Da Redação – A Ucrânia está preparada para firmar um acordo sobre minerais com os Estados Unidos, declarou o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky em entrevista à emissora britânica BBC neste domingo. O entendimento, que deveria representar um avanço na busca por encerrar o conflito no país, estava programado para ser formalizado na sexta-feira, mas uma discussão acalorada no Salão Oval com o presidente norte-americano, Donald Trump, alterou os planos.
“O acordo que está em negociação será assinado se ambas as partes estiverem prontas”, afirmou Zelensky durante uma coletiva no Reino Unido, após uma cúpula histórica em Londres que reuniu líderes de 18 nações para debater o futuro da guerra e a segurança na Europa. “Nossa postura é seguir adiante com o que foi iniciado anteriormente; somos construtivos. Se chegamos a um consenso sobre o acordo relativo aos minerais, estamos dispostos a concretizá-lo”.
Zelensky havia viajado a Washington na sexta-feira para uma visita oficial à Casa Branca, com o objetivo de assinar um pacto entre os dois países voltado à exploração conjunta dos abundantes recursos minerais ucranianos. A iniciativa fazia parte de um plano de recuperação pós-guerra, inserido em um acordo de paz articulado pelos Estados Unidos.
Contudo, durante o encontro no Salão Oval, Trump repreendeu Zelensky, cobrando maior “gratidão” pelo apoio prestado pelos EUA ao longo dos três anos de guerra e sugerindo que, sem essa assistência, a Ucrânia teria sucumbido à Rússia.
“Ou você fecha um acordo, ou nós nos retiramos’, declarou Trump. “E, se nos retirarmos, vocês terão de lutar, e não creio que o resultado será agradável”.
Anteriormente, o líder americano havia descrito o acordo proposto sobre os minerais como “muito justo”.
Apesar do tom ríspido da reunião com Trump, Zelensky afirmou neste domingo que permanece aberto a um “diálogo construtivo” com os Estados Unidos:
“Meu desejo é apenas que a posição da Ucrânia seja ouvida. Queremos que nossos parceiros não esqueçam quem é o agressor nesta guerra”.

A proposta em discussão ofereceria benefícios financeiros a Washington para auxiliar a Ucrânia em uma trégua, embora Trump tenha rejeitado repetidamente o envio de forças militares americanas para apoiar tropas europeias que poderiam atuar como pacificadoras.
Após o embate, Zelensky deixou Washington com sua comitiva logo após ser convidado a se retirar, cancelando uma coletiva de imprensa conjunta previamente agendada. A Casa Branca confirmou que o acordo sobre os recursos minerais não foi assinado.
Neste domingo, aliados da Ucrânia se reuniram em torno de Zelensky durante uma cúpula promovida pelo primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, que destacou o compromisso de diversos líderes europeus em aumentar os investimentos em segurança e formar uma coalizão para proteger uma eventual trégua.
De volta da cúpula em Londres, o presidente francês Emmanuel Macron declarou ao jornal Le Figaro que França e Reino Unido planejam propor uma trégua parcial de um mês com a Rússia.
Mais cedo, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, alertou em entrevista à CBS News que um acordo sobre minerais entre EUA e Ucrânia não poderia ser concluído “sem um acordo de paz” com a Rússia.
O entendimento emergiu em um contexto de crescente tensão nas relações entre Estados Unidos e Ucrânia, após o governo Trump iniciar negociações de paz com a Rússia sem envolver Kiev ou os países europeus.
Ao final da cúpula deste domingo, Zelensky comentou que a discussão em Washington não favoreceu nem os EUA, nem a Ucrânia, mas sim o presidente russo, Vladimir Putin. Ainda assim, declarou que retornaria à Casa Branca caso fosse convidado.
Zelensky, no entanto, evitou abordar a possibilidade de ceder território a Putin, uma ideia defendida por integrantes do governo Trump, e não expressou qualquer arrependimento pela maneira como conduziu o encontro com o líder republicano.
A Rússia deu início a uma invasão em larga escala da Ucrânia em fevereiro de 2022 e, atualmente, controla cerca de 20% do território ucraniano.