AFP – Os Estados Unidos organizam os últimos preparativos para a chegada de milhares de imigrantes no país, uma vez que expira na sexta-feira (12) o Título 42, medida instituída por Trump durante a pandemia que permitia a expulsão imediata de viajantes irregulares que entravam em território americano.
E um possível aumento de imigrantes deixaria ainda mais abertas as profundas divisões nesse país fundado sobre as promessas de segurança e refúgio, mas onde a preocupação com a imigração ilegal torna incerta sua acolhida.
Muitos dos que conseguem escapar da crise econômica e política nos seus países já cruzaram a fronteira. Frustrados pela falta de opções legais, alguns se infiltraram na longa fronteira de 3.100 quilômetros que separa o país mais rico do mundo do seu vizinho do sul.
As cidades texanas de El Paso, Brownsville e Laredo declararam estado de emergência e lidam como podem com centenas de pessoas, a maioria da América Latina, e outras da China, Rússia e Turquia.
Em El Paso, alguns migrantes dormem nas ruas, se protegem do sol com mantas ou descansam sobre papelões. Menores imundos pedem esmolas.
O prefeito da cidade, Oscar Leeser, advertiu que seus oficiais se preparam para a chegada de muitos mais na sexta-feira, após uma recente visita à cidade mexicana vizinha de Ciudad Juárez.
“Na rua, calculamos (que havia) entre 8.000 e 10.000 pessoas”, disse. “Há uma caravana…que provavelmente estará aqui por volta de 11 de maio, por isso que eu digo que o número real com o qual estaremos lidando será de entre 12.000 e 15.000”.
Título 42
O Título 42 expira na quinta às 23:59 no horário de Washington (00:59, no horário de Brasília).
Essa regra, ativada durante o mandato do ex-presidente republicano Donald Trump, com o suposto objetivo de prevenir a entrada de pessoas com covid-19 no país, serviu na prática para expulsar rapidamente imigrantes, sem ter que aceitar suas solicitações de asilo.
Com sua expiração, os migrantes poderão apresentar novamente solicitações de asilo pela via judicial, um processo que pode demorar anos.
A administração do presidente democrata Joe Biden está sob forte pressão do Partido Republicano, que reclama que a fronteira está pouco controlada. Alguns membros desse partido conservador preveem a chegada de um milhão de pessoas pela fronteira nos próximos três meses.
E a 18 meses da eleição presidencial, onde a migração costuma ser um tema que gera discórdia, Biden espera que as novas regras ajudem a frear o fluxo na fronteira, para onde enviou 1.500 soldados a mais para ajudar em tarefas administrativas como entrada de dados.
Suspenso o Título 42, se seguirá usando o Título 8, com o qual se permite solicitar asilo, desde que a pessoa prove que será perseguida ou torturada caso retorne ao seu país, mas também autoriza a deportação acelerada dos demais. A normativa também prevê que sejam proibidos de entrar por cinco anos, uma vez expulsos.
O governador republicano do Texas, Greg Abbott, lamentou na segunda-feira (8) que o governo “ponha o carpete de boas-vindas para pessoas de todo o mundo” e ordenou o envio de centenas de soldados texanos para a fronteira, “para ajudar a interceptar e repelir” imigrantes que tentem entrar no Texas.
Aplicativo para celular
Em uma tentativa de prevenir chegadas multitudinárias pela fronteira, o governo Biden criou novas regras que estimulam os imigrantes a solicitar consultas para os seus pedidos de asilo por um aplicativo de celular.
Porém, os que se encontram em Ciudad Juárez reclamam que o aplicativo CBP One não funciona direito.
Frustrados, alguns decidiram se entregar para a patrulha fronteiriça americana em uma das passagens.
“Vêm e nos dizem que vão nos receber, mas nunca voltam”, se queixou Marjorie, uma venezuelana, mãe de duas crianças de 2 e 5 anos. “Dizem para mantermos a calma, para esperarmos aqui, mas nunca voltam. Não sabemos por que”.
Além desse aplicativo, há vários meses, há um número limitado de venezuelanos, cubanos, haitianos e nicaraguenses que podem solicitar asilo, mas são apenas 30.000 vagas por mês e sob condições. Bem menos dos que buscam fugir de seus países em crise.
Para o prefeito de El Paso, essas são soluções temporárias.
“As leis federais de imigração não funcionam”, afirma Leeser. “Não há fim. Não há fim para isso e realmente temos que averiguar para onde nos dirigimos”.