ESPN – Hakan Sukur, foi um herói nacional, ídolo supremo do gigante Galatasaray e responsável por marcar o gol mais rápido da história das Copas do Mundo. Seu apelido era Kral, ou “O rei”. Hoje, porém, ele dirige um Uber em Washington, nos Estados Unidos, e vende livros para ganhar a vida.
“Estou começando a trabalhar agora. Não tenho mais nada em nenhuma parte do mundo. Erdogan tirou tudo de mim. Meu direito à liberdade, o direito de me explicar, de me expressar e o direito ao trabalho”, disse ao jornal alemão Welt am Sonntag.
O ex-jogador de 48 anos também da Inter de Milão e que foi apontado como um dos grandes astros do Mundial de 2002, na Coreia do Sul e Japão. Naquele torneio, ele jogou duas vezes contra o Brasil (na fase de grupos e na semifinal), mas não chegou a brilhar. Seu grande momento acabou sendo o gol com apenas 11 segundos de jogo contra a Coreia do Sul, na disputa de 3º lugar.
Ao todo, ele anotou 51 vezes em 112 duelos pela seleção turca, sendo até hoje o maior artilheiro da história da equipe.
Pelo Galatasaray, foram 293 tentos em 552 jogos (média de 0.53 por partida), além de oito títulos do Campeonato Turco, cinco da Copa da Turquia e mais uma Copa da Uefa, vencida em cima do poderoso Arsenal de Henry, Bergkamp, Vieira, Overmars, Petit e Sylvinho. Conquistas que lhe alçaram à posição de ídolo máximo da equipe de Istambul e uma verdadeira lenda em seu país.
Após se aposentar do futebol, em 2008, Sukur, então um dos homens mais populares da nação, resolveu entrar para a política. Ele se associou ao AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento), partido do hoje presidente Recep Tayyip Erdogan, e foi eleito membro do parlamento em 2011.
Dois anos depois da eleição, porém, a situação começou a se complicar. Ligado ao movimento islâmico do clérigo Fethullah Gülen, Sukur renunciou ao seu posto no Parlamento em protesto à suspensão do sistema implantado pelo grupo junto às crianças, por ordem de Erdogan. O ex-atleta, então, tornou-se um político independente.
Ainda em 2013, porém, ele se envolveu em uma polêmica ao dizer durante uma palestra em uma universidade que era “albanês, portanto, não turco”, causando controvérsia no país.
Sukur chegou a retornar ao futebol como comentarista de uma TV pública no país, mas os problemas políticos seguiram acontecendo após ser acusado de ter ofendido o presidente Erdogan no Twitter.
Curiosamente, o ex-jogador e Erdogan sempre tiveram boa relação, e o presidente foi até um dos convidados de honra do casamento do ídolo do Galatasaray.
Por causa dos insultos, foi considerado opositor do Governo e até por fazer parte de um grupo terrorista local. Quando a polícia turca expediu um mandato de prisão após a tentativa de golpe de Estado ocorrida na Turquia, ocorrida em 2016 e na qual Erdogan apontou Fethullah Gülen como cabeça por trás da tentativa de derrubá-lo, a situação ficou fora de controle.
“Retorno à democracia, justiça e direitos humanos. Seja alguém interessado nos problemas das pessoas. Torne-se o presidente de que a Turquia precisa”, apelou Sukur ao jornal.
Sem alternativas, o ex-atacante resolveu se auto-exilar. No fim de 2017, viajou para os Estados Unidos com sua mulher e filhos e começou uma vida nova e bem diferente da que teve com o futebol.
O ex-jogador diz que, quando seus bens foram congelados, ele teve que fugir para os Estados Unidos em 2015, deixando para trás seu pai, que ficou um ano preso.
Ele não podia alugar sua propriedade por medo de que o partido turco retaliasse os inquilinos e abriu uma cafeteria nos Estados Unidos, que teve que fechar logo após prenderem um fã que havia tirado uma foto com ele.