JSNEWS – Entre os dias 4 e 6 de julho de 2025, chuvas torrenciais desencadearam enchentes (cabeças d’água) devastadoras na região de Texas Hill Country, no centro-sul do Texas, Estados Unidos, deixando pelo menos 82 mortos, incluindo 28 crianças, e 10 meninas e uma monitora desaparecidas.
O Rio Guadalupe, um dos principais cursos d’água da região, subiu 9 metros em apenas duas horas, destruindo casas, carros e infraestruturas, com o acampamento de verão cristão Camp Mystic, no Condado de Kerr, sendo o epicentro da tragédia.
As chuvas, que acumularam até 38 cm em poucas horas, foram causadas por uma frente de tempestades severas aliada à umidade remanescente da tempestade tropical Barry. A topografia rochosa e íngreme de Texas Hill Country, com solos de baixa permeabilidade, canalizou a água diretamente para o Rio Guadalupe, provocando uma enchente (cabeça d’água) que elevou o nível do rio de 2,1 metros para 8,8 metros em menos de 45 minutos, em Hunt. Esse evento, classificado como uma enchente (cabeça d’água) de “1000 anos” pelo Serviço Nacional de Meteorologia (NWS), superou a cheia de 1987, a segunda pior da região.
O Condado de Kerr registrou 68 mortes, sendo 28 crianças. Outras vítimas foram confirmadas em Travis (quatro), Burnet (duas), Kendall (uma) e Tom Green (uma). No Camp Mystic, fundado em 1926 e que abrigava cerca de 750 meninas, as cabanas próximas ao rio foram inundadas às 1h30 da madrugada de sexta-feira (4), surpreendendo as crianças durante o sono. Elinor Lester, uma campista de 13 anos, descreveu o caos: “Acordei com trovões e a água batendo nas paredes. As meninas menores correram morro acima, algumas descalças, no escuro. Pela manhã, não tínhamos comida, luz ou água.” Ela foi resgatada de helicóptero.
As operações de busca e resgate, que já salvaram mais de 850 pessoas, seguem intensas com helicópteros, drones, nadadores de resgate e veículos militares. O governador Greg Abbott visitou o Camp Mystic no domingo (6) e prometeu: “Não vamos parar até encontrar cada menina que estava naquelas cabanas.” O presidente Donald Trump assinou uma declaração de emergência, garantindo ajuda federal, e afirmou: “Melania e eu estamos rezando pelas famílias.” O vice-governador Dan Patrick pediu orações e reforçou o compromisso com as buscas.
Falhas nos Alertas e Lições do Passado
O NWS emitiu alertas de enchente (cabeça d’água) na quinta-feira (3), mas a magnitude do evento superou as previsões. A AccuWeather alega ter emitido um alerta de “enchente iminente” 30 minutos antes do NWS, mas a falta de ações preventivas por autoridades locais e organizadores de acampamentos contribuiu para a tragédia.
A secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, criticou o sistema de alertas como “antiquado”, enquanto cortes na NOAA, promovidos pelo governo Trump, são apontados como um fator que comprometeu a resposta.
Texas Hill Country, conhecida como “Flash Flood Alley” (Corredor de Enchentes Repentinas), tem um histórico de enchentes (cabeças d’água) letais, como em 1987 (10 mortos), 1998 (31 mortos) e 2015 (13 mortos no Rio Blanco). A geografia local, com vales estreitos e solos rochosos, amplifica o risco. “A água não penetra no solo; ela escorre rápido pelos morros”, explicou Austin Dickson, da Community Foundation of the Texas Hill Country.
Enchentes (cabeças d’água) como a do Rio Guadalupe não são exclusivas do Texas. Em outros lugares, como nas serras do Brasil, rios tranquilos podem se transformar em minutos, levando vidas e deixando cicatrizes emocionais em quem presencia amigos ou entes queridos sendo arrastados pela correnteza. Essas tragédias, muitas vezes sem aviso, reforçam a fragilidade humana diante da natureza e a necessidade de sistemas de alerta mais eficazes para proteger comunidades em áreas vulneráveis.
As buscas continuam sob ameaça de novas chuvas com acumulados de até 25 cm. O solo saturado e os rios ainda cheios aumentam o risco de novas enchentes (cabeças d’água). Milhares estão sem energia, e danos em estradas e telecomunicações dificultam os resgates. A tragédia lembra desastres como o do Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul, em 2023, onde o Rio Taquari subiu quase 30 metros em minutos, ou em areas da Serra do Mar no estado do Paraná.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva expressou condolências, destacando a gravidade do ocorrido. Enquanto as equipes trabalham incansavelmente. As próximas horas serão cruciais para localizar as meninas desaparecidas e avaliar o impacto total de um dos piores desastres naturais da história recente do Texas.