RFI – Os ministérios de Relações Exteriores e da Saúde da Dinamarca informaram nesta sexta-feira (6) que 214 trabalhadores de fazendas de vison – animal utilizado na indústria de peles – tiveram variantes da Covid-19 transmitidos pelos animais.
Diante dos riscos que essa mutação representa, as autoridades da Dinamarca ordenaram na quarta-feira (4) a exterminação dos 17 milhões de visons do país. Um lockdown também foi decretado em sete municípios no entorno das criações dos pequenos mamíferos.
A quarentena decidida pelo governo da primeira-ministra Mette Frederiksen, do partido Social Democrata, entrou em vigor na noite de quinta-feira (5) e afeta 280 mil moradores da região da Jutlândia do Norte, onde ficam os municípios de Hjørring, Frederikshavn, Brønderslev, Læsø, Thisted, Vesthimmerland e Jammerbugt. Em princípio, a medida ficará em vigor até 3 de dezembro.
As autoridades de saúde da Dinamarca temem que a mutação do coronavírus identificada nos visons, batizada de “cluster 5” pelos virologistas, possa ser resistente a uma vacina.
Entre junho e setembro, apenas 12 pessoas foram contaminadas por essa nova forma do vírus, segundo Tyra Grave, chefe do Departamento de Doenças Infecciosas e Prevenção de Epidemias. Mas com a multiplicação das variantes da Covid-19 entre trabalhadores das fazendas, o governo preferiu adotar uma quarentena ampla enquanto pesquisadores analisam o novo fenômeno.
Entre as medidas de restrição na Jutlândia do Norte estão o fechamento de escolas, a paralisação temporária dos transportes públicos que ligam essa região ao resto da Dinamarca, fechamento de bares, restaurantes e centros de lazer. Os funcionários de empresas da região também foram aconselhados a trabalhar em home office. Além disso, todos os residentes afetados pelo lockdown devem realizar o teste de diagnóstico da Covid-19.
Em coletiva nesta sexta-feira, o diretor-geral da Autoridade de Saúde na Dinamarca, Soren Brøstøm, disse que “matar os animais não era uma decisão que queríamos tomar, mas era necessária”. Todos os 17 milhões de visons do país serão exterminados nas próximas semanas, de acordo com Nikolas Hove, chefe do Departamento de Crise Veterinária na Dinamarca.
“O número de pacientes internados quase dobrou na Jutlândia do Norte na semana passada, passando de 14 para 26 internações”, destacou o ministro da Saúde, Magnus Heunicke.
De acordo com o Conselho Nacional de Saúde (State Serum Institute), uma investigação médica demonstrou que a mutação “cluster 5” poderia atrapalhar a conclusão dos projetos de vacina contra a Covid-19, vários deles em estágio avançado de ensaios clínicos.
“O pior cenário é a ocorrência de uma nova pandemia na Dinamarca. Existe o risco de que essa mutação seja tão diferente que teríamos que colocar novos componentes na vacina, o que poderia levar o mundo inteiro ao início de uma nova pandemia”, explicou Kåre Mølbak, especialista em vacinas e diretor do Conselho Nacional de Saúde da Dinamarca.
De acordo com Lars Østergaard, especialista em virologia no hospital da Universidade de Aarhus, a razão pela qual o vison pode ter se tornado um hospedeiro de mutação do coronavírus é que esses mamíferos são criados muito próximos uns dos outros. Essa falta de espaço facilita a transmissão de novas variantes de coronavírus.
“Cães e gatos são animais que temos conosco individualmente, então não existe o mesmo risco. Mas novas variantes de vírus estão surgindo constantemente, e podem se espalhar”, analisou o virologista em entrevista a uma emissora de TV dinamarquesa.
Na Dinamarca, o vison é a terceira maior fonte de exportação do país e é responsável pela produção de 40% das peles do mundo. De acordo com o Ministério da Agricultura dinamarquês, a matança de 17 milhões de visons, nas mais de 1.000 fazendas de produção desse animal em todo país, vai custar aos cofres públicos cerca 5 bilhões de coroas dinamarquesas, aproximadamente 4,4 bilhões de reais.
A produção de vison, que é usada para a fabricação de casacos de pele, bolsas e na indústria da beleza, teve início na Dinamarca durante os anos de 1930, quando agricultores do país procuravam novas maneiras de ganhar dinheiro, impactados pela Grande Depressão americana.
Os animais, provenientes da América do Norte, encontraram no país europeu invernos amenos e verões sem altas temperaturas, o que favoreceu o crescimento desse mercado. No ano passado, os criadores faturaram quase 4,9 bilhões de coroas dinamarquesas (R$ 4,3 bilhões). Essa produção emprega cerca de 6 mil pessoas.
De acordo com Per Thyrrestrup, que representa os criadores de visons dinamarqueses, uma manifestação com mais de 200 fazendeiros está prevista para esta sexta-feira (6) na cidade de Holstebro. O objetivo é exigir do governo explicações claras sobre como será o trabalho deles quando todos os visons na Dinamarca forem mortos.
“Nosso questionamento ao governo, depois de sacrificar os visons, é saber quando tomarão a decisão sobre o futuro dos nossos negócios’’, diz Per Thyrrestrup.