Da Redação – A influenciadora brasileira Katiuscia Torres Soares, mais conhecida como Kat Torres, foi condenada a oito anos de prisão, pela Justiça do Rio de Janeiro, por submeter a também brasileira Desirrê Freitas a tráfico humano e condições análogas à escravidão, nos Estados Unidos. A life coach está presa em Bangu, desde novembro de 2022, após ser detida no estado de Maine e deportada ao Brasil, por autoridades norte-americanas.
A sentença da guru espiritual foi proferida em 28 e junho deste ano, pelo Marcelo Luzio Marques Araújo, da 10ª Vara Federal fluminense, mas só foi divulgada nesse domingo (14), em documentário da BBC. Na decisão, o magistrado concluiu que Kat Torres atraiu a vítima para os EUA para fins de exploração sexual.
Apesar de condenada pelo caso de Desirrê, a influenciadora é apontada como suspeita por mais de 20 outras mulheres, que denunciam que foram exploradas. Uma investigação sobre os casos está em curso, conforme a reportagem.
O advogado de Kat, Rodrigo Menezes, afirma que recorreu da condenação e insistiu que ela é inocente. Em abril deste ano, antes de sair a sentença, a influenciadora negou todas as acusações. “Tive crises e mais crises de riso com tanta mentira que escutei. Todo mundo na sala podia ver que as testemunhas estavam mentindo”, disse à BBC na época.
VÍTIMA NARRA SUA HISTÓRIA EM LIVRO
Na obra “@searchingDesirrê — Minha jornada pela liberdade”, a vítima de Kat Torres relatou em detalhes sobre a rotina de exploração sexual, violência física e manipulação que vivenciou.
Segundo Desirrê, ela começou a seguir a página de Kat Torres em 2016, quando tinha 20 anos. A primeira consulta com a guru espiritual, segundo a jovem, ocorreu dois anos depois, em 2018.
A autora morava na Alemanha e foi ao encontro de Kat nos Estados Unidos. Ela descreveu que foi obrigada a se prostituir em stripclubs e a se relacionar sexualmente com membros da elite americana, clientes da guru. A clientela de Katiuscia era formada por atletas famosos, empresários, políticos, produtores de Hollywood.
A jovem ainda descreve que foi forçada a tirar o método contraceptivo para engravidar de um cliente milionário. “[Kat] me convenceu a tirar o DIU para engravidar dele. Depois, ela mudou de ideia, mas eu já tinha tirado e não pude parar de trabalhar em nenhum momento. Por conta disso, peguei uma infecção, fiquei doente, tive que tomar antibiótico”, relembrou em entrevista ao jornal O Globo, em outubro do ano passado.
Desirrê descreveu ainda que teve que usar drogas a mando da guru para satisfazer clientes. “Ela me forçava a fazer tudo o que os clientes queriam para arrecadar mais dinheiro. Inclusive com uso de drogas. Tive que usar cocaína por várias vezes”, afirmou.
RETORNO AO BRASIL
Quando as investigações vieram a tona, Desirrê não se considerava vítima, no primeiro momento. Hoje, no Brasil, ela relata que ainda visa entender o que ocorreu e o trauma que passou.
“Negava que era vítima, neguei por muito tempo, e depois foi um processo para entender que havia sido vítima de manipulação. Fui vendo que não foi algo da noite para o dia, foram anos, tudo planejado por ela. Quanto mais eu fui escrevendo o livro, mais eu fui entendendo. Chorei bastante escrevendo”, descreveu ao veículo na época.
A jovem segue com esperança justiça seja feita. “Isso não está nas minhas mãos, está nas mãos da Justiça brasileira. O que eu puder fazer para ajudar como alerta de forma pública ou com as investigações, eu vou fazer”, concluiu.