JCEDitores – Em fevereiro de 2025, Elon Musk declarou no podcast The Joe Rogan Experience que a Previdência Social dos Estados Unidos é “o maior esquema Ponzi de todos os tempos”, comparando-a a uma pirâmide financeira insustentável. A afirmação, à primeira vista, parece exagerada, mas uma análise detalhada, incluindo exemplos internacionais, sugere que Musk identifica uma crise estrutural real.
Um esquema Ponzi é um tipo de fraude financeira em que alguém promete lucros altos para atrair investidores, mas, em vez de gerar ganhos reais com negócios ou investimentos, usa o dinheiro dos novos participantes para pagar os antigos. O esquema funciona enquanto mais pessoas entram, mas desmorona quando não há novos “investidores” suficientes, deixando a maioria sem retorno. Semelhante a pirâmide: quem está no topo pode ganhar, mas a base, que sustenta tudo, acaba sendo prejudicada. Musk usa essa analogia para sugerir que a Previdência Social segue uma lógica semelhante, dependendo de um fluxo constante da adesão de novos contribuintes.
Para aqueles que argumentam contra a fala de Musk em defesa da Previdência Social americana, instituída em 1935, alegando que ela não se assemelha a um esquema Ponzi em sua essência, uma vez que esse esquema é uma fraude intencional que promete lucros fictícios, pagando investidores antigos com o dinheiro de novos até colapsar.
Já o Social Security é um programa público financiado por um imposto sobre a folha de pagamento onde as contribuições atuais pagam os benefícios atuais, com excedentes em fundos fiduciários. Diferente de um Ponzi, é transparente, legal e ajustável – como em 1983, quando o Congresso elevou a idade de aposentadoria. A Administração da Seguridade Social (SSA) relata fraudes mínimas (0,84% dos pagamentos entre 2015 e 2022), e especialistas como Christina Benson, da Elon University, afirmam que “não é uma fraude, mas um sistema reformável”. Assim, para os críticos a fala de Musk a analogia feita por ele é imprecisa.
Uma visão dos sistemas de aposentadoria publica global expõe certas vulnerabilidades que parece estar de acordo com a crítica de Musk.
- No Brasil, o déficit do INSS atingiu R$ 317 bilhões em 2023 (3% do PIB), segundo o Tesouro Nacional, com uma proporção de 1,7 trabalhador por beneficiário e expectativa de vida de 77 anos. A reforma de 2019 elevou a idade mínima, mas o sistema segue dependente de aportes fiscais.
- Na Europa, a Itália gasta 16% do PIB em pensões, com 23% da população acima de 65 anos, projetando um déficit de € 50 bilhões até 2035. A França, com sua reforma contestada de 2023 (idade de 62 para 64), prevê gastos previdenciários de 14% do PIB até 2050, per Conseil d’Orientation des Retraites.
- Outros exemplos agravam o quadro. No Japão, com 29% da população acima de 65 anos (Statistics Bureau, 2024), o sistema previdenciário consome 11% do PIB, e o déficit cresce com uma taxa de natalidade de 1,3 filho por mulher.
- Na Alemanha, o envelhecimento (21% acima de 65 anos) e a queda na natalidade (1,5 filho por mulher) pressionam o sistema que projeta déficits crescentes até 2040, segundo o Deutsche Rentenversicherung.
- Na Argentina, a capitalização parcial dos anos 1990 fracassou, levando à reestatização em 2008 devido a benefícios insuficientes, conforme relatório da OIT. Esses casos ilustram sistemas dependentes de uma base contributiva em declínio, um traço que Musk associa a pirâmides financeiras.
Nos EUA, o relatório da SSA de 2024 prevê que os fundos fiduciários se esgotarão em 2035, cobrindo apenas 79% dos benefícios. A proporção de trabalhadores por beneficiário caiu de 5,1 em 1960 para 2,7 em 2025, rumo a 2,1 em 2040. Isso reflete a lógica de um Ponzi: o sistema depende de novos “investidores” (trabalhadores) para pagar os “retornos” (benefícios), e, quando a base encolhe, o colapso aparece.
As obrigações futuras (US$ 22,4 trilhões até 2097) superam as receitas projetadas, e enquanto isso a resistência política as reformas agrava o problema.
Globalmente, o padrão se repete: Japão, Alemanha e Itália enfrentam déficits porque menos trabalhadores sustentam mais aposentados, enquanto ajustes são adiados ou insuficientes. A Argentina mostra que até modelos alternativos (capitalização) podem falhar sem uma base demográfica sólida. Embora a Previdência Social não seja uma fraude, sua dependência de um fluxo contínuo de contribuições, em um contexto de envelhecimento populacional e natalidade baixa, a torna estruturalmente insustentável sem mudanças drásticas – um ponto que Musk capta ao usar o termo “Ponzi”.
A crítica de Musk pode parecer exagerada frente à legalidade e de possíveis ajustes que podem ser implementadas no sistema previdenciário. Contudo, exemplos dos EUA, Brasil, Europa, Japão e Argentina revelam uma crise comum: o sistema colapsa quando a demografia falha, assemelhando-se à dinâmica de um Ponzi. Musk acerta ao destacar essa insustentabilidade, instando o leitor a reconhecer que, sem reformas profundas, esses programas estão em uma trajetória de falência – não por dolo, mas por design obsoleto frente às realidades do século XXI.