Jehozadak Pereira
Quem em são consciência poderia imaginar um dia que os Estados Unidos e o mundo assistissem cenas dantescas e anti-democráticas vistas em Washington DC na quarta-feira, 6, por ocasião das formalidades da vitória do democrata Joe Biden.
A invasão do Congresso por uma turba ensandecida, alucinada e alimentada pelo ódio emanado de Donald Trump, parecia disposta a qualquer coisa, para fazer prevalecer a vontade que ele tem de permanecer no poder a qualquer custo, no caso a mentira de que a eleição foi uma fraude, da qual não foi apresentada uma mísera prova sequer.
Desde que o resultado que deu a Biden a certeza da vitória, Trump tem se dedicado a minar o processo democrático americano, que pode não ser moderno, mas é relativamente seguro, embora confuso.
Na realidade, Trump jamais do alto da sua arrogância e prepotência admitiu sequer a possibilidade de ser derrotado nas urnas, e desde que se decidiu que as pessoas poderiam votar pelo correio, ele começou com a cantilena de que o processo seria fraudado pelos democratas. Fez de tudo para que as pessoas não enviassem seus votos via postal e como jamais na história da democracia americana, tantas pessoas usaram tal opção. Apurados os votos presenciais e pelo correio, constatou-se que Biden venceu em redutos republicanos e nos estados-chave alcançando incríveis 81 milhões de votos contra 74 milhões de Trump.
No colégio eleitoral, Biden obteve 306 votos contra 232 do atual presidente. Trump não desistiu de afi rmar que houve fraude, e sua equipe jurídica protocolou dezenas de processos contra as apurações nos estados onde ele perdeu a eleição alegando irregularidades sem provar nenhuma. Foram mais de 60 derrotas nos tribunais federais, muitos deles com juízes nomeados pelo próprio Trump, fato que se repetiu na Suprema Corte que foi profundamente modifi cada com nomeações de conservadores na atual administração.
Já beirando o desespero para permanecer no poder, Trump fez de tudo para reverter o resultado da eleição de 3 de novembro passado. Pressionou parlamentares estaduais que seriam responsáveis pelas nomeações dos delegados no colégio eleitoral e em nenhuma das suas investidas.
Com todos os reveses sofridos, Trump foi subindo o tom de voz e a sua costumeira estridência e no sábado passado protagonizou um dos grandes papelões dos últimos tempos, ao pressionar o secretário estadual Brad Raff ensperger, da Geórgia em busca de 11.780 votos que lhe daria a vitória no estado.
O teor da conversa foi publicado na íntegra pelo jornal Washington Post, causando um grande escândalo e escancarando de vez o cinismo, a desfaçatez e o desespero de Trump para não ser apeado democraticamente do poder.
Porém, o pior estava por vir e seria um dia negro para a democracia dos Estados Unidos, mais uma infâmia protagonizada pela falta de vergonha de Donal Trump, que é sim o maior responsável por este estado de coisas – ruins.
Na quarta-feira, 6, seria o dia para a formalização dos votos do colégio eleitoral, em sessão solene no Congresso, presidida pelo vice-presidente Mike Pence, que também foi pressionado por Trump para reverter o resultado saído das urnas. Pence, resistiu-lhe bravamente e mostrou que de fato é um grande patriota, cujo nome deve ser escrito com letras maiúsculas nos anais da história dos Estados Unidos, como o homem que não se curvou diante da vontade doentia de um homem enlouquecido, alucinado e transtornado. Insuflados e açulados por Donald Trump, milhares de manifestantes fascistas, supremacistas, racistas, milicianos e extremistas de direita marcharam sobre o Capitólio e encerraram a sessão solene nos sopapos sem a menor cerimônia. As cenas diabólicas da invasão correram o mundo provocando pasmo e espanto em quase todas as pessoas.
A democracia americana foi conspurcada por Trump e sua gente de cabeça quente e intolerante, ignaros que transformaram uma das principais casas políticas do mundo livre em uma pocilga digna dos piores porcos.
O chocante de tudo isto, é ver que Donald Trump tem o apoio de ditos evangélicos, inclusive brasileiros que ao contrário de milhares de líderes de diversos seguimentos condenaram veementemente a atitude de Trump incitando a barbárie. Resta saber o que os democratas e gente de bem dos Estados Unidos fará com Trump que tem ainda duas semanas que serão longas para ir embora do poder.
O certo é que o atual presidente faz a América que ele prometeu tornar grande novamente, está passando a maior vergonha de toda sua gloriosa história. Já é hora de colocar um ponto final nesta história triste e lamentável que deve servir de exemplo para a posteridade