JSNEWS – Em uma decisão que chocou defensores dos direitos humanos e levantou questionamentos legais, o Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos (DHS) deportou oito migrantes de diversas nacionalidades para o Sudão do Sul, um dos países mais pobres e instáveis do mundo. A ação, realizada em maio de 2025, foi noticiada pelo New York Post nessa quarta-feira, 21, uma postagem do DHS na rede social X, que descreveu os deportados como “monstros bárbaros e violentos” entretanto a escolha do destino e a legalidade do processo geraram intensos debates.
Os deportados de nacionalidades diversas, Cuba, Laos, México, Myanmar, Vietnã e apenas um é cidadão do Sudão do Sul, enfrentam um futuro incerto em um país marcado por conflitos e crises humanitárias.
Segundo o DHS, os oito indivíduos — identificados como Enrique Arias-Hierro (Cuba), Jose Manuel Rodriguez-Quinones (Cuba), Thongxay Nilakout (Laos), Jesus Munoz-Gutierrez (México), Nyo Myint (Myanmar), Kyaw Mya (Myanmar), Tuan Thanh Phan (Vietnã) e Dian Peter Domach (Sudão do Sul) — foram condenados por crimes graves, incluindo assassinato, estupro e sequestro, conforme noticiou a ABC News.
O DHS justificou a deportação com base na política de remoção de não-cidadãos criminosos, mas não esclareceu por que o Sudão do Sul, um país sem conexão aparente com a maioria dos deportados, foi escolhido como destino.
A surpresa dos migrantes ao chegarem — Imagine desembarcar em Juba, capital do Sudão do Sul, um país assolado por conflitos étnicos, fome e deslocamento interno, onde mais de 7 milhões de pessoas dependem de ajuda humanitária. Para alguém de Cuba ou Vietnã, por exemplo, o choque cultural, aliado à insegurança e à precariedade, é avassalador.
No entanto, há dúvidas se o voo realmente chegou ao destino: o Major General James Monday Enoka, porta-voz da polícia sul-sudanesa, afirmou à Associated Press que nenhum migrante deportado havia entrado no país e que, se chegassem, seriam investigados e possivelmente “redeportados” por não serem cidadãos locais.
Violação de Ordens Judiciais
A deportação foi considerada uma afronta direta a uma ordem judicial do juiz federal Brian E. Murphy, que exigia que migrantes tivessem a chance de contestar remoções para países terceiros, especialmente para locais de alto risco como o Sudão do Sul. Em um comunicado contundente, o juiz classificou a ação do DHS como “inquestionavelmente violatória”.
Organizações como a ACLU e advogados de imigração denunciaram que a medida desrespeita o princípio de “non-refoulement”, um pilar do direito internacional que proíbe devolver pessoas a locais onde possam enfrentar perseguição, tortura ou morte.
Tricia McLaughlin, assistente do secretário de Segurança Interna, defendeu a deportação, alegando que os indivíduos representavam uma ameaça à segurança pública nos EUA . Contudo, a escolha do Sudão do Sul como destino levanta suspeitas. Por que enviar migrantes de países tão diversos para um local sem infraestrutura para reintegração? E por que ignorar uma ordem judicial explícita?
O Contexto do Sudão do Sul
O Sudão do Sul, independente desde 2011, enfrenta uma crise humanitária crônica. Com uma economia devastada, violência interétnica e mais de 2 milhões de refugiados fora do país, é um destino improvável para deportações. A ideia de que migrantes de Cuba, Laos ou Vietnã possam ser reintegrados em um ambiente tão hostil parece, no mínimo, impraticável.
Para Dian Peter Domach, o único sul-sudanês do grupo, o retorno ao seu país de origem já seria desafiador, mas para os outros sete, a chegada a um lugar tão distante de suas raízes culturais e históricas deve ter sido desorientadora, se de fato ocorreu.
A comunidade internacional e defensores dos direitos humanos expressaram indignação. “Essa deportação é um descaso com a segurança e a dignidade humana”, afirmou um representante da Human Rights Watch em entrevista à Associated Press nessa quarta-feira, 21. A falta de transparência do DHS sobre o destino final dos deportados alimenta especulações. O departamento sugeriu que o Sudão do Sul poderia não ser o ponto final, mas não forneceu detalhes sobre para onde os migrantes seriam levados, caso não permanecessem em Juba.
Enquanto isso, a linguagem sensacionalista do DHS que rotulou os deportados como “indivíduos bárbaros que nem pais do mundo aceitaria”, reflete o tom polarizado do debate sobre imigração nos EUA. Embora os crimes atribuídos aos migrantes sejam graves, a ausência de informações detalhadas sobre seus casos e o desrespeito a ordens judiciais levantam questões sobre a legitimidade do processo.
O Que Vem a Seguir?
A deportação para o Sudão do Sul permanece envolta em mistério e controvérsia. O DHS enfrenta pressão para explicar suas ações, enquanto advogados planejam contestar a violação judicial. Para os deportados, o futuro é incerto: se realmente estão no Sudão do Sul, enfrentam um ambiente de extrema precariedade; se foram redirecionados, ninguém sabe para onde.
O caso destaca as tensões entre políticas de imigração e a forma como a atual administração tem tratado os migrantes. Em meio a tantas controvérsias uma pergunta presisa ser respondida: como o DHS justifica enviar pessoas para um dos lugares mais instáveis do planeta?
We conducted a deportation flight from Texas to remove some of the most barbaric, violent individuals illegally in the United States.
No country on earth wanted to accept them because their crimes are so uniquely monstrous and barbaric.
— Homeland Security (@DHSgov) May 21, 2025