O ex-secretário de Comunicação do governo Bolsonaro, Fabio Wajngarten, contradisse falas dadas à Revista Veja para a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid e irritou senadores, que suspeitaram que ele poderia estar mentindo. Estes levantaram até a possibilidade de prisão para o ex-secretário.
Wajngarten acusou a equipe comandada pelo ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello de “incompetência” e “ineficiência” na aquisição de vacinas contra o coronavírus. As declarações foram publicadas em 22 de abril, em entrevista à revista Veja.
Perguntado pelo relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), o publicitário não respondeu de forma clara e disse que não falou de Pazuello e sim da burocracia do governo. A falta de objetividade irritou o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM).
“Você chamou o Pazuello de incompetente na revista; você disse que a Pfizer tinha 5 escritórios de advocacia e o Governo não tinha, estava perdido. Essa é a única razão. Ninguém nem chamaria o senhor aqui. Não chamaria, não tinha por que chamá-lo. Então, o Senador Renan está sendo muito claro….Por favor, não menospreze a nossa inteligência. Ninguém é imbecil”, disse Aziz.
Aziz disse que Wajngarten só foi convocado a falar à CPI por conta da entrevista concedida à Veja, que se não fosse isso ele nem seria lembrado. O senador decidiu suspender a reunião por 5 minutos para que o ex-secretário fosse orientado por seu advogado e voltasse respondendo com mais objetividade.
“Sr. Fabio Wajngarten, com todo respeito que o senhor merece aqui na Comissão: se vossa excelência não for objetivo nas suas respostas, nós iremos dispensá-lo desta Comissão, pediremos à revista Veja que mande a degravação, e o convocaremos de novo, mas já não mais como testemunha e, sim, como investigado.”
A reunião foi retomada, o publicitário respondeu ao fim das perguntas de Renan, mas ainda sob reclamações dos senadores. A CPI decidiu pedir ainda nesta quarta-feira o áudio da entrevista dada à revista. O relator declarou que, em caso de mentira da testemunha, seria o caso de prisão.
“Eu queria sugerir a vossa excelência requisitar o áudio da revista Veja para nós verificarmos se o secretário mentiu ou não mentiu. Se ele não mentiu, a revista Veja vai ter que pedir desculpas a ele. Se ele mentiu, terá desprestigiado e mentido ao Congresso, o que é um péssimo exemplo. Se ele mentiu a revista Veja e a esta comissão, vou requerer a vossa excelência, na forma da legislação processual, a prisão do depoente”, disse Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Covid .
As testemunhas chamadas para depor na CPI têm o dever de falarem somente a verdade. Já investigados têm o direito de não responderem a perguntas. Wajngarten foi convocado como testemunha.
Carta enviada pela Pfizer ficou parada por 2 meses
Wajngarten também confirmou que uma carta enviada pela Pfizer e endereçada ao governo ficou dois meses parada. No documento, a farmacêutica pedia ao governo brasileiro celeridade nas negociações e manifestava interesse em colaborar com o Brasil.
Na entrevista à “Veja“, Wajngarten isentou Bolsonaro de responsabilidades pela lentidão no processo de compra de vacinas contra a covid e atribuiu a culpa ao Ministério da Saúde, então comandado pelo general Pazuello, que também será ouvido pela CPI, na semana que vem.
“O presidente está totalmente eximido de qualquer responsabilidade nesse sentido. Se as coisas não aconteceram, não foi por culpa do Planalto. Ele era abastecido com informações erradas, não sei se por dolo, incompetência ou as duas coisas.”
Para o publicitário, o ministério só não efetivou a compra de imunizantes de milhões de doses da vacina da Pfizer —uma das críticas que levaram à queda de Pazuello— por “incompetência e ineficiência”. Wajngarten evitou, no entanto, fazer uma menção direta ao general: “Estou me referindo à equipe que gerenciava o Ministério da Saúde nesse período”. “Quando você tem um laboratório americano com cinco escritórios de advocacia apoiando uma negociação que envolve cifras milionárias e do outro lado um time pequeno, tímido sem experiência, é isso que acontece.”