FOLHAPRESS – Cerca de 20 funcionários do Departamento de Estado que atuavam na embaixada americana em Cabul enviaram em 13 julho um memorando interno para o secretário Antony Blinken e outra alta autoridade da pasta alertando sobre o potencial colapso da capital afegã logo após 31 de agosto, prazo para a retirada das tropas dos EUA.
A informação foi publicada pelo jornal americano The Wall Street Journal com base em relatos de uma autoridade americana e uma pessoa familiarizada com o telegrama da representação diplomática.
O memorando, enviado pelo canal confidencial do Departamento de Estado, alertava sobre o ganho rápido de território pelo Talibã e a queda subsequente das forças de segurança afegãs. O informe trazia ainda recomendações de como mitigar a crise e acelerar a evacuação, segundo o veículo, e pedia que a pasta usasse uma linguagem mais dura para descrever as atrocidades cometidas pelo grupo extremista.
Em maio já surgiam relatos de combatentes cercando postos militares na zona rural, deixando como opção para as lideranças dos vilarejos a rendição ou a morte.
O conteúdo do telegrama vem à tona após o chefe do Estado-Maior dos EUA, Mark Milley, afirmar, nesta quarta (18), que relatórios de inteligência não indicavam que a queda do governo do Afeganistão com o avanço do Talibã se daria tão rapidamente.
“Não havia nada que eu ou qualquer outra pessoa tenha visto que indicava um colapso do Exército e do governo em 11 dias”, disse o general, em entrevista coletiva ao lado do secretário de Defesa, Lloyd Austin -a primeira dos dois desde que o grupo fundamentalista islâmico voltou ao poder.
Reportagem do jornal americano The New York Times, no entanto, apontou que órgãos de inteligência previram que, se o grupo fundamentalista tomasse cidades, um colapso em cascata poderia ocorrer rapidamente e as forças de segurança afegãs corriam alto risco de se desintegrarem. Em público, no entanto, o presidente Joe Biden dizia ser improvável que isso acontecesse com tanta rapidez.
Em julho, os relatórios questionavam se o governo afegão poderia manter a capital. No dia 8 daquele mês, Biden disse que a queda era improvável e que não haveria evacuação caótica de americanos, como no fim da Guerra do Vietnã.
A saída dos aviões do aeroporto da capital após a tomada do poder no domingo (15) foi, porém, marcada por pessoas desesperadas tentando embarcar e aeronaves com centenas a bordo. Ao menos 7 morreram, e a confusão continuou nesta quarta, com 17 feridos.
As advertências levantam questões sobre a razão de os membros do governo democrata e os planejadores militares no Afeganistão parecerem despreparados para lidar com o avanço final do Talibã sobre Cabul, incluindo o fracasso em garantir a segurança no aeroporto e em enviar mais milhares de soldados de volta ao país para proteger a retirada final dos EUA.