.
Além disto ameaçou o tempo todo ir buscar na justiça a reparação caso fosse derrotado. Levou uma surra nas urnas e como prometido bateu nas portas das cortes estaduais para tentar reverter os resultados nas urnas. Perdeu de lavada e mostrou-se um mau perdedor por não saber reconhecer a vontade popular através do voto.
Pegou pesado e foi rechaçado porque não comprovou uma fraude sequer e se ele esperava por um levante em seu favor, viu que de nada adiantou a sua estridência. Bateu por fi m nas portas da Suprema Corte, onde nem os juízes nomeados por ele votaram a seu favor e a hora de ir para casa está chegando e a grande lição que fica é que a
sociedade americana é resiliente até o fim. Ainda bem…